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A Vontade Decretiva de Deus — O que Ele determina soberanamente

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A vontade decretiva é aquilo que Deus ordena, estabelece e garante que se cumpra. Nada pode frustrar essa vontade, pois ela pertence ao governo soberano do Senhor sobre toda a criação. Nela estão incluídos: Os planos eternos de Deus (Isaías 46:9–10 — “Meu propósito permanecerá de pé, e farei tudo o que me agrada.”) A preservação da História e seus rumos. A eleição, redenção e consumação do Seu povo. Tudo o que Ele determinou antes da fundação do mundo. Essa vontade é, muitas vezes, oculta aos nossos olhos ; nós a percebemos apenas quando ela acontece. É como o bordado visto pelo avesso: não compreendemos todas as linhas, mas confiamos que o Artista enxerga o desenho completo. A tradição cristã sempre ensinou que descansar na vontade decretiva é descansar na soberania de Deus — e isso gera paz profunda para a alma que teme o Senhor. A Vontade Perceptiva de Deus — O que Ele nos ordena obedecer A vontade perceptiva (ou revelada) é aquilo que Deus nos mostra claramente...

Quando o riso se torna promessa: o significado de Yitzḥaq (Isaque) e a redenção do riso na fé bíblica

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Quando o Senhor visitou Abraão e Sara, prometendo-lhes um filho na velhice, a reação humana diante do impossível foi o riso . No entanto, esse riso — inicialmente expressão de incredulidade e cansaço — seria transformado pelo próprio Deus em símbolo de fé e promessa . A história do nascimento de Isaque é um retrato vívido de como o divino redime até as reações mais humanas, convertendo o riso de dúvida em uma melodia de esperança. O riso da incredulidade: o contexto humano de Sara Em Gênesis 18:12 lemos: 📖 “Depois de envelhecida, e sendo também o meu senhor já velho, terei ainda prazer?” O texto hebraico diz: וַתִּצְחַ֥ק שָׂרָ֖ה בְּקִרְבָּ֣הּ לֵאמֹ֑ר אַחֲרֵ֤י בְלֹתִי֙ הָֽיְתָה־לִּ֣י עֶדְנָ֔ה וַאדֹנִ֖י זָקֵֽן׃ Vattitzḥaq Sarah beqirbah lemor: acharei veloti haytah li ‘ednah, va’adoni zaken. A palavra וַתִּצְחַק ( vattitzḥaq ) vem da raiz צ־ח־ק ( tz-ḥ-q ) , que significa rir, escarnecer, brincar . Essa raiz, curiosamente, pode ser positiva ou negativa, dependendo do contexto...

A Tripartição da Lei — Moral, Cerimonial e Civil

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  Desde cedo, a Igreja percebeu que a Lei dada por Deus a Moisés não era um bloco uniforme, mas um conjunto de mandamentos com naturezas distintas. Essa distinção — lei moral, lei cerimonial e lei civil — nunca serviu para dividir o coração da Lei, mas para ajudar o povo de Deus a compreender como cada parte se aplica ao longo da história da salvação. Essa visão honrada pelos séculos preserva o respeito pela Antiga Aliança e a continuidade da revelação divina. 1. Lei Moral — O caráter eterno de Deus revelado A Lei Moral expressa os princípios eternos do caráter do Senhor e, por isso, nunca muda . Ela é resumida nos Dez Mandamentos e reafirmada por Cristo nos dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar ao próximo. Características: Universal e irrevogável. Aplica-se a todos os povos, em todas as épocas. Revela o padrão de santidade do próprio Deus. Cristo não a aboliu; antes, a cumpriu perfeitamente (Mateus 5:17). A tradição da Igreja sempre viu a Lei Moral c...

As Nove Pedras de Ezequiel 28 — Um Retrato da Antiga Glória

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As Nove Pedras de Ezequiel 28 e o Chamado Antigo à Humildade Poucas passagens das Escrituras possuem uma combinação tão forte de beleza e advertência quanto Ezequiel 28. Ali, encontramos a descrição de uma figura majestosa — o “querubim da guarda ungido”, adornado com nove pedras preciosas, estabelecido no monte santo de Deus, cercado de esplendor. Mas é justamente essa figura gloriosa que protagoniza uma das mais trágicas quedas espirituais já registradas na linguagem profética. A tradição sempre leu esse texto como um duplo retrato: por um lado, o rei de Tiro, poderoso e orgulhoso; por outro, uma figura celestial cuja glória o levou a se exaltar além do que lhe cabia. Não importa qual camada interpretativa se escolha — ambas revelam uma verdade eterna: a glória recebida pode se transformar em armadilha quando o coração deixa de reconhecer Aquele que deu a glória. Deus não descreve as nove pedras por acaso. No mundo antigo, pedras preciosas carregavam significado espiritual, status, f...

Otniel e Acsa: um casamento que nasce da coragem e da aliança

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A história de Otniel e Acsa aparece em Josué 15:13–19 e Juízes 1:11–15 , e revela um casal que se forma não apenas por alianças familiares, mas por propósitos espirituais. Em um tempo em que Israel precisava de homens e mulheres firmes na fé, Deus une esses dois personagens de modo a mostrar como marido e mulher podem fortalecer um ao outro no caminho da promessa. Otniel: “Deus é a minha força” O nome Otniel (עָתְנִיאֵל – Otniel ) significa “Deus é força / Deus é meu auxílio poderoso” . Esse sentido já revela seu caráter: um homem que não age pela própria habilidade, mas pela força do Senhor. Foi assim que ele conquistou Debir , cidade difícil e estratégica. Otniel não recuou. Ele avançou confiante, e Deus confirmou seu nome na prática — sua vitória veio pela força divina, não pela presunção humana. Acsa: “ornamento, adorno precioso” O nome Acsa (עַכְסָה – Acsah ) significa “ornamento, tornozeleira”, algo precioso e gracioso . Não se trata de vaidade, mas de valor . O nome i...

Entre a Pedra e o Perdão: A Maturidade do Coração Cristão

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Há momentos na vida em que nos sentimos provocados, feridos, injustiçados. Situações que despertam em nós o desejo de responder no mesmo tom, de devolver na mesma medida, de mostrar que não somos feitos de porcelana. É curioso notar que, na própria Escritura, encontramos personagens que reagiram de maneira impulsiva diante da adversidade: Pedro sacou a espada e cortou a orelha de Malco (Jo 18:10); Davi , ainda jovem, lançou uma pedra certeira que derrubou o gigante Golias (1Sm 17:49). São histórias fortes, marcantes, que carregam imagens de coragem e enfrentamento. Contudo, quando olhamos o conjunto da revelação bíblica, percebemos que o ápice da maturidade espiritual não está na reação violenta, nem na defesa imediata da própria honra. Pelo contrário, o ápice está no perdão . E é justamente aí que muitos tropeçam, porque a espada e a pedra parecem mais simples do que ceder, calar ou liberar alguém de uma dívida moral. A espada e a pedra resolvem no instante. O perdão mexe na alma. ...

Redescobrindo Atos 1–5 com Olhos do Primeiro Século

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A Igreja que Nasceu Judia Introdução Ler o livro de Atos costuma nos levar imediatamente ao nascimento da igreja cristã. No entanto, quando voltamos os olhos ao modo como os primeiros discípulos viviam, descobrimos algo precioso e profundamente enraizado na tradição: a Igreja nasceu dentro do judaísmo . Não nasceu de uma ruptura, mas de uma continuidade. Não brotou de uma desconfiança nas antigas promessas, mas da convicção fervorosa de que Deus estava finalmente cumprindo aquilo que havia prometido a Israel. Atos 1–5 não descreve uma comunidade desligada de suas raízes. Ao contrário, apresenta homens e mulheres que permanecem no Templo, oram nos horários tradicionais, celebram festas bíblicas e mantêm uma vida moldada pelo ritmo do judaísmo do Segundo Templo. Eles acreditavam que Deus estava renovando Sua aliança, restaurando Seu povo e revelando o Messias prometido — e que essa restauração começaria, como os profetas anunciaram, em Jerusalém . Compreender essas raízes não apenas ...