Natal e Fim de Ano: O Chamado à Comunhão

 

O Natal é uma festa que fala da presença de Deus entre os homens. João afirma que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). Não foi uma aparição distante, mas um Deus que entrou na nossa história, viveu em nossas ruas, comeu em nossas mesas, chorou nossas dores. O nome Emanuel não é um título poético, mas uma verdade que confronta: Deus decidiu estar conosco. Se Ele não viveu isolado, como podemos celebrar Seu nascimento sem cultivar comunhão real?

Vivemos tempos em que muitos associam comunhão apenas a um momento litúrgico, como a Santa Ceia, ou a uma confraternização de fim de ano. Mas a comunhão bíblica é muito mais profunda. A palavra koinonia no Novo Testamento significa “participação mútua”, “compartilhar a vida”. É dar e receber, chorar e celebrar juntos, carregar os fardos uns dos outros (Gl 6:2). A encarnação de Cristo é, portanto, o modelo maior: Ele compartilhou conosco tudo, exceto o pecado.

O fim de ano traz consigo duas realidades espirituais: gratidão pelo caminho percorrido e expectativa pelo que está por vir. Nesse intervalo entre memória e esperança, Deus nos chama à comunhão. O Natal nos lembra que fomos chamados para viver como família de Deus, e o Ano Novo nos desafia a renovar compromissos uns com os outros.

Mas há uma barreira que precisa ser enfrentada: a falta de reconciliação. Muitas famílias se reúnem no fim do ano com sorrisos superficiais, mas com corações feridos. A comunhão verdadeira só floresce quando o perdão é liberado. Paulo declara que “Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2Co 5:18). Isso significa que não podemos proclamar “Feliz Natal” se não estivermos dispostos a perdoar.

A ceia natalina, tantas vezes reduzida a peru e panetone, é um símbolo distorcido se não refletir a mesa do Reino. Em Atos 2:46, a igreja primitiva se reunia com simplicidade de coração, partindo o pão de casa em casa. Não havia luxo, mas havia vida. Não havia fartura para todos, mas havia partilha. Essa é a mesa que precisamos recuperar: aquela que une, que cura, que testemunha a graça de Deus.

Outro ponto essencial é compreender que a comunhão fortalece a fé. O autor de Hebreus nos adverte a não deixarmos de congregar (Hb 10:24-25). O isolamento espiritual tem enfraquecido muitos, e o fim do ano pode ser uma armadilha: alguns se afastam da igreja, justificando-se em cansaço ou compromissos sociais. Mas a comunhão é o que sustenta a caminhada, especialmente nos tempos difíceis.

Por fim, o início de um novo ano é um convite a decisões práticas. Não basta falar de comunhão; é preciso assumi-la em gestos concretos. Talvez seja visitar alguém esquecido, abrir espaço à mesa para quem não tem família, ou reconciliar-se com aquele irmão com quem houve ruptura. Comunhão é missão diária.

O Natal anuncia a vinda do Deus que se fez próximo. O Ano Novo anuncia que a história não terminou e que Ele continua nos chamando a viver como corpo. Portanto, celebrar o Natal e virar o ano sem comunhão é esvaziar o sentido da festa. Mais que palavras, precisamos viver a verdade: Deus conosco significa nós juntos.


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