O Natal que Desnuda Nossas Ilusões
O Natal, para muitos, tornou-se sinônimo de brilho, consumo e celebração familiar. As vitrines enfeitadas, as mesas fartas e os presentes bem embalados se tornaram a “trindade moderna” desta época do ano. Porém, quanto mais enfeitamos nossas casas, mais corremos o risco de encobrir o real sentido da encarnação. O nascimento de Jesus não foi um conto de fadas, mas um acontecimento que expôs nossa condição humana e confrontou nossas ilusões.
A manjedoura que nos constrange
Quando o Filho de Deus entrou na história, não escolheu palácios, mas uma manjedoura. Esse contraste desarma qualquer lógica de ostentação. Ali, no ambiente mais improvável, a glória eterna se fez carne. O Natal verdadeiro, portanto, não é sobre brilho externo, mas sobre humildade que desnuda nosso orgulho. Preferimos árvores iluminadas porque elas escondem a escuridão de nossas almas, mas a manjedoura nos lembra que o Cristo veio para iluminá-la de dentro para fora.
A espada que corta máscaras
Ao apresentar o menino Jesus no templo, Simeão profetizou: “uma espada traspassará a tua alma” (Lc 2.35). O Natal não foi feito apenas de cânticos angelicais, mas também de espada que rasga nossas máscaras. Ele revela a distância entre aquilo que dizemos celebrar e aquilo que realmente vivemos. Queremos paz, mas fugimos da renúncia. Queremos alegria, mas não suportamos o confronto da verdade. O Natal nos obriga a encarar que não há salvação sem quebrantamento.
O silêncio que antecede a promessa
Antes da chegada de Cristo, Israel enfrentou séculos de silêncio profético. Essa espera dolorosa é parte inseparável da narrativa do Natal. Ela nos confronta porque vivemos na pressa, desejando respostas instantâneas. O nascimento do Salvador nos mostra que a promessa de Deus pode parecer tardia, mas nunca falha. O silêncio não é ausência, é preparação. Esse Natal nos chama a aprender a confiar, mesmo quando Deus parece calado.
Do berço à cruz
Celebrar o Natal sem lembrar da cruz é viver uma ilusão piedosa. O menino na manjedoura nasceu para morrer, e seu primeiro choro já ecoava em direção ao Gólgota. O Natal que confronta não é apenas memória doce, mas convocação dura: entregar-se ao Senhorio de Cristo. Não basta festejar, é preciso morrer para o eu e viver para Ele.
Conclusão
O Natal que desmascara nossas ilusões não cabe nas vitrines nem nas propagandas televisivas. Ele nos chama à humildade, à espera confiante e à entrega radical. Talvez por isso seja tão incômodo: porque preferimos continuar iludidos pelo conforto e pela festa. Mas a manjedoura vazia, com a sombra da cruz ao fundo, continua a gritar que Deus não veio para enfeitar nossa vida, mas para transformá-la por inteiro.
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