Estudo Etimológico da Páscoa e seus Termos
1. A Origem do Termo “Páscoa”
A palavra Páscoa vem do hebraico פֶּסַח (Pésach), que significa "passagem" ou "pular sobre". Esse termo é fundamental na tradição judaico-cristã e aparece pela primeira vez no contexto da libertação dos hebreus do Egito.
Etimologia e Significado
- Raiz Hebraica: O verbo פסח (Pásach) significa "passar por cima", "poupar" ou "saltar". Esse significado está ligado ao evento em Êxodo 12, onde o anjo destruidor "passa" sobre as casas dos hebreus que tinham o sangue do cordeiro nos umbrais, poupando-os do juízo divino.
- Tradução Grega: No período helenístico, a Septuaginta traduziu Pésach como Πάσχα (Páscha), um termo que foi preservado no Novo Testamento e na tradição cristã.
- Latim e Línguas Modernas: O latim adotou Pascha, influenciando termos como Pâques (francês), Pascua (espanhol) e Easter (inglês), embora este último tenha também influências germânicas relacionadas à primavera.
2. Contexto Social, Político e Religioso da Páscoa no Antigo Testamento
A Páscoa foi instituída no contexto do Êxodo, um período de opressão política e social no Egito. Os hebreus eram escravizados e submetidos a trabalhos forçados sob Faraó. A celebração inicial tinha um caráter de urgência e libertação, como demonstram seus elementos:
Elementos Simbólicos da Páscoa Judaica
- Cordeiro Pascal (כֶּבֶשׂ - kéves) – Representava o sacrifício vicário e a proteção divina.
- Pão Ázimo (מַצָּה - matsá) – Símbolo da pressa da fuga do Egito, sem tempo para fermentar o pão.
- Ervas Amargas (מְרוֹרִים - merorím) – Lembravam a amargura da escravidão no Egito.
A festa foi transformada em uma instituição nacional e religiosa, com a ordem de que fosse celebrada anualmente (Êxodo 12:14-20). No período monárquico, a Páscoa tornou-se um evento central no culto de Jerusalém, sendo reformulada por reis como Ezequias (2 Crônicas 30) e Josias (2 Reis 23:21-23).
Influência Política
No tempo dos reis de Israel, a Páscoa fortaleceu a identidade nacional e reafirmou o pacto entre Deus e o povo. Durante o exílio na Babilônia (586 a.C.), sua celebração foi essencial para manter a memória da libertação, o que reforçou a esperança messiânica de um novo Êxodo.
3. A Páscoa no Período do Segundo Templo e no Novo Testamento
Mudanças Sociopolíticas
No período do Segundo Templo (515 a.C. – 70 d.C.), a Páscoa se tornou um evento central na peregrinação a Jerusalém, onde milhares de judeus iam ao Templo oferecer sacrifícios. Esse contexto sociopolítico incluía:
- Domínio Romano: Durante o tempo de Jesus, a Judeia estava sob controle romano, e a Páscoa era um período de alta tensão política porque relembrava a libertação do Egito, algo perigoso para os opressores romanos.
- Expectativa Messiânica: Muitos judeus aguardavam um Messias libertador, e a Páscoa reforçava essa esperança, contribuindo para o contexto das multidões que saudaram Jesus em sua entrada triunfal (Mateus 21:9).
Páscoa e a Última Ceia
No Novo Testamento, Jesus celebra a Páscoa com seus discípulos, instituindo a Nova Aliança:
- Pão (ἄρτος - ártos) – Agora simboliza o "corpo" de Cristo.
- Vinho (οἶνος - oînos) – Representa o "sangue da Nova Aliança", substituindo o cordeiro pascal.
Jesus é chamado de Cordeiro Pascal (ἀμνὸς τοῦ Θεοῦ - Amnós tou Theou) por João Batista (João 1:29), cumprindo o simbolismo do sacrifício da Páscoa judaica.
4. O Desenvolvimento da Páscoa Cristã
Após a ressurreição de Jesus, a Páscoa deixou de ser apenas a celebração do Êxodo e se tornou a comemoração da vitória sobre a morte. No contexto dos primeiros cristãos:
- O termo Πάσχα (Páscha) foi mantido para descrever a ressurreição de Cristo.
- O Domingo da Ressurreição substituiu gradualmente a celebração judaica para os cristãos, enfatizando a nova libertação espiritual.
- O Concílio de Niceia (325 d.C.) definiu a data da Páscoa cristã de maneira independente do calendário judaico.
5. Termos Importantes e Suas Implicações
Aqui estão algumas palavras essenciais para entender a Páscoa nos dois Testamentos:
Palavra | Idioma | Significado | Contexto Bíblico |
---|---|---|---|
פֶּסַח (Pésach) | Hebraico | Páscoa, passagem | Êxodo 12:11-14 |
כֶּבֶשׂ (Kéves) | Hebraico | Cordeiro | Êxodo 12:5 |
מַצָּה (Matsá) | Hebraico | Pão sem fermento | Êxodo 12:15 |
דָּם (Dam) | Hebraico | Sangue | Êxodo 12:7 |
ἀμνός (Amnós) | Grego | Cordeiro | João 1:29 |
Πάσχα (Páscha) | Grego | Páscoa | Mateus 26:17 |
θυσία (Thusía) | Grego | Sacrifício | Hebreus 10:12 |
Conclusão
O estudo etimológico da Páscoa revela que desde o Êxodo até o Novo Testamento, o conceito de libertação, sacrifício e redenção permeia essa celebração. No contexto sociopolítico e religioso, a Páscoa era:
- Uma marca da identidade do povo de Israel, lembrando a libertação do Egito.
- Um evento de grande importância política, especialmente sob domínio romano.
- Uma transição para a Nova Aliança, onde Cristo se torna o verdadeiro "Cordeiro Pascal".
Assim, a Páscoa passou de uma celebração da libertação física e nacional para um símbolo da redenção espiritual em Cristo, mantendo sua importância tanto no Judaísmo quanto no Cristianismo.
Se precisar de mais detalhes, posso aprofundar em algum aspecto específico!
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