Coração Rasgado
Há momentos em que dobrar os joelhos não é suficiente. Momentos em que as palavras secam na garganta, a alma silencia, e tudo o que resta é um coração rasgado. Foi assim comigo. Não falo de dor comum. Falo daquela ruptura interior em que todas as estruturas emocionais, espirituais e até doutrinárias se quebram ao mesmo tempo. Onde você já orou, já esperou, já chorou, e ainda assim se vê diante do mesmo vale. A mesma notícia. O mesmo silêncio de Deus.
Eu me vi ali, com o coração nas mãos, tentando oferecer a Deus algo que Ele já conhecia profundamente: minha dor. Mas desta vez, não bastava orar como sempre. Algo em mim precisava se romper.
Em Joel 2:13, está escrito: "Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque Ele é misericordioso, compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade." E foi exatamente isso que Ele me pediu: não um gesto externo, não mais uma liturgia, mas um coração nu, rasgado, exposto diante d’Ele.
Rasgar o coração é diferente de ter o coração partido. Quando alguém nos fere, parte o coração. Mas quando somos nós que, em obediência, abrimos o coração diante de Deus — isso é rasgar. E rasgar dói. Não há controle, não há maquiagem, não há versão melhorada de mim. Só o que sou. E o que fui naquele momento? Uma filha. Uma filha desfeita, mas ainda assim, filha.
Ali, naquele lugar de exposição, o Senhor me encontrou. Não com respostas prontas. Não com um milagre instantâneo. Mas com Sua presença. E foi o bastante. Porque quando o coração é rasgado, Deus entra. Ele não invade corações fechados. Ele se aproxima dos que O buscam em verdade — mesmo que essa verdade esteja chorando no chão.
Hoje entendo que rasgar o coração não é sinal de fraqueza. É sinal de entrega. É confiar tanto em Deus que você não teme mostrar as suas partes mais quebradas. É saber que Ele não rejeita um coração contrito (Salmo 51:17). É se recusar a viver uma fé estética, de fachada. É permitir que a dor cumpra seu papel de nos moldar mais profundamente no caráter de Cristo.
Eu ainda oro. Ainda espero. Mas agora oro sem máscaras. Espero sem barganhas. E quando preciso chorar, choro rasgando. Porque aprendi que um coração rasgado diante de Deus nunca será deixado no chão.
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