As crianças, A igreja e os Escolhidos

O ponto central sobre crianças pequenas na Bíblia é que elas são indefesas e dependem completamente dos adultos para sobreviver. Precisamos fornecer-lhes alimento, roupas, abrigo e proteção, caso contrário, podem morrer de fome, de frio, de asfixia ou em acidentes. Uma criança pequena não tem noção de autossuficiência. Ela confia totalmente nos pais para tudo e, por um tempo, não se incomoda com isso. Na verdade, ela aprecia essa dependência, e bons pais também adoram essa dinâmica.

Como as crianças são indefesas e dependentes, a Bíblia nos dá duas orientações principais sobre como os adultos devem se relacionar com elas. Primeiro, o fato de serem desamparadas nos chama a ajudá-las. Segundo, essa mesma dependência delas serve como um exemplo para nossa relação com Deus. Podemos resumir essa ideia da seguinte forma: Seja como crianças em sua relação com Deus e aja como Deus em relação às crianças. Ou, em outras palavras: confie no cuidado paternal de Deus para suprir todas as suas necessidades e, com os recursos que Ele te dá, cuide das necessidades das crianças.

Acredito que este é um resumo do que a Bíblia ensina sobre a relação entre crianças e adultos. No entanto, gostaria de aprofundar essas lições, destacando duas advertências principais: 1) cuidar das crianças e 2) aprender a ser como elas. Vamos começar com a primeira: as crianças nascem totalmente dependentes, e Deus nos encarrega de suprir suas necessidades. Ele não faz isso diretamente, mas age por meio de nós.

Ajudar as crianças
O primeiro ponto a considerar é a importância dos primeiros anos de vida. Eclesiastes 12:1 nos adverte: "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que dirás: 'Não tenho neles prazer'." A verdade é que, assim como é difícil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha, é desafiador para um idoso se converter e entrar no Reino de Deus. Ensinar novas lições a uma pessoa mais velha é complicado, ainda mais quando se trata de reconhecer que desperdiçou sua vida.

Por outro lado, uma alma que é moldada na fé cristã desde a juventude desenvolve uma profunda força interior. Alguém cuja esperança está no Deus de Abraão, Isaque e Jacó desde cedo, carrega essa confiança por toda a vida. O Salmo 71 reflete as palavras de um homem idoso, que olha para trás e reconhece a fidelidade de Deus ao longo dos anos. Ele diz:

"Ó Deus, desde a minha juventude, tu me ensinaste, e ainda proclamo as tuas maravilhas. Agora que estou velho e de cabelos grisalhos, não me abandones, ó Deus, até que eu anuncie o teu poder às gerações vindouras... Tu, que fizeste grandes coisas, ó Deus, quem é como tu? Tu, que me fizeste passar por muitas angústias, me farás reviver novamente..." (Salmo 71:17-20).

É algo magnífico quando um homem idoso pode se levantar e dizer: "Deus tem sido minha esperança desde a juventude. Passei por dificuldades dolorosas, mas nunca fui abandonado, e, pela graça de Deus, também nunca o abandonei." Esse é o testemunho que desejo que meus filhos possam dar daqui a 70 anos. Não quero que eles precisem contar histórias dramáticas de conversão. Quero que, como eu espero dizer com o salmista: "Pois tu, ó Senhor, és a minha esperança; a minha confiança, Senhor, desde a minha juventude" (Salmo 71:5).

As crianças precisam de treinamento
Uma vez que esse objetivo para as crianças fica claro, ouvimos a ordem de Deus para que os pais as treinem na fé. Aqui, deixarei uma lacuna para ser preenchida em outro momento, referente à responsabilidade dos pais — especialmente dos pais — de educar seus filhos na fé em casa. Por agora, basta ouvir o que Moisés diz: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos e delas falarás sentado em tua casa, andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te" (Deuteronômio 6:6-7). Essas palavras não podem ser honestamente parafraseadas como: "Deixe seus filhos na escola dominical para aprenderem sobre Deus". Pais que fazem apenas isso estão desobedecendo a Deus. Mas falarei mais sobre isso em outro momento.

Hoje, quero focar nossa atenção em dois ensinamentos menos comuns das Escrituras. Há duas semanas, todas as crianças do primeiro ano em diante começaram a frequentar o culto de domingo pela manhã com seus pais ou um responsável, em vez de participarem de um serviço separado para crianças. Acho que essa mudança aconteceu em grande parte por minha influência, por isso gostaria de explicar à congregação maior o motivo dessa decisão, assim como já expliquei ao Conselho da Igreja.

Depois que Josué conduziu os israelitas à Terra Prometida e capturou várias cidades, ele ergueu um altar no Monte Ebal e leu a lei em uma grande cerimônia. Josué 8:34-35 diz:

"Leu todas as palavras da lei, a bênção e a maldição, conforme tudo o que está escrito no livro da lei. Não houve uma só palavra de tudo o que Moisés ordenou que Josué não lesse diante de toda a congregação de Israel, inclusive as mulheres, as crianças e os estrangeiros que habitavam entre eles."

Vemos que, ao menos em parte do tempo, as crianças pequenas eram incluídas no culto no Antigo Testamento.

Por que as famílias devem adorar juntas na igreja?

Existem pelo menos três razões pelas quais pedi que, a partir da primeira série, as crianças se juntem aos pais no culto.

Primeiro, vivemos em uma era onde as pressões externas estão constantemente fragmentando a família. Pais estão exaustos e, por isso, acabam não passando tempo de qualidade com seus filhos; muitas mães são atraídas para o mercado de trabalho, afastando-se dos pequenos; e as crianças têm suas próprias atividades separadas. O único momento em que a família se reúne acaba sendo na frente da televisão, onde todos são passivos. Em meio a essa cultura de individualismo e busca por auto-realização, a igreja, como defensora dos princípios bíblicos, precisa resistir a essas pressões e afirmar o valor e a beleza dos laços familiares. A adoração é um lugar ideal para começar a fortalecer esses vínculos. Fazer da adoração um momento em família pode ser uma resposta poderosa a essa fragmentação.

Segundo, as crianças de cinco, seis, sete e oito anos podem se beneficiar enormemente da participação no culto. Muitas crianças pequenas já fizeram sua profissão de fé após participarem dos cultos. Mesmo que boa parte do sermão esteja acima do nível de compreensão delas, elas ainda assim aprendem. Elas assimilam teologia e piedade por meio dos hinos, se familiarizam com a liturgia e experimentam momentos profundos de adoração, como o silêncio reverente ou a intensidade de uma oração fervorosa. Semana após semana, ao verem os adultos curvados em adoração, elas aprendem que é ali que pertencem aos domingos pela manhã e que há uma maneira adequada de se comportar durante o culto.

Terceiro, quero que nossa igreja rejeite as baixas expectativas em relação à educação infantil e as atitudes permissivas em relação ao comportamento das crianças. Em 1 Timóteo 3:4, Paulo ensina que um bispo deve "governar bem sua casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a dignidade." Esse princípio não se aplica apenas aos líderes da igreja, mas é um ideal para todas as famílias. Crianças devem ser ensinadas a serem submissas e respeitosas em tudo. A desobediência não deve ser tolerada. Elas devem aprender a obedecer prontamente e sem questionar. Pais que permitem que seus filhos desobedeçam sem consequências estão falhando no dever bíblico de educá-los. Quando uma criança desobedece, a correção deve ser rápida, consistente e firme, sem raiva ou humilhação. O provérbio continua verdadeiro: "Quem poupa a vara odeia o filho, mas quem o ama, desde cedo o corrige" (Provérbios 13:24). Esperar que uma criança de seis anos se sente em silêncio e respeite o culto por uma ou duas horas não é uma expectativa alta, e devemos exigir isso delas para a honra de Deus.

Por essas três razões, gostaria que nossos cultos se tornassem momentos familiares. Acredito que isso está em harmonia com os princípios bíblicos e é especialmente necessário em nossos dias.

Recebendo as Crianças

Agora, deixe-me esclarecer onde estamos. Dividi o ensino bíblico em duas partes: 1) devemos ajudá-las e 2) devemos ser como elas. Na primeira parte, já vimos a importância de ajudá-las ao treiná-las para a adoração. Agora, quero destacar outro texto dentro desse contexto de ajudar as crianças: Lucas 9:46-48.

Nesse texto, surge uma discussão entre os discípulos sobre quem seria o maior. Jesus, percebendo os pensamentos deles, toma uma criança e a coloca ao Seu lado e diz: "Quem recebe esta criança em meu nome, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vocês for o menor, esse é o maior."

Quem são as pessoas mais importantes na Igreja? O pastor que fala com todos no domingo? Os administradores que cuidam das finanças? Os diáconos, responsáveis por coordenar os planos e metas da igreja? Segundo Jesus, as grandes pessoas são aquelas que acolhem as crianças em Seu nome. Aqueles que abrem as portas da casa de Deus e recebem cada criança preciosa por causa de Cristo – essas são as grandes pessoas.

Se formos como Jesus, nunca nos esqueceremos dessas pessoas. Seremos gratos por elas, oraremos por elas e as apoiaremos. Devemos nos animar com o entusiasmo das crianças e trazê-las para dentro da igreja, para que possam experimentar o amor e a graça de Cristo. E enquanto essas crianças estiverem presentes, causarem suas travessuras, estaremos orando fervorosamente por elas e por uma transformação poderosa. Quando Deus vê essa combinação – crianças sendo recebidas em Seu nome e Seus filhos maiores orando por elas – Ele certamente se alegrará.

Seja como as crianças

Agora, essa ideia de "filhos grandes" nos leva à segunda parte do que a Bíblia ensina sobre os eleitos e as crianças: devemos ser como elas. Em Mateus 18:1-4, Jesus diz:

"Naquele momento, os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: 'Quem é o maior no Reino dos Céus?' Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: 'Em verdade vos digo que, a menos que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus. Portanto, quem se humilhar como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.'"

A igreja não é apenas uma assembleia dos eleitos, mas também uma comunidade infantil. Jesus foca, no versículo 4, na humildade: "Aquele que se humilha como esta criança..." Sabemos que, em muitos aspectos, as crianças não são naturalmente humildes. Elas podem ser egoístas, exigentes e, muitas vezes, acham que o mundo gira em torno delas, até serem ensinadas de outra forma. Mas há uma humildade inata nelas: elas são impotentes e totalmente dependentes dos pais para suas necessidades de vida, e aceitam essa dependência sem questionar. Nos primeiros anos, as crianças confiam plenamente na provisão de seus pais e se alegram com ela, vivendo de forma despreocupada. Enquanto todos ao redor podem estar tensos, preocupados, as crianças dormem tranquilamente, riem e se mostram completamente confiantes de que seus pais cuidarão de tudo.

Nesses momentos, as crianças são uma imagem clara da confiança que devemos ter em Deus, nosso Pai celestial. Humilhar-se como uma criança significa reconhecer nossa total dependência de Deus, aceitar que somos desamparados sem Ele, e confiar de todo o coração em Seu cuidado paternal. Essa humildade desperta o amor protetor de Deus por nós, e nos liberta de toda ansiedade.

Resumindo, o principal ensinamento da Bíblia sobre nós e as crianças é o seguinte: devemos confiar no cuidado paternal de Deus para suprir todas as nossas necessidades, e, com esse suprimento, atender às necessidades das crianças, seja em casa ou na igreja. Em outras palavras, sejamos como crianças em relação a Deus, e como Deus em relação às crianças.


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