Anticristo e a Falsa Ressurreição

A imagem da Besta com uma de suas cabeças como que mortalmente ferida, mas posteriormente curada (Apocalipse 13:3), está carregada de profundos simbolismos teológicos e escatológicos que apontam para uma tentativa de usurpação da glória e do poder do Cordeiro. João, ao descrever esse acontecimento, emprega deliberadamente uma linguagem que remete à morte sacrificial de Jesus Cristo. O paralelo com o Cordeiro, que também pareceu estar morto mas está em pé (Ap 5:6), revela que a Besta tenta imitar o Cordeiro, apresentando-se como uma falsa ressurreição, uma paródia do verdadeiro Messias.

No grego, o termo hos esfagmenein eis thanaton (“como ferida até a morte”) é uma construção usada para indicar algo que parece final, definitivo – uma morte aparente. A Besta, portanto, encena uma pseudo-morte e uma falsa ressurreição, numa grotesca imitação de Cristo. Esse espelhamento reforça o papel da Besta como anticristo, não apenas alguém que se opõe ao Cristo, mas que busca se parecer com Ele, enganar, confundir e seduzir.

A cura da ferida “mortal” impressiona profundamente os habitantes da terra, que ficam “pasmos” (thaumazō, θαυμάζω) diante do fenômeno. Esse espanto não é de fé, mas de fascinação idólatra. É uma resposta de encantamento diante de algo sobrenatural e poderoso, mas sem discernimento espiritual. A terra segue a Besta porque está admirada com sua aparente vitória sobre a morte — um símbolo de invencibilidade que se contrapõe à verdadeira ressurreição do Cordeiro.

A ferida, descrita com o termo pleigei (πληγὴ), que também significa “praga”, indica julgamento divino. Em outras palavras, a ferida foi imposta pelo próprio Deus, como um ato de justiça contra o sistema satânico representado pela Besta. Essa conexão com as pragas também estabelece um elo com o Êxodo, onde Deus julgou os deuses do Egito com sinais e maravilhas, mostrando que Ele tem o controle sobre as forças da opressão.

Nesse contexto, é plausível associar a ferida da cabeça da Besta ao cumprimento de Gênesis 3:15, onde Deus declara que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. A “cabeça” ferida da Besta simboliza essa batalha cósmica entre o descendente da mulher – o Messias – e o descendente da serpente – os sistemas malignos do mundo. A ferida, embora aparentemente curada, é um sinal da derrota iminente da serpente, mesmo que ela ainda se mova com fúria nos últimos tempos.

Em resumo, a imagem da cabeça ferida e curada da Besta é uma encenação satânica da cruz e da ressurreição, usada para enganar as nações. É também um sinal da intervenção divina no curso da história, que expõe a fragilidade do poder da Besta diante do verdadeiro poder do Cordeiro. E ainda que o mundo siga a Besta, os que têm discernimento reconhecem que a ferida é o prenúncio de sua destruição. A imitação da morte e ressurreição de Cristo por parte da Besta serve como uma última tentativa de conquistar corações por meio da mentira, mas o julgamento final revelará quem é o verdadeiro Senhor da vida.

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