Auxílio ou Intromissão

 

Mateus 16:22-23

Sempre que leio este trecho, imagino o espanto de Pedro. Depois de demonstrar “consideração e apreço”, ele foi repreendido de forma dura por Jesus e chamado de “Satanás”, uma pedra de tropeço. Parece um contraste chocante: Pedro tenta ajudar, mas acaba sendo um obstáculo. Isso me faz refletir sobre como, muitas vezes, podemos nos tornar essa pedra de tropeço ao interferirmos no processo de Deus na vida das pessoas.

Nem toda dificuldade que alguém enfrenta precisa ser removida por nós. Algumas situações, embora pareçam problemas que poderíamos facilmente resolver, são, na verdade, parte do processo que Deus está conduzindo. Até para ajudar, precisamos de discernimento. O fato de termos os recursos e a possibilidade de intervir não significa que devemos fazê-lo. Podemos acabar prolongando ou atrasando um período de aprendizado e amadurecimento que Deus estabeleceu para aquela pessoa. E mais do que isso, podemos nos colocar como um impedimento, transformando auxílio em intromissão.

Deus é Jeová Jiré, o Deus da provisão. Se Ele quiser usar nossos recursos para abençoar alguém, Ele nos mostrará isso claramente. Mas, se agimos impulsionados apenas pela emoção ou pelo senso humano de empatia, corremos o risco de seguir um caminho que não reflete a vontade de Deus, mas sim a perspectiva humana.

Pedro, ao repreender Jesus, estava sendo movido por sentimentos naturais. Talvez fosse o amor de um amigo, o medo de perder seu Mestre, ou a preocupação com o futuro do ministério que ele via crescer diante dos seus olhos. Mas Jesus deixa claro que aquela atitude não vinha do Espírito, e sim da carne. Quantas vezes, em nossa tentativa de ajudar, somos guiados pela emoção e não pelo discernimento espiritual?

Quando olhamos para a Bíblia, vemos que Deus permite que seus servos enfrentem períodos de dificuldades. José foi vendido como escravo antes de se tornar governador do Egito. Davi fugiu por anos antes de se tornar rei. Moisés passou décadas no deserto antes de liderar Israel. Homens e mulheres passaram por rejeição, privação e perseguição antes de alcançarem o propósito que Deus tinha para suas vidas. Em cada uma dessas histórias, Deus estava amadurecendo e moldando seus escolhidos.

Jesus precisava passar pela cruz. Não havia atalhos para a redenção. Pedro, com sua intenção de proteger, não percebia que estava tentando impedir o maior plano de salvação da humanidade. Assim como Jesus teve de enfrentar o escárnio e a morte antes da ressurreição, nós também passamos por processos de transformação. A morte da velha criatura é uma escolha diária. A cada dia, carregamos nossa cruz, enfrentamos desafios e somos aperfeiçoados.

Deus não erra. Ele não se equivoca em seus métodos. Mas nossa natureza humana, sim. Às vezes, tentamos escapar dos processos de Deus ou impedir que outros passem por eles. Contudo, Ele age em todas as coisas para cumprir seu propósito (Romanos 8:28). Se erramos, Ele ajusta o caminho. Se acertamos, a obra flui com mais intensidade.

Nossa confiança deve estar no fato de que Deus trabalha para nos conduzir à eternidade com Ele. Saber disso deve nos levar a um lugar de paz. Se nossa jornada inclui momentos difíceis, é porque Deus nos está moldando para algo maior. A verdadeira ajuda vem do discernimento. Que possamos buscar sabedoria para saber quando estender a mão e quando permitir que Deus complete Sua obra no tempo certo.

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