Exegese da Parabola do Filho Pródigo

A parábola do Filho Pródigo, encontrada em Lucas 15:11-32, oferece ricas camadas de significado. Para fazer uma exegese completa, com o apoio do Dicionário Strong e baseando-se na Almeida Revista e Atualizada (ARA), examinaremos os principais termos no grego original e suas implicações. Aqui está um estudo detalhado de pontos-chave:

1. Lucas 15:11-12

  • "Um certo homem tinha dois filhos" (v.11)

    • O termo grego para "homem" é ἀνήρ (aner), que Strong define como "homem adulto," frequentemente usado para destacar autoridade ou poder.
    • "Filhos" é υἱός (huios), Strong G5207, que se refere a descendentes diretos, e no contexto judaico, aponta para a ideia de herança e responsabilidade.
  • "Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence" (v.12)

    • "Parte" é μέρος (meros), Strong G3313, significando uma porção ou divisão. No contexto da herança, indica a divisão do que cabe a cada filho.
    • "Bens" é ὑπάρχοντα (hyparchonta), Strong G5225, que literalmente significa "o que pertence," ou "posses."

O filho mais novo está pedindo sua herança antecipadamente, algo que culturalmente seria incomum e poderia ser interpretado como um desrespeito ao pai.

2. Lucas 15:13

  • "E, não muitos dias depois, o filho mais moço, ajuntando tudo, partiu para uma terra distante"

    • "Ajuntando" é συνάγω (synago), Strong G4863, que significa reunir, mas aqui implica em vender os bens herdados para convertê-los em dinheiro.
    • "Terra distante" é χώρα (chōra), Strong G5561, que significa uma região ou país estrangeiro. Isso representa o distanciamento não apenas físico, mas espiritual e emocional da casa do pai, um afastamento de sua identidade e herança.
  • "Ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente"

    • "Desperdiçou" é διασκορπίζω (diaskorpizo), Strong G1287, que significa dispersar ou esbanjar. Esse termo sugere uma perda irreparável do que foi dado.
    • "Dissolutamente" é ἀσώτως (asōtōs), Strong G811, que descreve uma vida desregrada, sem freio, e moralmente corrupta.

3. Lucas 15:14-16

  • "E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome"

    • "Gastado" é δαπανήω (dapaneō), Strong G1159, que significa consumir completamente. Ele literalmente esgota seus recursos.
    • "Fome" é λιμός (limos), Strong G3042, que se refere a uma fome severa, implicando escassez e falta de provisão, simbolizando o vazio espiritual que resulta de uma vida distante do Pai.
  • "E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra"

    • "Chegou-se" é κολλάω (kollaō), Strong G2853, que significa unir-se, colar-se a algo ou alguém. Ele se submete a trabalhar para um estrangeiro, o que no contexto judaico significava degradação.
  • "E mandou-o para os seus campos a apascentar porcos"

    • "Apascentar" é βόσκω (boskō), Strong G1006, que significa alimentar ou cuidar de animais. Trabalhar com porcos era uma grande humilhação para um judeu, já que os porcos eram animais impuros.

4. Lucas 15:17-19

  • "Caindo em si" (v.17)

    • "Caindo em si" é ἔρχομαι εἰς ἑαυτόν (erchomai eis heauton), Strong G2064 + G1438, uma expressão idiomática que significa recuperar a clareza mental. O filho, em seu arrependimento, toma consciência da gravidade de sua situação.
  • "Pai, pequei contra o céu e perante ti" (v.18)

    • "Pequei" é ἁμαρτάνω (hamartanō), Strong G264, significando errar o alvo, falhar, ou transgredir moralmente. O filho reconhece sua ofensa contra Deus (o céu) e contra seu pai.

5. Lucas 15:20-24

  • "E, levantando-se, foi para seu pai" (v.20)

    • "Levantando-se" é ἀνίστημι (anistēmi), Strong G450, que significa erguer-se ou levantar-se fisicamente, simbolizando a decisão firme de mudança e ação.
  • "Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão"

    • "Viu-o" é ὁράω (horaō), Strong G3708, que significa perceber ou observar. O pai estava à espera do retorno do filho.
    • "Moveu-se de íntima compaixão" é σπλαγχνίζομαι (splagchnizomai), Strong G4697, que descreve uma emoção intensa de misericórdia e empatia, vinda das profundezas do ser.
  • "Tragam depressa a melhor roupa" (v.22)

    • "Melhor" é πρώτη (prōtē), Strong G4413, que significa primeira ou principal. A melhor roupa simboliza restauração da dignidade e identidade.
  • "Matemos o novilho cevado"

    • "Cevado" é σιτευτός (siteutos), Strong G4618, que significa alimentado especialmente para um grande banquete. Esse ato celebra o retorno e a restauração do filho à plena comunhão.

6. Lucas 15:25-30

  • "Seu filho mais velho estava no campo"

    • "Mais velho" é πρεσβύτερος (presbyteros), Strong G4245, que também pode se referir a autoridade e responsabilidade. Este filho representa aqueles que, embora externamente fiéis, muitas vezes carecem de compaixão e compreensão da graça.
  • "Este teu filho que desperdiçou os teus bens com meretrizes" (v.30)

    • "Desperdiçou" é o mesmo termo διασκορπίζω (diaskorpizo), usado anteriormente, reforçando a ideia de desperdício irresponsável.
    • "Meretrizes" é πόρνη (pornē), Strong G4204, que se refere a mulheres prostitutas, destacando o estilo de vida depravado do filho pródigo, segundo o julgamento do irmão mais velho.

7. Lucas 15:31-32

  • "Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas" (v.31)
    • "Sempre" é πάντοτε (pantote), Strong G3842, que significa em todo o tempo, indicando a permanência da relação e das bênçãos disponíveis.
    • "Tudo" é πᾶς (pas), Strong G3956, que significa todos ou cada um, indicando que o filho mais velho sempre teve acesso total às bênçãos do pai, mas não as reconheceu.

Conclusão

A parábola do Filho Pródigo é uma ilustração poderosa da graça e do amor incondicional de Deus. Usando o Dicionário Strong, vimos como as palavras gregas sublinham a profundidade do arrependimento, da compaixão e da restauração. A jornada do filho mais novo ilustra a realidade do pecado, do arrependimento e do perdão, enquanto o filho mais velho representa aqueles que, mesmo próximos a Deus, podem perder de vista o coração misericordioso do Pai.


Recontando a passagem de acordo com a exegese

A parábola do Filho Pródigo pode ser recontada da seguinte forma, à luz da exegese realizada:

Havia um homem, um pai, que tinha dois filhos. O mais novo, desejando se afastar e viver sua própria vida, aproximou-se do pai e pediu a parte da herança que lhe cabia. Na cultura da época, isso era visto como uma grande ofensa, pois era como se o filho desejasse que o pai já estivesse morto. O pai, com amor e paciência, dividiu seus bens e deu ao filho o que ele pedia.

Pouco tempo depois, o filho mais novo reuniu suas posses e partiu para uma terra distante. Ele não só se afastou fisicamente, mas também espiritualmente, distanciando-se de sua identidade e herança. Naquele lugar estrangeiro, o jovem começou a viver de maneira desregrada, gastando todo o seu dinheiro em prazeres momentâneos e depravados. Ele desperdiçou tudo, e, quando seus recursos se esgotaram, uma grande fome assolou a terra.

Sem dinheiro e desesperado, ele se apegou a um cidadão daquela terra, que o enviou para trabalhar cuidando de porcos – um trabalho humilhante para um judeu, já que os porcos eram animais impuros. Tão grande era sua fome que ele desejava comer a comida dos porcos, mas ninguém lhe dava nada.

Nesse momento de total miséria, o filho finalmente "caiu em si." Ele se deu conta de que, na casa de seu pai, até os empregados tinham comida em abundância, enquanto ele morria de fome. Decidiu, então, voltar para casa e confessar seu erro, reconhecendo que havia pecado contra Deus e contra seu pai. Não se sentia mais digno de ser chamado de filho, mas esperava que ao menos pudesse ser tratado como um servo.

Levantando-se, ele começou sua jornada de volta. Enquanto ainda estava longe, o pai o viu e, movido por uma profunda compaixão, correu ao seu encontro. O pai, que já estava esperando ansiosamente o retorno do filho, o abraçou e o beijou com grande amor. O filho, arrependido, começou a confessar seus pecados, mas antes que ele pudesse terminar, o pai ordenou que seus servos trouxessem a melhor roupa, um anel e sandálias – símbolos de restauração da sua posição como filho.

Além disso, o pai ordenou que fosse preparado um grande banquete, matando o novilho cevado, para celebrar o retorno do filho perdido. "Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado." E começaram a festejar.

Enquanto isso, o filho mais velho, que havia permanecido com o pai, retornou do campo e, ao ouvir o som da festa, perguntou o que estava acontecendo. Quando soube que o irmão mais novo havia voltado e que o pai estava celebrando, ele ficou indignado e se recusou a entrar na festa.

O pai, demonstrando a mesma compaixão que tivera pelo mais novo, saiu para falar com o filho mais velho. O filho expressou sua frustração, dizendo que, apesar de ter servido fielmente o pai durante todos aqueles anos, nunca havia recebido sequer um cabrito para festejar com seus amigos. E agora, o irmão que desperdiçara os bens do pai com uma vida dissoluta era recebido com uma grande celebração.

O pai respondeu com ternura: "Filho, você sempre esteve comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas era necessário celebrar, porque seu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado."

A parábola termina com o pai reafirmando seu amor por ambos os filhos: o filho que se perdeu e voltou, e o que, embora sempre estivesse ao lado dele, não compreendia completamente a profundidade de sua graça.

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