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Quando a Fé vira mercadoria

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A fé cristã sempre caminhou melhor quando foi lenta, profunda e exigente. Desde os profetas até os pais da Igreja, passando pelos monges do deserto e pelos reformadores, o caminho espiritual nunca foi apresentado como algo rápido, confortável ou moldado ao gosto do freguês. No entanto, em nosso tempo, a fé tem sido progressivamente adaptada à lógica da sociedade do consumo, e isso exige discernimento e coragem pastoral. A fé transformada em vitrine Uma das analogias mais claras para compreender o problema é a da vitrine. O que antes era uma casa de formação espiritual tornou-se, em muitos lugares, um espaço de exposição. Sermões são organizados como slogans, mensagens são simplificadas para não causar desconforto, e o evangelho é apresentado como algo que precisa “agradar” para não perder público. Assim como numa loja bem iluminada, o objetivo não é formar caráter, mas atrair olhares. No cristianismo antigo, o discípulo se aproximava para ser moldado. Hoje, muitas vezes, el...

Conduzidos pelo Pastor

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  “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” Essa afirmação não começa com a ausência de necessidades, mas com a presença de Alguém. Quando Davi declara “nada me faltará”, ele não está dizendo que nunca passaria por vales, dores ou perdas. Ele está afirmando algo mais profundo: o Senhor não lhe faltaria. Antes de falar sobre provisão, Davi fala sobre relacionamento. Nada me faltará porque Ele não me faltará. Se o Pastor está presente, mesmo no vale, não há falta essencial. Pode haver escassez de respostas, de força ou de entendimento, mas nunca haverá ausência do Pastor. A segurança do salmo não está no que se tem, mas em Quem se tem. Nada é prometido a nós fora d’Ele. Na verdade, já sabemos muito da Bíblia, mas muitas vezes nos esquecemos de suas verdades mais simples e profundas. O Salmo 23 nos lembra disso. Não é necessário trazer uma “nova verdade”, como se a Palavra estivesse ultrapassada, mas permitir que Deus traga novidade ao nosso coração por meio da Sua Palavra viv...

Jesus no Evangelho de Mateus

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 O Evangelho de Mateus não nasceu num vácuo cultural. Ele brota de uma terra, de um povo, de uma memória coletiva moldada por séculos de caminhada com Deus. Mateus fala a língua da sua gente. Desde a genealogia que remonta a Abraão — o pai da fé — até os discursos de Jesus proferidos em montanhas, lembrando a postura de Moisés ao receber a Torá, cada detalhe carrega um propósito. É como se Mateus dissesse: “Nada em Jesus é desconectado das promessas antigas; tudo se cumpre nEle.” 📜 Curiosidade 1 — Mateus cita mais de 60 vezes as Escrituras Hebraicas Ele não apenas menciona textos; ele os entrelaça com a vida de Jesus, mostrando a continuidade da história. Exemplos: Mateus 1:23 cita Isaías 7:14 (“A virgem conceberá e dará à luz um filho”), mostrando que o nascimento de Jesus não é um evento isolado, mas a concretização de uma expectativa milenar. Mateus 2:6 cita Miqueias 5:2 para explicar por que o Messias nasceria em Belém, ligando a geografia da fé ao destino do Cristo...

A Regra 7–38–55 e o Chamado Cristão à Coerência do Coração

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  A chamada regra 7–38–55 surgiu a partir de estudos do psicólogo Albert Mehrabian, na década de 1960, sobre comunicação emocional. Sua conclusão ficou conhecida em três números: 7% do impacto da mensagem vêm das palavras ; 38% vêm do tom de voz ; 55% vêm da linguagem corporal . Mehrabian observou que, quando alguém fala sobre algo carregado de sentimento, o corpo e o tom revelam mais do que a frase em si. Em outras palavras: quando coração, voz e postura não combinam, o ouvinte percebe. Embora apresentada como descoberta moderna, essa regra apenas evidencia algo que o cristianismo bíblico e a tradição já ensinavam há séculos: o exterior reflete o interior , e nenhuma palavra sustenta a verdade se não vier ancorada em um coração íntegro. 1. Palavra, Tom e Corpo: Um Retrato da Alma A fé cristã nunca separou “o que se diz” de “como se vive”. Jesus afirmou que “a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45). Quando a regra 7–38–55 afirma que o corpo e o tom...

O Estábulo que Nunca Existiu: Recuperando o Cenário Real do Nascimento de Jesus

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Por séculos imaginamos Maria e José batendo à porta de uma hospedaria, sendo rejeitados por um estalajadeiro impiedoso e acabando num estábulo solitário, frio e distante. Esse cenário, tão presente em nossas imagens de Natal, toca nosso coração — mas não corresponde ao que o texto bíblico realmente descreve. E quando voltamos às Escrituras com atenção, guiados pelo conhecimento histórico e pela simplicidade das primeiras gerações, descobrimos algo ainda mais profundo. O que Lucas realmente escreveu Em Lucas 2:7, lemos que Maria colocou o menino numa manjedoura porque não havia lugar na “kataluma” (κατάλυμα) . Ao longo dos séculos, essa palavra foi traduzida como “estalagem”, mas seu sentido natural no grego é quarto de hóspedes , não hospedaria pública. A própria Escritura confirma isso: Quando Lucas quer falar de uma hospedaria real, como na parábola do Bom Samaritano, ele usa outro termo: pandocheion (πανδοχεῖον) . E o mesmo kataluma de Lucas 2 aparece novamente em Lucas ...

O lar que Deus edifica

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  A pressa tornou-se a marca registrada de nossa geração. Vivemos debaixo da pressão constante do tempo, como se estivéssemos sempre atrasados para algo que nunca termina. Não temos mais tempo: corremos o dia inteiro, e, no final, percebemos que o essencial ficou de lado. O trabalho, que deveria sustentar a família, acabou ocupando o lugar dela. O domingo, antes dedicado ao descanso e à convivência, passou a ser mais um dia cheio de tarefas e compromissos. O lar, que deveria ser um refúgio, transformou-se quase numa pensão: as pessoas só se encontram para dormir, cada uma vivendo em seu próprio ritmo, em sua própria solidão silenciosa. A televisão, o computador e o celular assumiram o lugar da mesa de jantar, onde antes famílias inteiras conversavam, riam, compartilhavam suas preocupações e fortaleciam vínculos. A família já não encontra tempo para estar junta. Pais e filhos habitam a mesma casa, porém vivem isolados sob o mesmo teto. Cada quarto se tornou um pequeno mundo, uma m...

Quando Deus Planta um Mistério no Tempo: Os Nove Meses do Tabernáculo e os Nove Meses da Gestação

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  Ao longo da história bíblica, Deus sempre escolheu trabalhar dentro do tempo, moldando processos, respeitando ritmos e ensinando Seu povo que o sagrado não nasce às pressas. Tanto o Tabernáculo — o primeiro “santuário” entre os homens — quanto o corpo de Jesus — o verdadeiro Tabernáculo encarnado — foram formados ao longo de nove meses , como se o próprio Senhor desejasse gravar no calendário da humanidade a linguagem da gestação espiritual. Não se trata de forçar paralelos, mas de reconhecer que o Deus que age no passado é o mesmo que age no presente, e que Sua pedagogia é profundamente coerente. Ele constrói, espera, prepara e revela no tempo certo. E, ao fazermos essa leitura, percebemos que o Tabernáculo e a gravidez de Maria conversam entre si como sombras e cumprimento, promessa e plenitude. 1. O Tabernáculo: nove meses de obediência, reverência e formação O Tabernáculo não foi uma obra improvisada. A narrativa de Êxodo nos mostra um processo que se estende desde a entr...