A Verdadeira História de Satanás no Contexto Hebraico e Grego


No hebraico bíblico, "Satanás" (שָׂטָן, Satan) significa literalmente "adversário" ou "acusador". Ele não é originalmente uma figura do mal absoluto, como aparece mais tarde na teologia cristã, mas é visto como uma entidade celestial que age como um promotor, testando e acusando os seres humanos diante de Deus. A palavra Satan é derivada da raiz hebraica שׂ-ט-נ (satan), que significa "opor-se", "ser adversário". No Tanach (Antigo Testamento), Satanás aparece principalmente no livro de Jó, Zacarias e em 1 Crônicas.

Satanás como o Acusador

O papel de Satanás como o acusador é exemplificado de maneira clara em Jó 1:6-12 e Jó 2:1-7, onde Satanás aparece no "conselho celestial" (uma assembleia de seres divinos) perante Deus. Satanás desafia a retidão de Jó, acusando-o de ser fiel a Deus apenas por causa de suas bênçãos materiais. Deus permite que Satanás teste Jó, mas dentro de certos limites. Aqui, Satanás age como um adversário no sentido jurídico, aquele que desafia e questiona a integridade dos humanos.

No texto hebraico de Zacarias 3:1-2, Satanás aparece novamente como um adversário diante de Deus, acusando o sumo sacerdote Josué. Nessa passagem, Deus repreende Satanás, indicando que a misericórdia divina prevalece sobre a acusação.

Em 1 Crônicas 21:1, Satanás incita Davi a realizar um censo de Israel, algo que era visto como um ato de desconfiança na provisão de Deus. Este versículo reflete a transição da compreensão de Satanás no judaísmo pós-exílico, passando de um simples adversário a uma figura mais claramente associada ao mal.

Evolução da Figura de Satanás no Judaísmo e Cristianismo

Embora Satanás desempenhe o papel de adversário e acusador no Tanach, ele não é retratado como o inimigo absoluto de Deus, como seria mais tarde nas tradições cristãs. A transformação da figura de Satanás de um acusador celestial para o mal personificado ocorre no período intertestamentário e no Novo Testamento.

No grego do Novo Testamento, "Satanás" (Σατανᾶς, Satanas) e "diabo" (διάβολος, diabolos) são frequentemente usados de forma intercambiável. A palavra diabolos significa "caluniador" ou "difamador", e é usada para descrever Satanás como o inimigo dos seres humanos, o tentador e o arqui-inimigo de Deus. Em Mateus 4:1-11, Satanás aparece tentando Jesus no deserto, oferecendo-lhe o domínio sobre o mundo em troca de adoração.

No Novo Testamento, o papel de Satanás se amplia. Ele é descrito como o "deus deste século" (2 Coríntios 4:4) e o "príncipe das potestades do ar" (Efésios 2:2), uma figura que personifica a oposição a Deus e à justiça.

A Queda de Satanás e Lúcifer

A tradição cristã posterior associa Satanás à figura de "Lúcifer" (do latim lux ferre, "portador de luz"), baseado na passagem de Isaías 14:12-15. O hebraico original usa a palavra הֵילֵל (heilel), que significa "estrela da manhã" ou "portador de luz". O texto de Isaías, no entanto, refere-se ao rei da Babilônia, que foi derrubado de seu trono em sua arrogância. Esta passagem foi posteriormente interpretada na tradição cristã como uma alegoria para a queda de Satanás do céu.

Em Ezequiel 28:12-17, a queda do "rei de Tiro" também é vista como uma possível referência simbólica à queda de Satanás. Ele é descrito como um ser que foi perfeito em beleza e sabedoria, mas foi expulso do monte de Deus por causa do orgulho.

Satanás como o Tentador

Uma das principais funções de Satanás no Novo Testamento é a de tentador. Em Mateus 4:3, ele é chamado de "tentador" (peirazon), tentando Jesus a transformar pedras em pão, a pular do pináculo do templo e a adorá-lo em troca de todos os reinos da Terra. Este papel de Satanás como tentador está ligado à sua missão de desviar os seres humanos do caminho de Deus.

No hebraico bíblico, a tentação está ligada ao conceito de nisayon (ניסיון), que significa "teste" ou "prova". Satanás, como o adversário, é aquele que cria esses testes para verificar a fé e a fidelidade dos seres humanos. No caso de Jesus, Satanás tentou desviar o Messias de Sua missão divina.

O Destino Final de Satanás

O destino final de Satanás é um tema central no livro de Apocalipse. Em Apocalipse 20:10, lemos que o diabo, que enganou as nações, será lançado no lago de fogo e enxofre, onde será atormentado para sempre. Esta imagem do destino de Satanás contrasta com sua função anterior como adversário no Tanach, agora assumindo o papel de inimigo definitivo de Deus e da humanidade.

Conclusão

A figura de Satanás no hebraico bíblico começa como um simples adversário, um acusador que age de acordo com a vontade de Deus. No entanto, à medida que a teologia judaica e cristã evolui, Satanás se transforma em uma personificação do mal, um ser em oposição direta a Deus e aos propósitos divinos. O hebraico Satan e o grego diabolos encapsulam sua função como acusador, caluniador e tentador, cuja missão é testar a fé dos seres humanos e desafiá-los a se afastarem de Deus. A história de Satanás revela uma figura complexa, que evolui de acusador celestial a inimigo cósmico, culminando em sua derrota final nas visões apocalípticas do Novo Testamento.

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