Exegese Daniel 7:13

 Contexto Geral de Daniel 7:

Daniel 7 apresenta uma visão que o profeta Daniel teve durante o primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia. A visão consiste em quatro grandes animais saindo do mar, simbolizando reinos que dominariam o mundo de forma consecutiva. Esses reinos são geralmente identificados como o Império Babilônico, o Império Medo-Persa, o Império Grego e o Império Romano. Após a descrição das bestas, Daniel vê um trono sendo estabelecido e o "Ancião de Dias" tomando assento, representando Deus como juiz soberano. No versículo 13, o "Filho do Homem" é introduzido como uma figura que recebe o domínio eterno de Deus.

Exegese do Versículo 13

Daniel 7:13 (NVI): "Na minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho do homem, vindo com as nuvens do céu. Ele se aproximou do Ancião de Dias e foi conduzido à sua presença."

Este versículo marca a introdução da figura messiânica chamada de "Filho do Homem" (בַּר אֱנָשׁ - bar 'enash em aramaico). Este é um dos termos mais ricos teologicamente em toda a Bíblia, especialmente com relação à identificação messiânica e cristológica.

Palavras em Hebraico/Aramaico

1. בַּר אֱנָשׁ (bar 'enash) — "Filho do Homem"

   • בַּר (bar): Uma palavra aramaica que significa "filho". Essa palavra é usada frequentemente em textos aramaicos e contrasta com a palavra hebraica equivalente, בֵּן (ben), que também significa "filho". A escolha de usar bar reflete o uso do aramaico em parte do livro de Daniel (capítulos 2-7 estão em aramaico).
   • אֱנָשׁ ('enash): Uma palavra aramaica para "homem", denotando a humanidade. Essa palavra transmite a ideia da fragilidade e mortalidade humana em contraste com a natureza divina ou celestial. No entanto, o uso aqui vai além da fragilidade humana, pois a figura do "Filho do Homem" transcende a mortalidade comum.

2. עִם עֲנָנֵי שְׁמַיָּא (‘im 'ananey shemaya) — "com as nuvens do céu"

   • עִם ('im): Preposição que significa "com".
   • עֲנָנֵי (‘ananey): "Nuvens", referindo-se a uma imagem poderosa e simbólica na Bíblia, associada à presença e glória de Deus. Na teologia hebraica, as nuvens muitas vezes simbolizam a intervenção divina, como visto na nuvem que guiou o povo de Israel no deserto (Êxodo 13:21-22).
   • שְׁמַיָּא (shemaya): "Céu", uma palavra aramaica que se refere ao domínio celestial.

A frase "com as nuvens do céu" destaca o caráter celestial e divino dessa figura, indicando que o "Filho do Homem" é mais do que apenas um ser humano comum; ele tem origem e autoridade divina.

Significado Teológico

A figura do "Filho do Homem" é apresentada vindo "com as nuvens do céu", o que denota sua origem celestial. Este título, que enfatiza a humanidade de Jesus nos Evangelhos, também traz implicações divinas. No contexto da visão de Daniel, o "Filho do Homem" é aquele que recebe o domínio, a glória e o reino eterno das mãos do "Ancião de Dias" (עַתִּיק יוֹמִין — Atiq Yomin), que é uma representação simbólica de Deus, o Pai.

A frase “com as nuvens do céu” remete a passagens no Antigo Testamento onde Deus aparece envolto em nuvens, como em Êxodo 16:10, Levítico 16:2, e Salmo 104:3. Isso sugere que o "Filho do Homem" tem um papel divino na história da salvação.

A Proximidade com o "Ancião de Dias"

O "Filho do Homem" se aproxima do "Ancião de Dias" e é trazido à sua presença, recebendo o governo e o reino sobre toda a criação. Isso representa a transferência de autoridade do Pai para o Filho, algo que é retomado no Novo Testamento em passagens como Mateus 28:18, onde Jesus diz: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra."

Conclusão

Daniel 7:13 é uma das passagens mais significativas sobre o Messias e sua função na teologia judaico-cristã. O "Filho do Homem" é tanto humano quanto divino, e Ele recebe um reino eterno que nunca será destruído. A escolha das palavras aramaicas reflete a humanidade e a origem celestial dessa figura, mostrando que ele se distingue das bestas anteriores, que simbolizam reinos humanos opressores e temporários.

Cristologicamente, esta passagem é amplamente aplicada a Jesus, que usa o termo "Filho do Homem" para si mesmo nos Evangelhos, e que é entendido como aquele que cumpriu essa profecia ao receber todo poder e autoridade de Deus.