Louvor como Resposta à Revelação

Falar a respeito de Deus é sempre precedido pela iniciativa divina de se revelar. Como vimos no início destas exposições, conhecemos a Deus porque Ele se deu a conhecer e nos capacitou a recebê-Lo com fé e reverência.

Afirmamos, portanto, que sem revelação nada sabemos sobre Deus. É por meio da graça objetiva — aquilo que Deus nos comunica por meio das Escrituras e dos Seus feitos — e pela iluminação interior do Espírito que começamos a conhecer o Senhor. Mas, à medida que nos aproximamos dEle, paradoxalmente percebemos o quanto ainda ignoramos. Conhecer a Deus nos conduz, simultaneamente, ao assombro e à adoração. É nesse aprofundamento reverente e vivencial que crescemos em compreensão e humildade.

Deus fala, e nos capacita a falar. Ele se revela, e nos move a responder com louvor.

O louvor bíblico carrega em si elementos de conhecimento, alegria, gratidão e admiração. O Deus Criador é tanto a fonte da nossa alegria quanto o alvo do nosso louvor. No tempo da reconstrução do altar, após o exílio babilônico, o povo que retornara a Jerusalém adorava com júbilo, mesmo sob o terror dos inimigos ao redor:

“1 Em chegando o sétimo mês, e estando os filhos de Israel já nas cidades, ajuntou-se o povo, como um só homem, em Jerusalém.
2 Levantou-se Jesua, filho de Jozadaque, e seus irmãos, sacerdotes, e Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus irmãos, e edificaram o altar do Deus de Israel, para sobre ele oferecerem holocaustos, como está escrito na Lei de Moisés, homem de Deus.
3 Firmaram o altar sobre as suas bases; e, ainda que estavam sob o terror dos povos de outras terras, ofereceram sobre ele holocaustos ao SENHOR, de manhã e à tarde.
4 Celebraram a Festa dos Tabernáculos, como está escrito, e ofereceram holocaustos diários, segundo o número ordenado para cada dia;
5 e, depois disto, o holocausto contínuo e os sacrifícios das Festas da Lua Nova e de todas as festas fixas do SENHOR, como também os dos que traziam ofertas voluntárias ao SENHOR.
6 Desde o primeiro dia do sétimo mês, começaram a oferecer holocaustos ao SENHOR; porém ainda não estavam postos os fundamentos do templo do SENHOR.” (Esdras 3.1–6)

Essa narrativa nos mostra que o louvor não depende de estabilidade externa, mas de convicção interna. O altar foi erguido mesmo antes dos fundamentos do templo estarem prontos. Louvar é confiar no Deus que permanece firme mesmo quando tudo à nossa volta ainda está em reconstrução.

Davi também nos ensina a louvar em meio à dor. Perseguido, caluniado e envolto por angústias, ele clama ao Senhor e reafirma sua confiança. Assumindo um compromisso pessoal e público, declara:

“22 A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação.
23 Vós que temeis o SENHOR, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel...
26 Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o SENHOR os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração.” (Salmo 22.22,23,26)

Aqui, a palavra hebraica usada para louvor é halal, que traz o sentido de brilhar, exaltar, celebrar de forma intensa e visível. Louvar a Deus, portanto, é proclamá-Lo com entusiasmo, tornar pública Sua grandeza. O louvor de Davi brota da convicção de que Deus o ouve, mesmo quando tudo parece estar em silêncio. É um louvor que consola, mas também conclama.

Em outro salmo, Davi expressa essa mesma disposição:

“Louvarei (halal) com cânticos o nome de Deus, exaltá-lo-ei com ações de graças.” (Salmo 69.30)

E mesmo na velhice, quando o vigor físico já não é o mesmo, o salmista testemunha que sua fé permanece viva:

“Os meus lábios estão cheios do teu louvor (tehillah) e da tua glória continuamente.” (Salmo 71.8)

Tehillah é outro termo hebraico para louvor, que se refere a cânticos de adoração que exaltam os feitos de Deus. Não é um louvor mecânico, mas carregado de afeto e memória.

No mesmo salmo, ele declara com convicção:

“Quanto a mim, esperarei sempre e te louvarei (tehillah) mais e mais.” (Salmo 71.14)

A fé que amadurece ao longo da vida tende a louvar com mais profundidade. Mesmo com limitações físicas, o salmista aumenta a intensidade da sua adoração. Não é a força do corpo, mas a firmeza da fé que sustenta o louvor.

Mesmo diante da destruição de Jerusalém pelo exército babilônico, outro salmista declara:

“Quanto a nós, teu povo e ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças; de geração em geração proclamaremos os teus louvores (tehillah).” (Salmo 79.13)

Mesmo em ruínas, o povo não deixou de louvar. Louvar, aqui, é um ato de fé no Deus que ainda pastoreia Seu rebanho — mesmo que o pasto tenha sido queimado.

O salmista também exalta a grandeza do Senhor com as palavras:

“Grande (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado (halal), na cidade do nosso Deus.” (Salmo 48.1)

Mais uma vez, halal é usado, indicando o reconhecimento visível da majestade de Deus. Louvar é tornar notório aquilo que é divino.

Por fim, outro salmo expressa a entrega completa da vida como instrumento de adoração:

“Cantarei ao SENHOR enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus durante a minha vida.” (Salmo 104.33)

Aqui se encontram duas palavras hebraicas importantes: shir e zamar. Shir refere-se ao ato de cantar com melodia, enquanto zamar implica tocar um instrumento e cantar com habilidade e beleza. Ou seja, o louvor bíblico envolve tanto a expressão vocal quanto a excelência artística, ambas direcionadas ao Senhor com reverência.

Devemos, portanto, nos apresentar diante de Deus com gratidão reverente e louvor jubiloso, conscientes de quem é o nosso Pastor — Aquele que nos guia com fidelidade, nos guarda com ternura e nos livra do mal com poder. O louvor é, e sempre será, nossa resposta diante da revelação gloriosa de Deus.

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