Como Deus Ama o Seu Povo

João 3:16 é, sem dúvida, um dos versículos mais centrais de toda a Escritura Sagrada:
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
Escrito originalmente em grego, esse versículo não apenas resume o coração do Evangelho, mas revela o centro da narrativa bíblica: o amor eterno, sacrificial e redentor de Deus pela humanidade. Esse amor não é passageiro, nem condicionado a méritos humanos; é um amor que brota do próprio caráter de Deus, imutável e fiel.

Mas o que significa esse amor divino em sua essência? Em que consiste esse amor piedoso, que move o Criador a entregar o mais precioso — Seu próprio Filho — por criaturas falhas? Para compreendermos essa dimensão, precisamos retornar às raízes do texto sagrado, à Bíblia Hebraica, onde encontramos o fundamento da linguagem do amor divino.

O Amor em Hebraico: Ahav (אהב)

No hebraico bíblico, a palavra mais comumente usada para "amor" é אַהֵב (ahav). Diferentemente do conceito moderno de amor, frequentemente associado a emoções volúveis ou à paixão romântica, ahav carrega um significado mais profundo, duradouro e relacional. Ele implica ação, compromisso e, acima de tudo, fidelidade.

Esse amor não se limita ao sentimento; ele se manifesta na prática diária da aliança. Amar, segundo as Escrituras, é manter-se fiel, obediente e dedicado àquele com quem se está em pacto. Por isso, quando lemos em Deuteronômio 6:5:
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças",
não se trata de um convite emocional, mas de um chamado à lealdade total.

Amar a Deus significa viver em aliança com Ele, guardando Seus mandamentos, confiando em Sua Palavra e entregando-Lhe a vida com integridade, mesmo que isso implique renúncias. Esse tipo de amor é resistente, perseverante e firme. Não é movido por circunstâncias, mas por convicção.

O Amor de Deus no Antigo Testamento

Esse amor também se revela em palavras como hesed (חֶסֶד) — traduzida muitas vezes como "misericórdia", "bondade" ou "amor leal". Hesed é o amor da aliança, da compaixão ativa de Deus por Seu povo, especialmente quando este se mostra infiel. O profeta Jeremias expressa essa constância ao afirmar:
"Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí." (Jeremias 31:3)

O amor de Deus não é apenas um sentimento elevado — é uma decisão divina de permanecer fiel ao pacto com Seu povo, mesmo diante do pecado e da rebeldia. Ele age, intervém na história, corrige com justiça e sustenta com graça.

O Amor na Prática: Lealdade ao Senhor

Assim, quando falamos do amor de Deus e do amor que devemos a Ele, não estamos tratando apenas de afetos, mas de fidelidade mútua. Deus ama com fidelidade inabalável, e espera de Seu povo uma resposta semelhante:
um amor que se traduz em obediência, adoração sincera, temor reverente e confiança constante.

Nos tempos antigos, os israelitas compreendiam que amar a Deus significava caminhar com Ele, guardar Sua Torá, e viver como povo separado para o Seu nome. A fé era vivida em ações — em justiça, bondade, hospitalidade e no ensino constante da verdade de geração em geração.

Conclusão

O amor de Deus é o fio que costura toda a Escritura — do Gênesis ao Apocalipse. É um amor que cria, que sustenta, que redime. Em hebraico, esse amor não se mede por sentimentos passageiros, mas por compromisso e ação fiel. Ao compreendermos isso, podemos responder ao chamado de Deuteronômio 6:5 com o coração inteiro:
não apenas sentindo amor por Deus, mas vivendo esse amor com toda nossa vida, com fidelidade, coragem e devoção.

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