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Meu primeiro avental

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O tecido era simples — algodão cru, com uma fita azul-clara costurada de forma torta. Eu devia ter uns oito anos. Lembro-me do toque áspero nas mãos pequenas, das linhas desalinhadas e da alegria ingênua de quem brincava de ser adulta. Ganhei aquele avental como quem ganha um brinquedo. Não fui ensinada a ser dona de casa — não havia receitas, nem conselhos sobre como manter um lar — mas naquele pedaço de pano havia um presságio. Ele dizia, silenciosamente, que um dia eu teria um lugar onde poderia amar e ser amada. Durante anos, o guardei. O avental ficou dobrado em alguma gaveta como um símbolo discreto de esperança. Era mais do que um pano: era a lembrança de uma menina que sonhava com o cheiro de pão assando, com uma mesa cercada de vozes, com o som de uma vida inteira pulsando entre as paredes do lar. Agora, porém, ele não está mais aqui. Procuro-o e não encontro. Vasculho as gavetas, as caixas antigas, e a mim mesma. Nada. Às vezes penso que talvez nunca tenha existido. Out...