Nem toda ajuda vem do céu



“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.”
Tiago 1:2-4 | ARA

A jornada da vida cristã pode ser comparada a um longo caminho chamado “processo”. Um processo que não é aleatório, mas divinamente planejado para nos moldar à imagem do Filho. Ao longo dessa caminhada, o Espírito Santo vai trabalhando em nós: aperfeiçoando aquilo que já é bom e corrigindo as áreas afetadas pelo pecado. Nada se perde nas mãos do Oleiro — até nossas dores e falhas tornam-se matéria-prima para algo novo.

Jesus, nosso Mestre e Referência perfeita, venceu o mundo. E nós, que estamos n’Ele, somos mais do que vencedores. No entanto, não existe vencedor sem batalha. Cada vitória implica um desafio enfrentado, uma etapa superada, uma fé provada. É nesse processo que a perseverança se desenvolve, e ela, por sua vez, nos conduz à maturidade espiritual. Quando nos colocamos como discípulos de Cristo, reconhecemos que Ele é manso e humilde de coração, e assim aprendemos com Ele. O Evangelho que Ele viveu é o padrão que a Lei não conseguiu realizar plenamente. Sua vida é o caminho, não apenas o destino.

Na vida cristã, é essencial entender que Deus age em nós e também nos outros. Cada irmão está em uma jornada pessoal, ainda que estejamos indo todos para o mesmo lugar. Por isso, o processo precisa ser respeitado — o nosso e o do outro. Como está escrito: “Assim como o ferro com o ferro se afia, assim o homem, ao seu amigo.” (Provérbios 27:17). Isso nos convida a viver com responsabilidade, lembrando que fazemos parte de um só corpo, e o zelo pelas partes desse corpo deve ser guiado pelo Espírito e não apenas pela emoção ou vontade humana.

Muitas vezes, ao tentar ajudar alguém, podemos ultrapassar os limites do tempo e da forma de Deus. A conhecida história do homem que tentou ajudar uma borboleta a sair do casulo ilustra bem isso: ao evitar o esforço da borboleta, ele impediu o fortalecimento necessário para o voo. Assim também, algumas dores e lutas são instrumentos de Deus para forjar caráter, firmeza e fé em Seus filhos. Interferências mal orientadas podem atrapalhar mais do que ajudar.

O mesmo acontece na formação de filhos. Crianças privadas de esforço e responsabilidade tornam-se adultos imaturos, incapazes de lidar com a vida. Na esfera espiritual, isso também se aplica. Todos precisamos exercitar os “músculos” da fé. Os frutos do Espírito — amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22-23) — não brotam prontos, mas são desenvolvidos à medida que cooperamos com o processo divino.

Como pais, irmãos, líderes ou amigos, nossa tarefa não é acelerar o tempo do outro, mas confiar no agir de Deus. Às vezes, a melhor ajuda é o silêncio, a oração e a espera. Devemos perguntar ao Senhor: “O que queres que eu faça?” E se a resposta for: “Não faça nada, Eu estou cuidando”, então precisamos descansar e crer. Interferir sem direção é risco de tropeço. “O homem que lisonjeia a seu próximo arma uma rede aos seus passos.” (Provérbios 29:5). Nem tudo o que parece justo ou piedoso está alinhado com o tempo e a vontade do Senhor.

“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (Provérbios 25:11). A sabedoria está não apenas em ter a resposta certa, mas em sabê-la aplicar no tempo certo. Uma verdade fora de tempo pode ser descartada ou mal recebida.

Ainda assim, Deus também nos chama a servir com atitudes práticas: oferecer recursos, tempo, consolo, visita, palavras ou até o silêncio amoroso. Mas tudo isso deve nascer da obediência e da intimidade com o Espírito Santo. Servimos a Deus com a força que Ele mesmo provê. Sem a Sua direção, até nossas boas intenções podem se tornar fonte de confusão.

Portanto, nossa boa vontade, por si só, não basta. Precisamos submeter nossa mente à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5). O que é espiritual nem sempre fará sentido à mente natural. A sabedoria de Deus é loucura para o mundo (1 Coríntios 1:18), e muitas vezes, essa resistência está dentro de nós mesmos.

O caminho chamado processo é árduo, mas precioso. É nele que somos moldados à imagem do nosso Salvador. E se estivermos sensíveis à Sua voz, entenderemos que cada passo — seja de dor, espera ou ação — é parte da construção de algo eterno.

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