O Leão que se levanta
O rei Balaque, governante de Moabe, ficou completamente aterrorizado diante da aproximação do povo de Israel. O avanço dos hebreus pelo deserto causava espanto e medo, pois o que os cercava não era apenas uma multidão — mas uma promessa em movimento. Dominado pelo medo, Balaque buscou ajuda não entre seus guerreiros, mas entre os espiritistas de sua época. Contratou, portanto, Balaão, um profeta pagão conhecido por sua reputação: quem ele abençoava era abençoado, e quem amaldiçoava, era amaldiçoado. Mas o que estava prestes a acontecer fugiria completamente do controle humano.
Quando Balaão se colocou a caminho, fenômenos incomuns começaram a acontecer. Sua jumenta — um animal geralmente obediente e acostumado às trilhas — simplesmente se recusou a prosseguir. Balaão, furioso, espancava o animal sem entender. Mas o obstáculo não era físico. A jumenta enxergava o que Balaão, o “vidente”, não via: um anjo do Senhor com espada desembainhada bloqueando o caminho. Ironicamente, o profeta era o cego da história. Só quando Deus decidiu abrir seus olhos é que ele percebeu a realidade espiritual diante de si.
A partir daquele momento, algo mudou profundamente em Balaão. Ele percebeu que não podia simplesmente dizer o que quisesse. Seu dom de falar — e de influenciar — estava agora submisso à vontade do Altíssimo. Deus tomou seus lábios. Balaão tentou proferir maldição sobre Israel… mas de sua boca só saíram bênçãos.
E entre essas bênçãos, uma profecia ecoou com força:
“Eis que o povo se levanta como leoa e, como leão, ergue-se...”
(Números 23:24)
הֵן עָם כְּלָבִיא יָקוּם וְכַאֲרִי יִתְנַשָּׂא
As palavras hebraicas יקום (yakum, “ele se levanta”) e יתנשא (yitnassê, “ele se eleva”) carregam significados ricos e ativos. Não são verbos passivos. Transmitem força que desperta, dignidade que emerge, prontidão que irrompe. Essa imagem poética descreve Israel não como um povo abatido ou oprimido, mas como uma nação em ascensão, imbuída da força divina, protegida e levantada pela mão de Deus.
A metáfora escolhida não poderia ser mais simbólica: o leão — em hebraico, aryêh (אַרְיֵה). Na Escritura hebraica, o leão é mais do que símbolo de força. Ele representa realeza, autoridade, proteção e esperança futura. Não uma esperança passiva, mas uma que já está se movendo, já está rugindo, já está prestes a cumprir sua missão.
É nesse contexto que a frase “Leão em Ascensão” — Rising Lion — ganha seu verdadeiro significado. Não se trata apenas de uma expressão simbólica ou linguística. É profecia bíblica, carregada de sentido escatológico e promessa. Balaão, ainda que inicialmente contrário à vontade de Deus, tornou-se porta-voz de algo eterno: a bênção irreversível de Deus sobre Seu povo.
Mas o aspecto mais surpreendente ainda está por vir.
Quando mergulhamos no texto hebraico das Escrituras, percebemos detalhes que frequentemente se perdem nas traduções. O profeta Miquéias, séculos depois, menciona explicitamente Balaque e Balaão (Miquéias 6:5), exortando o povo a lembrar-se do que o Senhor fez naquele episódio. E o mais impressionante: um capítulo antes, Miquéias proclama que de Belém Efrata surgirá um governante, aquele cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Miquéias 5:2).
Isso soa familiar?
Sim — é uma profecia messiânica. Miquéias liga o episódio de Balaão ao nascimento do Messias. O Leão de Judá, anunciado por palavras involuntárias de um profeta pagão, nasceria em Belém. E aquele que se levantaria como leão, que traria justiça e reinará com poder, é Cristo.
A profecia que Balaão não podia conter foi semente para uma revelação que atravessa gerações. Aquele povo que se levanta como leão aponta, profeticamente, para Jesus, o verdadeiro Leão em Ascensão.
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