Exegese do Capítulo 3 de Cantares

O capítulo 3 de Cantares de Salomão continua a explorar a rica alegoria do relacionamento amoroso entre Deus e o povo de Israel, sendo interpretado na tradição rabínica como uma metáfora espiritual. A linguagem poética descreve a busca pela presença de Deus, o encontro com o amado e a celebração da aliança divina.

Exegese do Capítulo 3 de Cantares de Salomão (Shir HaShirim)

O capítulo 3 de Cantares de Salomão continua a expressar o relacionamento entre Deus e Israel, envolvendo imagens de busca espiritual, segurança divina e união. Na tradição rabínica, o texto revela um paralelo com a história de Israel, seu êxodo, e os períodos de proximidade e afastamento de Deus.

Contexto Social e Histórico

  • Autor e Data: Atribuído ao rei Salomão, o capítulo 3 continua a refletir a riqueza e a sabedoria de sua era. Salomão, considerado o rei mais sábio de Israel, é retratado como uma figura central de prosperidade espiritual e material.
  • Contexto Social: A sociedade israelita no tempo de Salomão estava em paz e prosperidade, com Jerusalém como o centro religioso e político. A busca do amado reflete o relacionamento de Israel com Deus, especialmente em tempos de angústia e exílio.

Simbologia e Poesia Hebraica

O capítulo 3 é dividido em duas partes principais: a busca pela presença do amado (versículos 1-5) e a descrição da carruagem de Salomão (versículos 6-11). A busca do amado, muitas vezes associada a períodos de afastamento espiritual, é seguida por uma gloriosa descrição da segurança e da proteção oferecida pelo rei, que na exegese rabínica é frequentemente visto como uma representação de Deus.

Exegese Versículo por Versículo

Cantares 3:1 – "De noite, no meu leito, busquei o amado da minha alma; busquei-o, e não o achei"

  • No hebraico: "עַל מִשְׁכָּבִי בַּלֵּילוֹת בִּקַּשְׁתִּי אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי בִּקַּשְׁתִּיו וְלֹא מְצָאתִיו".
  • Interpretação: A "noite" simboliza tempos de escuridão espiritual, momentos em que a presença de Deus parece distante. Israel, representado pela amada, sente-se desconectado de Deus e busca Sua presença. De acordo com Rashi, a busca durante a noite refere-se ao exílio, quando Israel experimentou períodos de separação de Deus.
  • Simbologia: A noite é um período de angústia e distanciamento, mas também um tempo de busca ativa. O "leito" pode simbolizar a intimidade espiritual e o desejo de comunhão.

Cantares 3:2 – "Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e praças buscarei o amado da minha alma; busquei-o, e não o achei"

  • No hebraico: "אָקוּמָה נָּא וַאֲסוֹבְבָה בָּעִיר בַּשְּׁוָקִים וּבָרְחֹבוֹת אֲבַקְשָׁה אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי בִּקַּשְׁתִּיו וְלֹא מְצָאתִיו".
  • Interpretação: Após não encontrar o amado no leito, a amada (Israel) decide sair à procura nas ruas e praças da cidade. Essa busca ativa simboliza a inquietação espiritual de Israel, que não encontra consolo até estar em plena comunhão com Deus. A cidade, com suas ruas e praças, representa a comunidade de Israel e os meios espirituais pelos quais se busca Deus (oração, estudo, práticas religiosas).
  • Simbologia: As ruas e praças podem ser vistas como o espaço público de interação com Deus, ou seja, o espaço das práticas religiosas e espirituais. O fato de não encontrar o amado sugere que há períodos em que a busca por Deus parece infrutífera, apesar dos esforços.

Cantares 3:3 – "Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade; e eu perguntei-lhes: Vistes o amado da minha alma?"

  • No hebraico: "מְצָאוּנִי הַשֹּׁמְרִים הַסֹּבְבִים בָּעִיר אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי רְאִיתֶם".
  • Interpretação: Os "guardas" da cidade podem representar os profetas ou líderes espirituais que guiam Israel em sua busca por Deus. Perguntar aos guardas reflete a ideia de buscar orientação espiritual daqueles que vigiam e protegem a fé e a moralidade do povo.
  • Simbologia: Os guardas são figuras de autoridade espiritual, que rondam pela cidade, simbolizando a proteção e a orientação de Israel. A presença de guardas implica que, mesmo durante a busca por Deus, Israel está sendo vigiado e protegido.

Cantares 3:4 – "Mal passara por eles, quando achei o amado da minha alma; detive-o e não o deixei ir, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me concebeu"

  • No hebraico: "כִּמְעַט שֶׁעָבַרְתִּי מֵהֶם עַד שֶׁמָּצָאתִי אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי אֲחַזְתִּיו וְלֹא אַרְפֶּנּוּ עַד שֶׁהֲבֵיאתִיו אֶל בֵּית אִמִּי וְאֶל חֶדֶר הוֹרָתִי".
  • Interpretação: A amada encontra finalmente o amado e o leva à "casa de sua mãe", que muitos comentaristas interpretam como o Templo de Jerusalém, o centro da adoração e comunhão com Deus. Este é o local onde a conexão com Deus é renovada e fortalecida. O Templo é visto como o espaço de nascimento espiritual, onde Israel foi "concebido" como povo.
  • Simbologia: A "casa de minha mãe" e a "câmara daquela que me concebeu" simbolizam o espaço sagrado do Templo, onde Israel foi escolhido e onde a comunhão com Deus é plenamente realizada. Este versículo destaca a importância do Templo como o local de encontro e renovação da aliança.

Cantares 3:6 – "Quem é esta que sobe do deserto como colunas de fumaça, perfumada de mirra, incenso e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?"

  • No hebraico: "מִי זֹאת עֹלָה מִן הַמִּדְבָּר כְּתִימֲרוֹת עָשָׁן מְקֻטֶּרֶת מוֹר וּלְבוֹנָה מִכֹּל אַבְקַת רוֹכֵל".
  • Interpretação: A figura que sobe do deserto perfumada é interpretada como Israel saindo do deserto do Sinai, após o Êxodo. As colunas de fumaça remetem ao sacrifício e às orações que sobem a Deus, enquanto a mirra e o incenso são símbolos de devoção e pureza espiritual. O deserto é um lugar de transformação espiritual, onde Israel foi purificado e preparado para a aliança com Deus.
  • Simbologia: O deserto simboliza o êxodo, o período de provação e preparação para a chegada à Terra Prometida. As colunas de fumaça representam os sacrifícios e orações de Israel, enquanto os perfumes indicam a santidade e a pureza adquiridas por meio dessa jornada.
  • Exegese do Capítulo 3 de Cantares de Salomão (Shir HaShirim)

    O capítulo 3 de Cantares de Salomão continua a expressar o relacionamento entre Deus e Israel, envolvendo imagens de busca espiritual, segurança divina e união. Na tradição rabínica, o texto revela um paralelo com a história de Israel, seu êxodo, e os períodos de proximidade e afastamento de Deus.

    Contexto Social e Histórico

    • Autor e Data: Atribuído ao rei Salomão, o capítulo 3 continua a refletir a riqueza e a sabedoria de sua era. Salomão, considerado o rei mais sábio de Israel, é retratado como uma figura central de prosperidade espiritual e material.
    • Contexto Social: A sociedade israelita no tempo de Salomão estava em paz e prosperidade, com Jerusalém como o centro religioso e político. A busca do amado reflete o relacionamento de Israel com Deus, especialmente em tempos de angústia e exílio.

    Simbologia e Poesia Hebraica

    O capítulo 3 é dividido em duas partes principais: a busca pela presença do amado (versículos 1-5) e a descrição da carruagem de Salomão (versículos 6-11). A busca do amado, muitas vezes associada a períodos de afastamento espiritual, é seguida por uma gloriosa descrição da segurança e da proteção oferecida pelo rei, que na exegese rabínica é frequentemente visto como uma representação de Deus.

    Exegese Versículo por Versículo

    Cantares 3:1 – "De noite, no meu leito, busquei o amado da minha alma; busquei-o, e não o achei"

    • No hebraico: "עַל מִשְׁכָּבִי בַּלֵּילוֹת בִּקַּשְׁתִּי אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי בִּקַּשְׁתִּיו וְלֹא מְצָאתִיו".
    • Interpretação: A "noite" simboliza tempos de escuridão espiritual, momentos em que a presença de Deus parece distante. Israel, representado pela amada, sente-se desconectado de Deus e busca Sua presença. De acordo com Rashi, a busca durante a noite refere-se ao exílio, quando Israel experimentou períodos de separação de Deus.
    • Simbologia: A noite é um período de angústia e distanciamento, mas também um tempo de busca ativa. O "leito" pode simbolizar a intimidade espiritual e o desejo de comunhão.

    Cantares 3:2 – "Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e praças buscarei o amado da minha alma; busquei-o, e não o achei"

    • No hebraico: "אָקוּמָה נָּא וַאֲסוֹבְבָה בָּעִיר בַּשְּׁוָקִים וּבָרְחֹבוֹת אֲבַקְשָׁה אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי בִּקַּשְׁתִּיו וְלֹא מְצָאתִיו".
    • Interpretação: Após não encontrar o amado no leito, a amada (Israel) decide sair à procura nas ruas e praças da cidade. Essa busca ativa simboliza a inquietação espiritual de Israel, que não encontra consolo até estar em plena comunhão com Deus. A cidade, com suas ruas e praças, representa a comunidade de Israel e os meios espirituais pelos quais se busca Deus (oração, estudo, práticas religiosas).
    • Simbologia: As ruas e praças podem ser vistas como o espaço público de interação com Deus, ou seja, o espaço das práticas religiosas e espirituais. O fato de não encontrar o amado sugere que há períodos em que a busca por Deus parece infrutífera, apesar dos esforços.

    Cantares 3:3 – "Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade; e eu perguntei-lhes: Vistes o amado da minha alma?"

    • No hebraico: "מְצָאוּנִי הַשֹּׁמְרִים הַסֹּבְבִים בָּעִיר אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי רְאִיתֶם".
    • Interpretação: Os "guardas" da cidade podem representar os profetas ou líderes espirituais que guiam Israel em sua busca por Deus. Perguntar aos guardas reflete a ideia de buscar orientação espiritual daqueles que vigiam e protegem a fé e a moralidade do povo.
    • Simbologia: Os guardas são figuras de autoridade espiritual, que rondam pela cidade, simbolizando a proteção e a orientação de Israel. A presença de guardas implica que, mesmo durante a busca por Deus, Israel está sendo vigiado e protegido.

    Cantares 3:4 – "Mal passara por eles, quando achei o amado da minha alma; detive-o e não o deixei ir, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me concebeu"

    • No hebraico: "כִּמְעַט שֶׁעָבַרְתִּי מֵהֶם עַד שֶׁמָּצָאתִי אֵת שֶׁאָהֲבָה נַפְשִׁי אֲחַזְתִּיו וְלֹא אַרְפֶּנּוּ עַד שֶׁהֲבֵיאתִיו אֶל בֵּית אִמִּי וְאֶל חֶדֶר הוֹרָתִי".
    • Interpretação: A amada encontra finalmente o amado e o leva à "casa de sua mãe", que muitos comentaristas interpretam como o Templo de Jerusalém, o centro da adoração e comunhão com Deus. Este é o local onde a conexão com Deus é renovada e fortalecida. O Templo é visto como o espaço de nascimento espiritual, onde Israel foi "concebido" como povo.
    • Simbologia: A "casa de minha mãe" e a "câmara daquela que me concebeu" simbolizam o espaço sagrado do Templo, onde Israel foi escolhido e onde a comunhão com Deus é plenamente realizada. Este versículo destaca a importância do Templo como o local de encontro e renovação da aliança.

    Cantares 3:6 – "Quem é esta que sobe do deserto como colunas de fumaça, perfumada de mirra, incenso e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?"

    • No hebraico: "מִי זֹאת עֹלָה מִן הַמִּדְבָּר כְּתִימֲרוֹת עָשָׁן מְקֻטֶּרֶת מוֹר וּלְבוֹנָה מִכֹּל אַבְקַת רוֹכֵל".
    • Interpretação: A figura que sobe do deserto perfumada é interpretada como Israel saindo do deserto do Sinai, após o Êxodo. As colunas de fumaça remetem ao sacrifício e às orações que sobem a Deus, enquanto a mirra e o incenso são símbolos de devoção e pureza espiritual. O deserto é um lugar de transformação espiritual, onde Israel foi purificado e preparado para a aliança com Deus.
    • Simbologia: O deserto simboliza o êxodo, o período de provação e preparação para a chegada à Terra Prometida. As colunas de fumaça representam os sacrifícios e orações de Israel, enquanto os perfumes indicam a santidade e a pureza adquiridas por meio dessa jornada.

  • Comparação entre o Hebraico, a ARA e o Dicionário Strong
O capítulo 3 de Cânticos dos Cânticos apresenta uma narrativa que retrata o anseio da amada por seu amado e sua busca por ele até encontrá-lo. Esta seção reflete um movimento de busca e encontro que pode ser interpretado de forma tanto literal quanto simbólica, especialmente nas tradições alegóricas sobre a relação entre Deus e Seu povo.
Cânticos 3:1-4
"De noite, em minha cama, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não o achei. Levantar-me-ei agora e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, mas não o achei. Acharam-me os guardas, que rondam pela cidade; eu perguntei-lhes: Vistes aquele a quem ama a minha alma? Mal passara por eles, quando achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, até que o introduzi na casa de minha mãe, na câmara daquela que me concebeu."
(ARA)
1. "Busquei aquele a quem ama a minha alma" (Versículo 1)
A palavra hebraica usada para "buscar" é "בָּקַשׁ" (baqash), que significa procurar diligentemente ou intensamente. No Dicionário Strong (H1245), "baqash" carrega uma ideia de busca insistente, uma procura que não cessa até que o objeto do desejo seja encontrado. Na Almeida Revista e Atualizada (ARA), essa busca está traduzida de forma a expressar um profundo desejo espiritual, não apenas físico.
Teologicamente, a busca pode ser vista como o anseio da alma pelo relacionamento com Deus. A amada está em busca de seu amado com um desejo ardente, o que pode simbolizar a busca do crente por Deus quando ele sente Sua ausência. O relacionamento espiritual entre Deus e Seu povo é frequentemente descrito como uma jornada de busca e encontro, e essa cena reflete essa dinâmica.

2. "Levantar-me-ei agora e rodearei a cidade" (Versículo 2)
A palavra hebraica para "levantar" é "קוּם" (qum), que no Strong's Concordance (H6965) implica erguer-se, iniciar uma ação ou reação. Esse termo é significativo porque reflete um movimento de decisão da amada, um momento em que ela não espera mais passivamente, mas se coloca em movimento para encontrar o amado. No contexto espiritual, isso pode ser visto como um passo ativo de fé ou de buscar intencionalmente a presença de Deus.
O ato de rodear a cidade e buscar o amado simboliza a perseverança em busca de um relacionamento mais profundo com Deus. Aqui, a cidade pode ser vista como um espaço simbólico de nossa própria vida, e as "ruas e praças" onde a amada procura podem representar as várias áreas da nossa vida onde procuramos sentir a presença de Deus.

3. "Acharam-me os guardas que rondam pela cidade" (Versículo 3)
A palavra hebraica para "guardas" é "שׁוֹמֵר" (shomer), que no Strong's (H8104) significa aqueles que vigiam, guardam ou protegem. Na teologia, os guardas podem representar líderes espirituais ou anjos, aqueles encarregados de proteger e guiar o povo de Deus. Aqui, eles não encontram diretamente o amado, mas ajudam a amada a continuar sua busca.
Os "guardas" também podem simbolizar as leis ou os ensinamentos que Deus coloca como guias em nossas vidas. Embora eles nos protejam e nos orientem, eles não substituem a experiência direta e íntima com Deus, que é algo que o crente precisa buscar por si mesmo.

4. "Achei aquele a quem ama a minha alma" (Versículo 4)
A palavra hebraica para "achar" é "מָצָא" (matsa), que no Strong's (H4672) significa encontrar algo que estava sendo procurado. O ato de encontrar, neste contexto, simboliza a plenitude e a satisfação do encontro entre o crente e Deus. Esse momento de encontro reflete o fim de uma jornada espiritual, onde o desejo da alma é finalmente saciado.
Na ARA, a frase "aquele a quem ama a minha alma" é uma tradução próxima ao hebraico, onde "alma" é "נֶפֶשׁ" (nephesh), que no Strong's (H5315) se refere à vida, ao ser interior, ou à essência de alguém. O termo "nephesh" reflete a profundidade do amor da amada pelo amado, sendo não apenas um amor físico, mas um amor que envolve toda a essência de quem ela é. Teologicamente, isso reflete o amor integral do crente por Deus, onde toda a sua vida e ser estão envolvidos no relacionamento espiritual.

5. "Introduzi-o na casa de minha mãe" (Versículo 4)
A palavra hebraica para "introduzir" é "בּוֹא" (bo), que no Strong's (H935) significa trazer, entrar ou levar para dentro. Aqui, a amada leva o amado para um lugar de segurança e intimidade, representado pela casa de sua mãe. Esse espaço é um lugar de origem, intimidade e proteção, simbolizando um relacionamento restaurado e profundo com Deus.
Espiritualmente, a "casa da mãe" pode ser interpretada como o coração ou a alma, onde o crente convida Deus a habitar em seu interior, restaurando a intimidade perdida. É também um símbolo de trazer Deus para o centro de nossa vida e história, onde Ele pode reinar e nos trazer paz e segurança.

As principais diferenças entre o hebraico original e as traduções em português, como a Almeida Revista e Atualizada (ARA), estão relacionadas a nuances linguísticas, culturais e teológicas. Abaixo estão algumas das maiores diferenças encontradas no Cântico dos Cânticos 3:

1. Busca e Intensidade

  • Hebraico: A palavra hebraica para "buscar" é "בָּקַשׁ" (baqash), que implica uma busca diligente e intensa, carregando uma conotação de perseverança e determinação. Há uma noção de esforço contínuo e ansioso, refletindo uma ação persistente até o objetivo ser alcançado.
  • Português (ARA): A palavra "busquei" usada na tradução portuguesa expressa a ideia de procura, mas não necessariamente captura a mesma intensidade do hebraico. O termo em português não enfatiza a urgência ou a busca incansável tão fortemente quanto o original hebraico.

2. Alma (נֶפֶשׁ - Nephesh)

  • Hebraico: O termo "נֶפֶשׁ" (nephesh) no hebraico tem um significado profundo, referindo-se à "alma", mas também à "vida", "essência" ou "ser interior". No contexto hebraico, a "nephesh" não é apenas a alma em um sentido espiritual, mas a totalidade do ser, incluindo o emocional, o físico e o espiritual.
  • Português (ARA): A tradução para "alma" em português é geralmente entendida como a parte espiritual de uma pessoa, o que pode perder a riqueza de significado que "nephesh" carrega em hebraico, que envolve o ser integral.

3. Sombra (צֵל - Tzel)

  • Hebraico: A palavra hebraica "צֵל" (tzel) significa literalmente "sombra", mas no contexto bíblico, tem conotações de proteção, abrigo e refúgio. A "sombra" no hebraico sugere um lugar de descanso seguro, geralmente associado à proteção divina.
  • Português (ARA): Na tradução portuguesa, "sombra" pode ser entendida de maneira mais literal, como uma área de proteção contra o sol, mas pode não transmitir completamente o sentido espiritual e teológico de abrigo e segurança divina que o termo hebraico carrega.

4. Guardas (שׁוֹמֵר - Shomer)

  • Hebraico: A palavra hebraica "שׁוֹמֵר" (shomer) significa "aquele que guarda, vigia ou protege". Na tradição hebraica, o termo tem uma forte conotação de responsabilidade e cuidado, além de vigilância.
  • Português (ARA): "Guardas" na tradução portuguesa retém o significado de vigilância, mas pode não implicar o mesmo sentido de proteção e responsabilidade que o termo hebraico carrega.

5. Achar (מָצָא - Matsa)

  • Hebraico: "מָצָא" (matsa) em hebraico refere-se a "encontrar" algo que foi procurado intensamente, carregando a ideia de realização e conclusão de uma busca longa ou difícil.
  • Português (ARA): O termo "achei" na versão portuguesa transmite a ideia de encontrar, mas pode não carregar o mesmo peso emocional ou espiritual que o hebraico. No original, há uma sensação de alívio e alegria após uma busca árdua.

6. Introduzir (בּוֹא - Bo)

  • Hebraico: A palavra "בּוֹא" (bo) significa literalmente "entrar" ou "levar para dentro". O termo em hebraico carrega a ideia de trazer algo para um lugar de intimidade ou segurança. No contexto do versículo, há uma ênfase em trazer o amado para um espaço íntimo e familiar.
  • Português (ARA): O termo "introduzi-o" reflete o ato de levar para dentro, mas a ideia de intimidade e segurança pode ser menos evidente na tradução portuguesa, em comparação com o original hebraico.

7. Expressão do Amor

  • Hebraico: O hebraico do Cântico dos Cânticos é muito poético e repleto de imagens e metáforas que expressam amor e desejo, com palavras e expressões que têm múltiplos significados. Por exemplo, a repetição de frases como "aquele a quem ama minha alma" é uma forma de intensificar o sentimento de amor profundo, tanto no nível pessoal quanto no espiritual.
  • Português (ARA): As traduções tentam manter esse tom poético, mas muitas vezes o idioma português não captura a mesma riqueza de nuances e camadas de significados que o hebraico consegue expressar com uma única palavra ou expressão.

Conclusão

As diferenças entre o hebraico e a versão em português (ARA) de Cânticos dos Cânticos 3 residem principalmente nas nuances e camadas de significado das palavras hebraicas. Enquanto o português tenta captar a essência do texto, algumas das profundidades emocionais e espirituais se perdem ou são suavizadas, especialmente no que diz respeito ao conceito de busca intensa, intimidade profunda e segurança divina. O hebraico oferece uma riqueza simbólica que muitas vezes carrega múltiplos significados espirituais, culturais e teológicos, que não são totalmente capturados na tradução.

Cantares 3:1
"De noite, no meu leito, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei."
A amada, sozinha em seu leito, representa o desejo profundo e a ânsia sexual de estar com o amado. Na tradição rabínica, o leito é um símbolo claro de intimidade física e conjugal, e a ausência do amado provoca um sentimento de vazio emocional e físico. A busca por ele expressa a necessidade de consumar essa união.

Cantares 3:2
"Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei."
A amada decide levantar-se e sair em busca de seu amado, o que simboliza sua disposição e desejo de encontrar satisfação física e emocional. A imagem de andar pelas ruas e praças evoca uma busca ativa pela união sexual, e a ausência do amado intensifica seu desejo.

Cantares 3:3
"Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade, e eu lhes perguntei: Vistes aquele a quem ama a minha alma?"
Os guardas simbolizam obstáculos e, ao mesmo tempo, testemunhas de sua busca. A pergunta direta sobre o amado revela a intensidade de seu desejo e a urgência em encontrá-lo. Na tradição rabínica, o fato de ela perguntar sobre o amado aos guardas reflete a frustração e a expectativa de consumar o amor.

Cantares 3:4
"Mal me havia apartado deles, quando achei aquele a quem ama a minha alma; agarrei-o, e não o deixei ir, até que o levei à casa de minha mãe, à câmara daquela que me concebeu."
Quando a amada finalmente encontra o amado, há um sentido de possessão física e de não querer deixá-lo partir. A imagem de agarrá-lo sugere um forte desejo de união sexual. Ao levá-lo à câmara de sua mãe, um local privado e íntimo, a amada insinua o espaço onde a consumação do amor físico ocorre. Na tradição rabínica, esse espaço simboliza a segurança e a intimidade do lar conjugal.

Cantares 3:5
"Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o amor, até que este o queira."
Mais uma vez, a amada alerta as filhas de Jerusalém para que o amor não seja despertado antes do momento adequado. Na tradição rabínica, esse versículo refere-se à paciência no amor, indicando que a paixão sexual deve ser realizada no tempo certo, no contexto da santidade do casamento.

Cantares 3:6
"Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra e de incenso, e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?"
A figura que sobe do deserto pode ser a própria amada, agora adornada e preparada para o encontro íntimo. A fumaça simboliza a elevação e a espiritualidade do ato sexual, enquanto os perfumes de mirra e incenso sugerem a preparação do corpo para o amado, representando o prazer físico que será consumado. A tradição rabínica vê a preparação com aromas como uma metáfora para a atração sensorial e a antecipação do prazer.

Cantares 3:7
"Eis a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel."
A liteira de Salomão simboliza o leito nupcial ou o espaço íntimo onde a união física ocorrerá. Os sessenta valentes ao redor indicam proteção e honra, reforçando a sacralidade da intimidade conjugal. Para a tradição rabínica, esse versículo destaca a importância de um amor seguro e protegido, onde o casal pode se unir fisicamente sem medo ou vergonha.

Cantares 3:8
"Todos armados de espadas, destros na guerra; cada um com a sua espada à cinta, por causa dos temores noturnos."
Os valentes armados de espadas são protetores simbólicos da pureza e do leito conjugal. Na tradição rabínica, isso representa a proteção contra as tentações e os perigos que poderiam prejudicar a intimidade do casal. As espadas podem simbolizar a defesa do amor, garantindo que o momento íntimo seja preservado.

Cantares 3:9
"O rei Salomão fez para si uma liteira de madeira do Líbano."
A liteira de madeira do Líbano representa a força e a beleza da união conjugal. A madeira do Líbano, conhecida por sua qualidade e resistência, simboliza a durabilidade e a solidez do amor sexual entre o casal. Na tradição rabínica, o leito conjugal é um espaço sagrado, onde a união física é uma expressão de compromisso.

Cantares 3:10
"Fez-lhe as colunas de prata, o respaldo de ouro, o assento de púrpura, e o interior foi coberto com amor pelas filhas de Jerusalém."
A descrição detalhada do leito nupcial com colunas de prata e ouro, e o assento de púrpura, sugere luxo e preparação cuidadosa para a união sexual. O interior coberto de amor reflete a intimidade e o carinho que envolvem o casal. Na tradição rabínica, o luxo e a beleza do leito representam a honra dada ao amor físico no casamento.

Cantares 3:11
"Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu desposório, no dia do júbilo do seu coração."
O desposório é o momento em que o casal se une formalmente e consuma seu amor físico. A coroa é um símbolo de honra e celebração, e na tradição rabínica, o dia do casamento e da consumação é um momento de grande alegria e júbilo, tanto emocional quanto físico. O ato sexual é visto como uma coroação da união, um ato sagrado e repleto de significado.

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