O Ungido: Da unção com óleo ao Cristo
No antigo Israel, os reis não eram coroados com ouro, mas ungidos com óleo. Esse ato sagrado era chamado em hebraico meshichá (מְשִׁיחָה), que significa unção. Daí surgiu o título Mashiach (מָשִׁיחַ), o Ungido. Ser ungido não era apenas receber um símbolo de autoridade real, mas ser separado e consagrado para um propósito divino.
Dica do idioma bíblico:
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O verbo hebraico mashach (מָשַׁח) significa “ungir, esfregar, aplicar óleo.”
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O substantivo Mashiach (מָשִׁיחַ) não se limita apenas ao rei. No Antigo Testamento, também sacerdotes (Êxodo 28:41) e até profetas (1 Reis 19:16) foram chamados de ungidos do Senhor.
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Quando o hebraico foi traduzido para o grego na Septuaginta, Mashiach se tornou Christós (Χριστός), e assim surgiu o termo Cristo.
A unção em Betânia
Maria de Betânia compartilhou da esperança que corria no coração de Israel: a expectativa de um Redentor da linhagem de Davi. Quando Jesus estava reclinado à mesa, na casa de Simão, o leproso, ela derramou sobre Sua cabeça um vaso inteiro de nardo puro e precioso.
Na linguagem hebraica, Maria estava realizando uma meshichá — uma unção real e profética. O perfume encheu a casa, marcando Jesus como o Rei prometido e, ao mesmo tempo, preparando-O para Sua missão suprema: entregar-Se até a morte.
Proclamação silenciosa
Naquele momento, sem palavras, Maria proclamou com suas mãos que Jesus era o Mashiach. O gesto dela ecoava a tradição antiga de ungir reis, mas desta vez apontava para um reino eterno.
Com o passar do tempo, o hebraico Mashiach se transformou no grego Christós, e os seguidores de Jesus passaram a ser chamados de christianoi (cristãos), os que pertencem ao Cristo.
Para compreender a força desse ato
Se quisermos realmente captar a intensidade daquela cena — o cheiro marcante do óleo, o peso ritualístico da unção, o espanto dos discípulos — precisamos mergulhar no idioma e na cultura bíblica:
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Óleo em hebraico: shemen (שֶׁמֶן). Mais do que cosmético, era símbolo de alegria, saúde e consagração.
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Perfume em hebraico: bóśem (בֹּשֶׂם), que carrega a ideia de algo raro, caro e reservado para ocasiões sagradas.
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Unção real: lembrar que Davi foi ungido por Samuel (1 Samuel 16:13) exatamente desta forma — não com coroa, mas com óleo que descia sobre sua cabeça.
Assim, Maria não apenas demonstrou devoção pessoal, mas revelou, em linguagem profética e ritual, aquilo que os séculos de esperança messiânica apontavam: Jesus é o Ungido de Deus, o verdadeiro Rei.
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