De Amargura a Doçura: A Promessa de Rosh Hashaná



Estamos às portas de Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico — um tempo marcado por reflexão, busca de renovação e oração. Um dos gestos mais conhecidos dessa celebração é mergulhar a maçã no mel, sinal de esperança por dias doces e carregados da bondade de Deus.  

Contudo, quando voltamos às Escrituras, o mel (*dvash*, דבש) não aparece apenas como algo saboroso, mas como um **símbolo profético da própria fidelidade de Deus**. Não é apenas doçura na boca, mas uma promessa profunda que se revela no idioma da aliança.  

Na Torá, ao dizer: “Eu vos levarei a uma terra boa e espaçosa, terra que mana leite e mel” (Êxodo 3:8), o Senhor não fala apenas de fertilidade agrícola, mas de um estado de vida pleno, onde cada detalhe da criação transborda de cuidado e providência. O *dvash* em hebraico carrega peso de destino, redenção e pacto — a passagem da escravidão à liberdade, da amargura da servidão para a doçura da promessa cumprida.  

Esse termo simples, “mel”, quando ouvido em hebraico, desperta ecos de libertação e esperança. É como se a própria palavra fosse impregnada da memória coletiva de Israel — marcando a jornada do deserto para a terra prometida, do vazio para a plenitude.  

Não à toa, a Bíblia o utiliza também metaforicamente: “Os preceitos do Senhor são mais doces do que o mel” (Salmo 19:10). O Salmista não compara a Palavra de Deus a um sabor agradável apenas por efeito poético, mas para afirmar que obedecer, confiar e se alimentar dela é experimentar algo mais sublime do que qualquer prazer terreno. Em Ezequiel 3:3, essa ideia retorna quando o profeta diz que a Palavra de Deus era “doce como o mel”; o texto sugere que escutar a voz divina é saborear a própria essência da vida, uma revelação que sacia a alma.  

Assim, ao dizer *dvash*, a língua hebraica nos conduz a contemplar não apenas uma substância doce, mas uma chave de interpretação espiritual: o mel é imagem de **transformação**. Ele sempre carrega em si esse movimento do amargo para o doce, do provisório para o eterno, do vazio para o cheio.  

Em Rosh Hashaná, portanto, ao mergulhar a maçã no mel, não apenas pedimos dias felizes ou suaves. Estamos, em termos bíblicos, proclamando confiança no Deus que transforma a história, que cumpre alianças e que nos conduz não apenas para um tempo melhor, mas para um futuro cheio de esperança — de *dvash


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