Significado de Sal (Melakh Ha-Aretz) no Hebraico Bíblico
Sal da Terra: Um Conservante Natural e Espiritual
Jesus chamou seus seguidores de “sal da terra” (Mateus 5:13), uma expressão que ressoa até hoje, mas cuja profundidade muitas vezes se perde em tradução. Para compreendê-la verdadeiramente, é necessário retornar às línguas originais da Bíblia — o hebraico e o grego — e ao contexto cultural em que foi proferida.
Melakh Ha-Aretz: Sal na Bíblia Hebraica
Em hebraico, “sal da terra” é melakh ha-aretz (מֶלַח הָאָרֶץ). A palavra melakh vem da raiz מ־ל־ח (mem–lamed–chet), que significa tanto “salgar” quanto “preservar”. No Antigo Oriente Próximo, o sal era precioso: além de conservar alimentos em climas quentes como o de Israel, era utilizado para purificação, contratos legais e oferendas a Deus.
A associação entre sal e aliança aparece já em Levítico 2:13:
“Com todas as tuas ofertas oferecerás sal” (ARA).
Aqui, a palavra hebraica usada é também melakh, enfatizando que nenhum sacrifício deveria ser entregue sem ele — pois o sal simbolizava permanência, incorruptibilidade e fidelidade.
A Aliança de Sal: בְּרִית מֶלַח עוֹלָם (Brit Melakh Olam)
Em 2 Crônicas 13:5, lemos que Deus deu o reino a Davi para sempre, “por uma aliança de sal”. Em hebraico:
Brit melakh olam (בְּרִית מֶלַח עוֹלָם) — literalmente, uma aliança eterna de sal.
Essa expressão representa uma aliança inviolável e duradoura, como a estabilidade e incorruptibilidade do próprio sal. Era comum, nas culturas antigas, selar pactos com uma refeição salgada. Uma pitada de sal entre dois aliados selava confiança mútua — um símbolo de integridade que não podia ser dissolvido.
Do Hebraico ao Grego: A Palavra no Novo Testamento
No grego do Novo Testamento, a palavra para sal é ἅλας (hálas), usada por Jesus em Mateus 5:13:
"Ὑμεῖς ἐστε τὸ ἅλας τῆς γῆς" —
Humeis este to halas tēs gēs
“Vós sois o sal da terra.”
Essa linguagem não era apenas metafórica; era espiritual e profética. Jesus estava posicionando seus discípulos como agentes de preservação moral e espiritual num mundo que se corrompe com facilidade. Ser sal era ser fiel à Torá, ao pacto de Deus, e ao chamado de santidade — combatendo a decadência e preservando a verdade.
Preservar a Verdade, Purificar o Mundo
O sal também simbolizava pureza. Em Êxodo 30:35, é usado na composição do incenso sagrado. Isso conecta a ideia de que o sal dos discípulos também purifica ambientes e relacionamentos, tornando-os agradáveis a Deus.
Logo após chamar os discípulos de “sal da terra”, Jesus alertou:
“Se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar?”
Essa afirmação remete a um alerta espiritual: sem autenticidade e compromisso com a verdade, perdemos a essência que transforma o mundo ao nosso redor.
Retornando ao Significado Original
Portanto, ser “sal da terra” — melakh ha-aretz — não é apenas um convite a melhorar o mundo, mas um chamado a viver em fidelidade às alianças de Deus. É uma identidade que exige integridade, influência espiritual, e coragem profética.
A restauração do sentido original dessas palavras passa pelo resgate da linguagem bíblica. Em hebraico e grego, as Escrituras revelam nuances que a tradução muitas vezes dilui. Estudar essas línguas é como voltar ao sabor original do sal — puro, intenso, eterno.
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