Cantares: Entre o Físico e o Espiritual

Este artigo foi escrito há muito tempo e permaneceu em rascunho por anos, mas decidi publicá-lo agora devido à sua importância e relevância para os dias atuais. O tema permanece atemporal, abordando o amor em Cantares como uma união de almas que transcende o físico e alcança a harmonia espiritual.
Pra Denise Mardegan

Ao longo dos séculos, a Igreja Cristã do Ocidente reinterpretou o Livro de Cantares (Cântico dos Cânticos) e outros textos bíblicos com o objetivo de moldar e regular a compreensão da sexualidade entre seus fiéis. O contexto erótico original de Cantares, com sua linguagem sensual e apaixonada, foi, em muitos aspectos, suavizado ou reinterpretado para se alinhar com as normas morais e espirituais que a Igreja considerava adequadas. Essas interpretações influenciaram profundamente o que era considerado lícito ou ilícito nas relações conjugais. Para compreender essas alterações, também é útil explorar o significado de algumas palavras hebraicas presentes em Cantares que têm implicações sexuais.

1. Erotismo no Texto Hebraico de Cantares

O Livro de Cantares, escrito originalmente em hebraico, contém várias palavras e imagens que têm conotações sexuais explícitas ou sugerem a intimidade física entre o amado e a amada. A seguir, exploramos algumas dessas palavras hebraicas e seus significados, além de como a Igreja do Ocidente reinterpretou essas imagens.

Dodim (דּוֹדִים) – Amor ou Carícias Íntimas

  • Significado Hebraico: A palavra "dodim" é usada em Cantares para descrever o amor romântico e sensual entre o amado e a amada. Ela pode ser traduzida como "carícias" ou "atos de amor". Em Cantares 1:2, lemos: "Beije-me ele com os beijos de sua boca, porque o teu amor (דּוֹדֶיךָ, dodeicha) é melhor do que o vinho." Aqui, o termo não se refere apenas a um amor emocional, mas também a carícias físicas e íntimas.

  • Interpretação pela Igreja: Ao longo dos séculos, a Igreja substituiu essa leitura literal e erótica, interpretando o termo dodim como uma representação do amor espiritual entre Cristo e a Igreja ou entre Cristo e a alma individual. O significado sexual da palavra foi minimizado, e o enfoque passou a ser a espiritualização do amor.

Shadayim (שָׁדַיִם) – Seios

  • Significado Hebraico: Em Cantares 4:5, a palavra "shadayim" (seios) aparece: "Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela." O uso dos seios na poesia hebraica antiga é uma clara referência à beleza física e ao erotismo.

  • Interpretação pela Igreja: A Igreja adotou uma interpretação alegórica para esses versículos, relacionando os seios com a fecundidade espiritual da Igreja ou das virtudes espirituais da alma. A sensualidade inerente à descrição foi suavizada, transformando-se em uma metáfora para a graça ou a plenitude espiritual que os crentes devem alcançar.

Reah (רֵיחַ) – Perfume ou Aroma

  • Significado Hebraico: O termo "reah" em hebraico significa "perfume" ou "aroma". Em Cantares 1:3, o perfume do amado é comparado a um óleo derramado: "O aroma dos teus ungüentos é bom; o teu nome é como óleo derramado." Essa metáfora sugere uma atração sensual e o prazer físico que o amado provoca na amada.

  • Interpretação pela Igreja: Para a Igreja, o aroma foi interpretado como uma metáfora do caráter espiritual ou da presença divina. Em vez de focar na atração física e no desejo sexual, o aroma passou a simbolizar a fragrância espiritual de Cristo, que atrai os crentes com Sua santidade e pureza.

2. Controle sobre a Sexualidade Conjugal

Com o tempo, a Igreja do Ocidente passou a regular intensamente a sexualidade dentro do casamento, impondo normas sobre o que era considerado lícito ou ilícito na vida conjugal. O erotismo presente em Cantares foi reinterpretado para apoiar essas normas.

Sexo para a Procriação

  • Ensinamento da Igreja: A Igreja ensinava que o principal objetivo do sexo no casamento era a procriação. Qualquer uso do sexo que não tivesse esse fim poderia ser considerado ilícito ou pecaminoso. Embora o prazer sexual não fosse completamente negado, ele era visto como aceitável apenas dentro dos limites da procriação.

  • Alteração Simbólica: Em passagens como Cantares 4:12, onde a amada é descrita como um "jardim fechado", a Igreja interpretou essa imagem como uma metáfora da pureza e da santidade que o casal deve manter em sua união sexual, e não como uma referência direta à sexualidade feminina. O conceito de "jardim fechado" foi relacionado à virgindade e à castidade, reforçando a ideia de controle sexual.

Conduta Sexual Moderada

  • Dias Proibidos para o Sexo: Durante a Idade Média, a Igreja instituiu restrições quanto aos dias em que os casais poderiam manter relações sexuais. Certos períodos litúrgicos, como a Quaresma e o Advento, exigiam abstinência sexual, e os casais deviam evitar o sexo antes de participar dos sacramentos.

  • Símbolos de Pureza em Cantares: A expressão "leito verde" em Cantares 1:16, que na leitura literal poderia simbolizar um espaço de intimidade e prazer sexual, foi reinterpretada como um símbolo de pureza espiritual. Em vez de um espaço de prazer erótico, o leito foi visto como uma representação da paz e harmonia espiritual que os crentes devem buscar em sua vida conjugal.

3. O Pecado e o Controle do Corpo

A Igreja passou a ver o corpo humano, especialmente o desejo sexual, como algo que precisava ser rigidamente controlado. O pecado original foi interpretado como uma mancha que afetava profundamente a relação do homem com sua sexualidade.

O Controle do Desejo Feminino

  • Significado de "Sulâmı̂t" (שׁוּלַמִּית): A amada é chamada de "Sulamita" em Cantares 7:1, uma figura que é alvo de desejo e atração. O nome Sulamita deriva da raiz hebraica relacionada a "paz" (שָׁלוֹם, shalom), mas no contexto de Cantares, a figura dela simboliza não só a beleza e a paz, mas também o desejo sexual.

  • Interpretação da Igreja: Na visão da Igreja, a mulher, especialmente em sua sexualidade, era muitas vezes vista como uma tentação para o homem. Assim, o desejo sexual feminino foi reprimido, e as mulheres eram incentivadas a manter um comportamento passivo e submisso no casamento. A Sulamita foi reinterpretada como a Igreja, devotada e submissa ao amor de Cristo, em vez de uma mulher que expressa seu desejo sexual com liberdade.

4. Alterações na Simbologia de Cantares

À medida que a Igreja moldava suas doutrinas sobre o corpo e a sexualidade, ela alterou a simbologia original de Cantares para se adequar aos seus ensinamentos morais.

A Amada como a Igreja

  • A descrição da amada como bela e desejada foi transformada numa representação da Igreja, que é amada por Cristo. A linguagem erótica foi reinterpretada para simbolizar o amor espiritual e a fidelidade de Cristo por sua noiva, a Igreja. Assim, o termo dodim, que expressa amor físico, foi reinterpretado para significar o amor espiritual e sacrifical de Cristo por sua Igreja.

Cristo como o Esposo Celestial

  • O amado, que no texto original de Cantares é descrito com atração física e sexual, foi associado a Cristo, o Esposo Celestial, cujo amor é santo e sacrificial. Isso distanciou a narrativa de qualquer conotação sexual, elevando o relacionamento para um plano espiritual, em que o desejo físico é visto apenas como uma sombra do amor espiritual entre Cristo e a humanidade.

Impactos 

A mudança na interpretação do Livro de Cantares e a consequente regulamentação da sexualidade pela Igreja Cristã do Ocidente teve um impacto profundo e duradouro na forma como a sexualidade, especialmente dentro do casamento, foi compreendida e vivida nas sociedades ocidentais. Esse impacto se manifestou em várias áreas, desde a moralidade e a teologia até as estruturas sociais e a vida cotidiana dos fiéis. A seguir, detalho os principais impactos dessa mudança:

1. Repressão da Sexualidade e Enfoque na Castidade

A principal consequência da mudança na interpretação de Cantares e no controle da sexualidade foi a criação de uma cultura de repressão sexual. A Igreja desenvolveu uma teologia que via a sexualidade como algo que precisava ser controlado rigorosamente, e essa repressão teve várias implicações:

  • Culpa e Vergonha em Relação ao Sexo: A sexualidade, que originalmente era vista como uma parte natural e até sagrada da vida humana, passou a ser associada à culpa e à vergonha. A ênfase da Igreja em que o sexo fosse exclusivamente para a procriação e que o prazer sexual fosse controlado ou minimizado gerou um sentimento de desconforto em relação ao corpo e ao desejo. O erotismo presente em Cantares, que celebrava o amor e o desejo, foi descontextualizado, e as práticas sexuais eram frequentemente vistas como uma queda na moralidade.

  • Idealização da Castidade: A castidade e a virgindade passaram a ser exaltadas como estados espiritualmente superiores. O sexo, mesmo dentro do casamento, era visto como algo a ser praticado com grande moderação e frequentemente apenas para a procriação. O ideal de pureza se tornou dominante, com figuras como a Virgem Maria sendo associadas à perfeição espiritual, contrastando com o desejo sexual.

2. Controle sobre o Corpo Feminino

A mudança também impactou profundamente a maneira como a sexualidade feminina era percebida e controlada. A figura feminina no Cântico dos Cânticos, que inicialmente era uma figura de desejo e reciprocidade sexual, foi reinterpretada como submissa e passiva, o que teve implicações importantes para o papel da mulher na sociedade.

  • O Corpo Feminino como Tentação: A Igreja muitas vezes retratava o corpo da mulher como uma fonte de tentação para o homem, e o desejo feminino era considerado perigoso ou suspeito. Isso resultou em restrições significativas à liberdade sexual da mulher e em expectativas rígidas de submissão e modéstia. A mulher deveria ser pura, tanto física quanto moralmente, e seu papel no casamento era amplamente definido pela procriação e pela obediência ao marido.

  • Silenciamento do Desejo Feminino: O desejo feminino, que é expressado de forma vibrante e natural em Cantares, foi reprimido. A sexualidade feminina passou a ser controlada pela Igreja e pela sociedade, sendo o prazer feminino dentro do casamento muitas vezes ignorado ou minimizado. A mulher era instruída a cumprir seu "dever conjugal" em prol da procriação e não por desejo próprio.

3. Redefinição do Casamento e da Vida Conjugal

O casamento, que na visão original de Cantares incluía tanto o amor emocional quanto o desejo sexual, passou a ser visto principalmente como um meio para a procriação e para a regulação da sexualidade dentro de um contexto legal e moral. Isso teve impacto direto na maneira como as relações conjugais eram entendidas e vividas.

  • Procriação como Foco Principal: A relação sexual no casamento foi redefinida como um meio para gerar filhos, com o prazer sexual sendo secundário ou até indesejável se não estivesse vinculado à procriação. Isso criou uma visão restrita do casamento, onde o amor e a intimidade emocional e física poderiam ser vistos com desconfiança se não estivessem diretamente relacionados ao objetivo de criar uma família.

  • Papel do Marido e da Esposa: O papel do marido como o chefe da família e da esposa como submissa foi reforçado por essa visão. O erotismo e a reciprocidade do desejo, tão evidentes em Cantares, foram minimizados, e o casamento tornou-se um espaço hierárquico onde as responsabilidades e as expressões de afeto físico eram rigidamente definidas.

4. Ascensão do Ideal Monástico e a Desvalorização da Sexualidade

Outro grande impacto foi a elevação do ideal monástico, que promovia a virgindade e a abstenção sexual como estados espiritualmente superiores. Esse ideal impactou a cultura geral, desvalorizando a sexualidade como parte da vida cotidiana e glorificando aqueles que se abstinham completamente de relações sexuais.

  • Celibato como Estado Superior: A vida monástica e o celibato clerical foram apresentados como formas mais elevadas de servir a Deus, levando a uma desvalorização implícita da vida sexual e conjugal. A sexualidade, que originalmente fazia parte da criação divina em Gênesis e era celebrada em Cantares, tornou-se algo a ser controlado ou evitado.

  • Consequências para o Clero: Para o clero, o celibato obrigatório estabelecido pela Igreja no Ocidente destacou essa visão da superioridade da abstinência sexual. Isso não apenas reforçou a separação entre o sagrado e o profano, mas também moldou a maneira como o clero abordava a sexualidade nas práticas pastorais, muitas vezes impondo a mesma rigidez sobre seus paroquianos.

5. Impacto Cultural e Social Duradouro

Essas mudanças na interpretação de Cantares e no controle da sexualidade geraram um impacto cultural profundo que persiste até os dias atuais.

  • Influência na Moralidade Ocidental: A moralidade sexual ocidental foi amplamente moldada por esses ensinamentos da Igreja. Mesmo com o secularismo e as mudanças modernas, muitos dos valores e normas em torno do sexo e do casamento ainda refletem, de certa forma, essa herança cristã de controle sexual e valorização da castidade.

  • Dualidade entre o Sagrado e o Profano: A separação entre o sagrado (espiritual) e o profano (físico e sexual) se intensificou com o tempo. Essa dualidade moldou a visão de que o corpo e seus desejos eram inferiores ao espírito e à busca da santidade. A tensão entre essas esferas ainda influencia debates contemporâneos sobre sexualidade, pureza e espiritualidade.

6. A Redescoberta da Sexualidade nos Tempos Modernos

Nos últimos séculos, especialmente com a chegada da Reforma Protestante e movimentos subsequentes de crítica ao moralismo sexual, houve uma gradual redescoberta do aspecto positivo da sexualidade humana.

  • Reconciliação entre o Amor Físico e o Espiritual: Nos tempos modernos, teólogos e estudiosos começaram a revisitar o Livro de Cantares e a reconhecê-lo não apenas como uma alegoria espiritual, mas também como uma celebração legítima do amor físico e sexual dentro do casamento. Muitos argumentam que a sexualidade é uma parte integral da experiência humana e da criação divina, e que o erotismo de Cantares deve ser apreciado em sua totalidade.

Impacto Duradouro e Transformações Contemporâneas

A mudança na interpretação de Cantares pela Igreja Cristã do Ocidente e o controle sobre a sexualidade resultaram em uma tradição de repressão sexual, valorização da castidade e regulamentação rigorosa das relações conjugais. Esses impactos moldaram profundamente a visão do corpo e do desejo, especialmente no que diz respeito à mulher e à sexualidade no casamento.

No entanto, com o tempo, essas interpretações rígidas começaram a ser desafiadas, e hoje há uma maior valorização do aspecto positivo da sexualidade, tanto no âmbito religioso quanto secular. O Livro de Cantares continua a ser uma fonte rica de reflexão sobre o amor e a sexualidade, oferecendo novas possibilidades para a reconciliação entre o amor físico e o espiritual.

A Reforma Protestante

A Reforma Protestante trouxe mudanças significativas em várias áreas da teologia e prática cristã, incluindo a forma como a Bíblia, e em particular o Livro de Cantares (Cântico dos Cânticos), foi interpretada. No entanto, a abordagem dos reformadores em relação a Cantares não foi radicalmente diferente da da Igreja Católica no sentido de espiritualizar o conteúdo do livro. Houve algumas mudanças de ênfase, mas muitos aspectos da interpretação alegórica e espiritual permaneciam presentes. Aqui estão os principais pontos sobre como a Reforma Protestante influenciou a interpretação de Cantares:

1. Retorno às Escrituras: A Valorização do Texto Literal

Os reformadores, como Martinho Lutero e João Calvino, enfatizaram a importância da Sola Scriptura (somente as Escrituras), o que levou a uma leitura mais direta e acessível da Bíblia. Isso incluía um foco maior no significado literal e no contexto histórico dos textos bíblicos, incluindo Cantares.

  • Martinho Lutero: Lutero via o Cântico dos Cânticos como uma representação do amor entre Cristo e Sua Igreja, seguindo a tradição alegórica. No entanto, ele também reconheceu o valor do casamento e do amor humano como parte da criação de Deus. Lutero enfatizou que o casamento era uma instituição divina e que a sexualidade, dentro dos parâmetros do casamento, era boa e ordenada por Deus.

  • João Calvino: Calvino, embora mais focado na leitura espiritual e alegórica de Cantares, também defendia o casamento como uma expressão legítima do amor de Deus. Ele via o relacionamento conjugal, incluindo a sexualidade, como uma bênção dentro da aliança de Deus com Seu povo. Em suas interpretações, ele manteve a tradição de interpretar o livro como um símbolo do relacionamento entre Cristo e a Igreja.

2. Reavaliação do Casamento e da Sexualidade

Uma das maiores contribuições da Reforma Protestante foi a revalorização do casamento e da sexualidade no contexto conjugal. Enquanto a Igreja Católica, especialmente na Idade Média, havia dado primazia ao celibato e à castidade como estados espiritualmente superiores, os reformadores colocaram o casamento no centro da vida cristã.

  • Casamento como uma Vocação Divina: Para os reformadores, o casamento foi elevado ao nível de uma vocação divina, e não mais visto como uma condição inferior ao celibato. Isso influenciou a maneira como Cantares foi entendido: o amor erótico e conjugal retratado no livro poderia ser visto como uma celebração do amor de Deus refletido no casamento humano. Esse enfoque ajudou a reafirmar o valor da união física e emocional entre marido e esposa.

  • Contra o Celibato Obrigatório: Um ponto chave da Reforma foi a rejeição do celibato obrigatório para o clero. Martinho Lutero, que se casou com a ex-freira Katharina von Bora, destacou que o casamento era uma parte saudável e ordenada da vida cristã, e que o amor conjugal, incluindo o prazer sexual, era parte do desígnio de Deus para a humanidade. Nesse sentido, a Reforma permitiu uma maior aceitação do erotismo implícito em Cantares como parte da boa criação de Deus.

3. Rejeição de Excessos Alegóricos e Místicos

Os reformadores protestantes foram críticos de muitas interpretações alegóricas e místicas da Bíblia, que haviam sido promovidas por alguns teólogos medievais e místicos da Igreja Católica. Eles buscaram uma leitura mais equilibrada e, em alguns casos, mais literal, da Escritura.

  • Ceticismo sobre Alegorias Extensas: Embora os reformadores mantivessem a interpretação alegórica de Cantares como uma representação do amor entre Cristo e a Igreja, eles eram mais cautelosos com interpretações alegóricas exageradas. João Calvino, por exemplo, criticou alegorias muito detalhadas e complexas, que ele via como distrações do significado mais claro do texto. Ele enfatizava que a Bíblia deveria ser entendida em termos claros e racionais.

  • Espiritualidade Simplificada: Em contraste com a tradição mística católica, que muitas vezes via o Cântico dos Cânticos como uma descrição da união mística entre a alma e Deus, os protestantes focavam mais na clareza teológica. Embora ainda mantivessem o simbolismo espiritual, eles evitavam as complexidades místicas que haviam sido comuns nos escritos de figuras como São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila.

4. O Significado de Cantares no Protestantismo

Apesar das mudanças de abordagem, os reformadores protestantes não alteraram significativamente o simbolismo central de Cantares como uma expressão do amor entre Deus (ou Cristo) e o povo (ou a Igreja). Algumas dessas mudanças incluem:

  • Amor Divino e Humano: Ao reafirmar o casamento como parte importante da vida cristã, os reformadores ajudaram a revalorizar a visão positiva do amor humano e da sexualidade. Eles viam o amor entre marido e mulher, como descrito em Cantares, como um reflexo do amor de Deus, o que trouxe uma compreensão mais saudável e equilibrada da sexualidade dentro do casamento.

  • Interpretação Cristocêntrica: A maior parte dos reformadores manteve a ideia de que o "amado" em Cantares representava Cristo, e a "amada" representava a Igreja ou os crentes individuais. A ênfase cristocêntrica foi mantida, com os reformadores vendo o amor e o desejo como símbolos espirituais do relacionamento entre Cristo e o Seu povo.

5. Impacto no Pensamento Protestante Moderno

O impacto da Reforma sobre a interpretação de Cantares e o entendimento do amor e da sexualidade ainda é visível no pensamento protestante moderno. Muitas denominações protestantes mantêm uma visão positiva do casamento, da sexualidade e do amor conjugal, rejeitando a noção de que o sexo seja meramente para a procriação, como a Igreja Católica havia promovido durante a Idade Média.

  • Teologia do Casamento: As igrejas protestantes continuam a ver o casamento como uma instituição divina e muitas vezes utilizam o Cântico dos Cânticos para discutir a importância do amor mútuo, respeito e prazer dentro do casamento. A visão de que o casamento é uma bênção de Deus, em que o desejo sexual é legítimo, deriva em parte dessa nova ênfase da Reforma.

  • Erotismo e Espiritualidade: Muitos teólogos protestantes modernos, especialmente em contextos mais liberais, interpretam Cantares como uma celebração do amor erótico e do desejo sexual dentro do contexto do casamento. Alguns até veem o livro como uma afirmação de que o desejo e o amor físico são bons em si mesmos e refletem o amor criativo de Deus.

Conclusão: O Impacto da Reforma na Interpretação de Cantares

A Reforma Protestante influenciou a interpretação do Livro de Cantares, principalmente ao dar maior ênfase ao casamento como uma instituição divina e positiva, onde o amor físico e emocional era valorizado. Embora os reformadores mantivessem uma leitura espiritual e alegórica de Cantares, associando o relacionamento entre os amantes ao amor entre Cristo e a Igreja, eles também reconheciam o valor literal do texto, celebrando o amor conjugal como algo bom e ordenado por Deus.

Dessa forma, a Reforma ajudou a corrigir alguns dos excessos de repressão sexual da Igreja Medieval, promovendo uma visão mais equilibrada e positiva do casamento e da sexualidade. Embora o foco ainda fosse a espiritualidade cristã, houve uma reconciliação maior entre o amor espiritual e o amor físico, especialmente no contexto do casamento.

COMO OS REFORMADORES PROTESTANTES VIAM A SEXUALIDADE

Os reformadores enxergavam a sexualidade presente no Livro de Cantares (Cântico dos Cânticos) de forma complexa e equilibrada, mantendo uma interpretação espiritual, mas ao mesmo tempo reconhecendo a legitimidade e a beleza do amor conjugal e da sexualidade dentro do contexto do casamento.

Aqui estão alguns pontos-chave sobre como os reformadores abordaram a sexualidade de Cantares:

1. Reconhecimento do Valor do Amor Conjugal

Os reformadores, especialmente Martinho Lutero e João Calvino, enxergavam o casamento como uma vocação divina e um dom de Deus, e dentro dessa vocação, a sexualidade era vista de forma positiva, desde que fosse praticada de maneira responsável e dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus.

  • Martinho Lutero: Lutero foi um dos grandes defensores do casamento e rejeitou a noção de que o celibato era superior ao casamento. Ele acreditava que a sexualidade, dentro do casamento, era natural e boa. Ele via o Cântico dos Cânticos como uma celebração do amor conjugal, e embora mantivesse uma leitura alegórica do texto (Cristo e a Igreja), não negava o valor do casamento como expressão do amor de Deus.

    Lutero via o casamento como um espaço para o amor e a sexualidade serem desfrutados de forma legítima. Ele mesmo, ao se casar com Katharina von Bora, enfatizou a importância da intimidade e do afeto no relacionamento conjugal.

  • João Calvino: Embora Calvino não tenha se focado tanto na questão sexual em Cantares, ele também defendia a santidade do casamento. Calvino sustentava que o casamento não era apenas um meio de procriação, mas também de companheirismo e prazer legítimo entre o marido e a esposa. Assim, ele via o desejo e a intimidade física como expressões adequadas do amor conjugal, desde que praticadas com respeito e moderação.

2. Interpretação Espiritual e Alegórica

Embora reconhecessem o valor da sexualidade no casamento, os reformadores, como a tradição cristã anterior, mantinham uma interpretação alegórica de Cantares. Eles viam o livro como uma representação simbólica do amor de Cristo pela Igreja ou de Deus pelo Seu povo.

  • Cantares como Alegoria de Cristo e a Igreja: Assim como na tradição católica medieval, os reformadores protestantes viam o amado em Cantares como uma figura de Cristo e a amada como uma figura da Igreja. A linguagem erótica e apaixonada entre os dois personagens era lida como um reflexo do profundo amor de Cristo pela Sua noiva (a Igreja).

    Esse simbolismo permitiu que os reformadores evitassem uma ênfase excessiva no aspecto erótico e físico do texto, elevando-o a um nível espiritual. Eles viam o amor descrito em Cantares como uma metáfora para o amor divino, que é cheio de paixão, fidelidade e desejo de união.

  • Moderando o Erotismo: Ao manter a interpretação alegórica, os reformadores protestantes conseguiram moderar o erotismo do texto. Eles valorizavam o livro por sua mensagem espiritual e simbólica, mas não o exploravam amplamente como um texto sobre a sexualidade humana. O erotismo presente no texto não era negado, mas era subordinado a uma leitura espiritual.

3. Contraponto ao Celibato Clerical

Uma das maiores mudanças que a Reforma trouxe foi a rejeição do celibato clerical obrigatório. Ao valorizar o casamento como uma vocação digna e espiritual, os reformadores rejeitaram a ideia de que o celibato fosse um estado superior. Isso abriu espaço para uma visão mais positiva da sexualidade dentro do casamento.

  • Recusa da Superioridade do Celibato: A tradição medieval muitas vezes via o celibato como um estado mais elevado de santidade. Os reformadores, em particular Lutero, contestaram essa visão, afirmando que a vida conjugal era tão honrada e espiritual quanto o celibato. Eles promoveram o casamento e a sexualidade como expressões naturais e boas da criação de Deus, celebrando a união física como parte do plano divino.

4. Cantares como Reflexo do Amor Físico e Espiritual

Os reformadores também reconheceram que o amor físico e espiritual poderiam coexistir no casamento. Embora a sexualidade de Cantares fosse interpretada predominantemente de maneira espiritual, os reformadores não ignoravam o fato de que o texto também celebrava a intimidade e o desejo entre um homem e uma mulher.

  • O Amor como Reflexo do Amor de Deus: A sexualidade descrita em Cantares, especialmente o desejo mútuo entre os amantes, era vista como um reflexo do amor divino. O amor físico entre marido e esposa espelhava o amor de Deus por Sua criação, sendo uma expressão saudável e adequada dentro do casamento. Assim, o erotismo presente no livro não era rejeitado, mas compreendido como parte do plano de Deus para os relacionamentos humanos.

5. Equilíbrio entre Espiritualidade e Sexualidade

Os reformadores buscaram um equilíbrio entre a leitura espiritual de Cantares e a afirmação do valor da sexualidade no casamento. Eles rejeitavam os excessos alegóricos de alguns teólogos medievais, que viam todo o livro apenas como uma alegoria espiritual, mas também moderavam qualquer interpretação que se concentrasse exclusivamente no aspecto erótico do texto.

  • Dignidade do Amor Conjugal: A Reforma ajudou a restabelecer a dignidade do amor conjugal e da sexualidade dentro do casamento. Ao ver o casamento como uma bênção divina e a sexualidade como parte da ordem natural, os reformadores ajudaram a suavizar a tensão entre o corpo e o espírito que era frequentemente destacada na tradição medieval.

Conclusão: A Visão Reformadora da Sexualidade em Cantares

Os reformadores Martinho Lutero, João Calvino e outros enxergavam a sexualidade no Livro de Cantares de maneira equilibrada, reconhecendo tanto seu valor espiritual quanto seu aspecto conjugal e físico. Embora mantivessem a tradição alegórica de ver Cantares como uma representação do amor entre Cristo e a Igreja, eles também defendiam o valor da sexualidade dentro do casamento como uma bênção divina.

A Reforma, portanto, trouxe uma visão mais positiva da sexualidade dentro do casamento, rejeitando a ideia de que o celibato era superior e afirmando que o amor e o desejo entre marido e mulher eram naturais e ordenados por Deus. Ao mesmo tempo, os reformadores evitaram interpretações que colocassem o erotismo de Cantares acima de seu significado espiritual, mantendo o equilíbrio entre o amor físico e o amor divino.

Redefinição Contemporânea

A Igreja Cristã Protestante do século XXI tem feito esforços para adaptar sua compreensão da sexualidade e do amor conjugal, à luz de uma sociedade em rápida mudança, em diálogo com as interpretações históricas das Escrituras. O Livro de Cantares (Cântico dos Cânticos), com sua linguagem poética e erotismo explícito, é agora revisitado de forma mais holística. Há uma tentativa de integrar as expressões físicas de amor, presentes no texto, com as verdades espirituais que moldam a vida cristã.

1. Redescobrindo o Valor do Amor e da Sexualidade no Casamento

No século XXI, a Igreja Protestante tem passado por uma revalorização do casamento como um dom sagrado onde a sexualidade pode ser apreciada como uma bênção divina. Essa redescoberta do valor do amor conjugal e da sexualidade tem suas raízes em uma interpretação mais equilibrada de Cantares, que considera tanto o seu significado literal quanto seu simbolismo espiritual.

A Celebração do Amor Conjugal

A Igreja Protestante contemporânea frequentemente vê Cantares como uma celebração do amor conjugal, onde o desejo e a intimidade entre marido e mulher são expressões válidas e sagradas da união matrimonial. A metáfora de Cantares é ampliada para reconhecer que o desejo sexual não é apenas natural, mas também divinamente sancionado dentro do casamento.

  • O Casamento como Espaço de Plenitude: Muitos teólogos e pastores protestantes do século XXI ensinam que o casamento deve ser um lugar onde o amor físico, emocional e espiritual se unem. A intimidade entre marido e esposa, descrita em Cantares de maneira erótica, é apresentada como algo para ser celebrado e não temido. O prazer sexual é visto como uma parte integral do relacionamento conjugal, proporcionando alegria e fortalecimento da união entre os cônjuges.

  • Restauração da Sexualidade: A Igreja Protestante tem se movido em direção a uma visão mais positiva e restauradora da sexualidade, especialmente no contexto de um mundo que muitas vezes distorce o significado do sexo. Em vez de reprimir ou ignorar o aspecto erótico de Cantares, muitas denominações protestantes veem nele uma oportunidade de restaurar uma visão saudável e equilibrada da sexualidade como parte do plano divino para o casamento.

Intimidade Física como Expressão de Amor Divino

A ideia de que o amor conjugal, incluindo o desejo sexual, reflete o amor de Deus é uma visão crescente na Igreja Protestante moderna. A sexualidade não é mais vista apenas como um meio para procriação ou como algo a ser minimizado, mas como uma expressão de amor que reflete o compromisso e a união espiritual.

  • Metáfora do Amor de Deus: O desejo sexual entre o amado e a amada em Cantares é frequentemente entendido como uma metáfora do amor profundo e comprometido de Deus por Seu povo. Esse paralelo entre o amor humano e o amor divino ajuda a legitimar o erotismo do texto, não como algo a ser separado da vida espiritual, mas como uma sombra do amor divino. Essa visão ajuda a reafirmar o valor do corpo e do desejo na teologia protestante contemporânea.

2. A Simbologia Espiritual é Mantida e Reinterpretada

Apesar da ênfase renovada no valor do amor conjugal e da sexualidade, muitas denominações protestantes mantêm a simbologia espiritual de Cantares. O livro continua a ser lido como uma alegoria do amor de Cristo pela Igreja ou de Deus pelo Seu povo, mas sem negar ou reprimir as dimensões físicas e eróticas do texto.

Cristo e a Igreja

A interpretação de que o amado em Cantares representa Cristo e a amada representa a Igreja ou a alma crente continua a ser amplamente aceita em muitas igrejas protestantes. Essa leitura espiritual do texto foi herdada da tradição histórica da Igreja e ainda desempenha um papel importante na exegese do livro.

  • Amor Sacrificial: O amor apaixonado entre o amado e a amada é visto como um reflexo do amor sacrificial de Cristo pela Sua Igreja. Assim como o amado busca a amada com desejo e afeição, Cristo busca a Igreja e cada crente com um amor profundo e irrestrito. Esse simbolismo espiritual, combinado com uma leitura literal do texto, cria uma compreensão mais rica e multidimensional de Cantares.

Amor Espiritual e Amor Físico em Harmonia

A Igreja Protestante moderna tem se esforçado para mostrar que o amor físico e o amor espiritual não estão em conflito, mas podem coexistir de forma harmoniosa. Essa harmonia é expressa em Cantares, onde o desejo físico é apresentado como uma metáfora para o desejo de Deus pela comunhão espiritual com a humanidade.

  • Espiritualidade Corporal: No século XXI, há uma crescente aceitação do conceito de espiritualidade corporal, que afirma que o corpo e a sexualidade são partes integradas da vida espiritual. Isso significa que o desejo físico e o amor erótico descritos em Cantares podem ser apreciados como formas de expressar o amor e a união espiritual, tanto no casamento quanto na vida cristã em geral.

3. Integração da Sexualidade com a Espiritualidade: Uma Abordagem Holística

No século XXI, a Igreja Protestante está buscando um equilíbrio entre a espiritualidade e a sexualidade, enfatizando que o amor físico, emocional e espiritual são interligados. Cantares oferece uma oportunidade para integrar essas dimensões de maneira significativa.

Educação Sexual Cristã

Muitas igrejas protestantes têm usado Cantares como parte de sua abordagem à educação sexual, ensinando que o desejo sexual, quando vivido no contexto do casamento, é uma bênção e não algo a ser temido ou reprimido.

  • Abordagem Positiva da Sexualidade: O Livro de Cantares é usado como um recurso para ensinar sobre a importância do respeito mútuo, do compromisso e do amor no casamento. Em vez de ver o sexo como tabu ou fonte de vergonha, o livro é apresentado como uma celebração da intimidade física e da alegria que o amor conjugal pode proporcionar. Essa abordagem reflete uma visão mais equilibrada da sexualidade cristã.

  • Prevenção de Abusos: A ênfase no respeito e consentimento dentro do casamento, algo que pode ser extraído de Cantares, é usada para prevenir abusos e para promover uma compreensão saudável do sexo como uma expressão de amor mútuo, e não de dominação ou controle.

Reconciliação entre Corpo e Espírito

A Igreja Protestante contemporânea tem trabalhado para eliminar a dicotomia entre o corpo e o espírito, frequentemente promovida em tradições mais antigas, onde a carne era vista como fonte de tentação e o espírito como superior. Hoje, o corpo é valorizado como parte da criação de Deus.

  • O Corpo como Templo: Em algumas interpretações protestantes modernas, o corpo é visto como o templo do Espírito Santo, e a sexualidade dentro do casamento é considerada uma forma legítima de expressar o amor de Deus. O prazer e a intimidade sexual não são mais apenas para procriação, mas para o crescimento emocional e espiritual do casal.

4. Diferenças entre Igrejas Liberais e Conservadoras

Há, no entanto, diferenças entre igrejas protestantes mais liberais e mais conservadoras em como Cantares é interpretado e aplicado no século XXI.

Igrejas Liberais

As igrejas liberais tendem a ter uma interpretação mais aberta e abrangente de Cantares, muitas vezes se concentrando mais no aspecto erótico e relacional do texto.

  • Afirmação da Sexualidade Humana: Algumas igrejas liberais defendem que Cantares afirma o amor físico e o desejo humano de forma mais ampla, sem necessariamente limitá-lo ao casamento tradicional. Elas podem ver o livro como uma celebração da diversidade das expressões de amor, reconhecendo que o erotismo faz parte da experiência humana.

  • Discussões sobre Sexualidade e Inclusão: Em contextos liberais, Cantares também pode ser usado para discutir questões de gênero e sexualidade, incluindo a inclusão de pessoas de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero dentro da comunidade de fé.

Igrejas Conservadoras

As igrejas conservadoras, por outro lado, mantêm uma interpretação mais tradicional e espiritual de Cantares, vendo o amor físico como uma expressão apropriada apenas no contexto do casamento bíblico entre um homem e uma mulher.

  • Foco no Casamento Tradicional: As igrejas conservadoras continuam a enfatizar o casamento heterossexual como o único contexto legítimo para a expressão sexual. Para essas denominações, Cantares é visto como um modelo de amor conjugal,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

Atkinson, David. The Message of the Song of Songs: The Lyrics of Love (The Bible Speaks Today Series). IVP Academic, 1992.

Augustus Nicodemus Lopes. O Amor Segundo Deus: O Que a Bíblia Ensina sobre Sexo, Paixão e Casamento. Editora Mundo Cristão, 2018.

Carr, G. Lloyd. The Song of Solomon: An Introduction and Commentary (Tyndale Old Testament Commentaries). IVP Academic, 1984.

Davis, Ellen F.. Proverbs, Ecclesiastes, and the Song of Songs (Westminster Bible Companion). Westminster John Knox Press, 2000.

Francisco, Ed René Kivitz. O Livro Mais Amado: Cântico dos Cânticos. Mundo Cristão, 2007.

Israel Belo de Azevedo. Cantares de Salomão: Um Hino ao Amor. Editora Hagnos, 2004.

Longman III, Tremper. Song of Songs (The New International Commentary on the Old Testament). Eerdmans, 2001.

Murphy, Roland E.. The Song of Songs: A Commentary on the Book of Canticles or the Song of Songs (Hermeneia Commentary Series). Fortress Press, 1990.

Phipps, William E.. Genesis and Gender: Biblical Myths of Sexuality and Their Cultural Impact. Praeger, 1989.

Russell P. Shedd. Cântico dos Cânticos - O Amor de Deus: Série Cultura Cristã Comentários. Vida Nova, 2007.

Simone Cunha. A Poesia do Amor: Reflexões sobre o Cântico dos Cânticos. Fonte Editorial, 2012.

Wright, N.T.. Surprised by Scripture: Engaging Contemporary Issues. HarperOne, 2014.

Yoder, Christine Roy. The Woman’s Bible Commentary: Proverbs, Ecclesiastes, and the Song of Songs. Westminster John Knox Press, 2012.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Posso fazer sexo quando estou de jejum?

Sermão para aniversário - Vida guiada por Deus

Judá e Tamar - Selo, cordão e cajado