Explicando Atos 15:20: Abster-se de comidas sacrificadas, da imoralidade sexual, da carne de animais sufocados e do sangue

 


Atos 15 narra o que é conhecido como o Concílio de Jerusalém, onde os apóstolos e presbíteros discutiram um tema central para a igreja primitiva: como os gentios (não judeus) que estavam se convertendo a Cristo deveriam se comportar em relação à Lei de Moisés. A questão surgiu porque alguns judeus cristãos estavam ensinando que era necessário que os gentios se circuncidassem e seguissem a Lei de Moisés para serem salvos (Atos 15:1). Isso criou uma grande controvérsia, pois colocava um peso adicional sobre os gentios.

Resumo da Decisão do Concílio

Os apóstolos, liderados por Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago (o irmão de Jesus), reconheceram que Deus havia concedido o Espírito Santo aos gentios sem exigir que eles seguissem as práticas da Lei de Moisés, como a circuncisão. Portanto, não era necessário impor o fardo da Lei judaica sobre os convertidos gentios. A salvação era pela graça, tanto para os judeus quanto para os gentios.

No entanto, para promover a unidade entre os cristãos judeus e gentios e evitar causar ofensa, os apóstolos chegaram a um acordo: os gentios deveriam se abster de quatro práticas específicas. O versículo 20 é a chave para essa decisão:

Explicando Atos 15:20

"Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida sacrificada a ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais sufocados e do sangue."

  1. Comida sacrificada a ídolos: Isso se refere à carne que havia sido oferecida em sacrifício em templos pagãos e depois vendida nos mercados. Comer dessa carne poderia parecer uma forma de aprovação do culto idólatra, algo ofensivo aos cristãos judeus que estavam profundamente comprometidos com o monoteísmo. Paulo, em suas cartas, mais tarde trata desse tema (1 Coríntios 8), deixando claro que, em si mesma, a carne não é impura, mas que os cristãos devem evitar causar escândalo ou confusão ao comer alimentos ligados à idolatria.

  2. Imoralidade sexual: A imoralidade sexual (grego "porneia") incluía todas as formas de práticas sexuais fora do casamento (adultério, fornicação, incesto, etc.). Muitos gentios vinham de culturas em que esses comportamentos eram comuns, mas a moral cristã era baseada na pureza e no respeito às diretrizes dadas por Deus para as relações sexuais.

  3. Carne de animais sufocados: Refere-se a uma prática em que o animal era morto sem que seu sangue fosse drenado adequadamente. Para os judeus, de acordo com as leis alimentares do Antigo Testamento (Levítico 17:13-14), o sangue era sagrado e deveria ser derramado, não ingerido. Comer carne sufocada ofendia profundamente os judeus cristãos, que viam isso como uma violação da santidade da vida.

  4. Sangue: Assim como a carne sufocada, o consumo de sangue era estritamente proibido na Lei de Moisés (Levítico 17:10-12), e para os judeus, o sangue representava a vida, que pertencia a Deus. Comer sangue era considerado uma prática abominável.

A Contextualização e o Propósito

Essa decisão de se abster dessas quatro coisas não foi para tornar os gentios "mais salvos", pois a salvação é pela graça de Deus, como Pedro mencionou no concílio (Atos 15:11). O objetivo aqui foi manter a paz e a comunhão entre os cristãos judeus e gentios. Muitos cristãos judeus ainda seguiam certos aspectos da Lei de Moisés e tinham um forte senso de identidade cultural. Para evitar ofensas e facilitar a integração dos gentios na comunidade cristã mista, essas restrições foram impostas.

Essas práticas (comida sacrificada a ídolos, imoralidade sexual, carne sufocada e sangue) eram profundamente ofensivas para os judeus, e seria difícil para os cristãos judeus conviverem em comunidade com gentios que praticassem essas coisas. Então, as restrições foram mais culturais e práticas, destinadas a promover a harmonia na igreja.

E Paulo? Ele Realmente Ensinava Essas Restrições?

Sim, Paulo apoiou essas restrições como uma medida temporária para facilitar a convivência entre judeus e gentios. O próprio Paulo participou do concílio (Atos 15:2) e, em suas cartas, ele ecoa esse espírito de não causar escândalo a outros cristãos.

Por exemplo:

  • Em 1 Coríntios 8, Paulo explica que, embora comer carne sacrificada a ídolos não seja um pecado em si (porque "um ídolo nada é no mundo"), os cristãos devem evitar causar ofensa ou ser motivo de tropeço para outros irmãos mais fracos na fé. Ele recomenda não comer essa carne se isso causar confusão ou escândalo a alguém.
  • Em Romanos 14:21, Paulo enfatiza: "É melhor não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve seu irmão a cair."

Portanto, Paulo ensinava a liberdade cristã em Cristo, mas também ensinava que essa liberdade deve ser exercida com responsabilidade e sensibilidade para não ofender outros crentes ou prejudicar a unidade da igreja.

A decisão do Concílio de Jerusalém em Atos 15 foi uma solução sábia para manter a paz e a comunhão entre cristãos judeus e gentios, preservando a unidade da igreja primitiva. As restrições dadas (comida sacrificada a ídolos, imoralidade sexual, carne sufocada e sangue) tinham mais a ver com sensibilidade cultural e respeito pelas convicções dos cristãos judeus do que com exigências legais para a salvação.

Paulo, como participante desse concílio, apoiou essas medidas como uma maneira de proteger a comunhão na igreja, ao mesmo tempo que pregava a liberdade que temos em Cristo. Ele incentivava os crentes a evitar comportamentos que pudessem causar ofensa a outros, mantendo assim a paz e o amor na comunidade cristã.


Exegese de Atos 15:20 

O versículo Atos 15:20 faz parte do relato do Concílio de Jerusalém, onde os apóstolos e presbíteros discutiram questões cruciais para a convivência entre judeus e gentios na igreja primitiva. Vamos analisar esse versículo detalhadamente.

Texto

"Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida sacrificada a ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais sufocados e do sangue."

Contexto Histórico e Literário

O contexto de Atos 15 é uma importante reunião entre os líderes da igreja primitiva em Jerusalém para resolver a questão de como os gentios (não judeus) convertidos deveriam se comportar em relação à Lei de Moisés. Alguns cristãos judeus acreditavam que os gentios precisavam seguir toda a Lei, incluindo a circuncisão, para serem verdadeiros seguidores de Cristo (Atos 15:1). Isso gerou um grande debate, especialmente porque Paulo e Barnabé haviam evangelizado muitos gentios sem exigir a observância dessas leis (Atos 15:2-3).

Depois de uma discussão extensa e o testemunho de Pedro, Paulo e Barnabé, os apóstolos e anciãos decidiram não impor aos gentios a observância total da Lei judaica, reconhecendo que a salvação era pela graça e não pelo cumprimento da Lei (Atos 15:10-11). Contudo, para promover a paz e a comunhão entre cristãos judeus e gentios, foram impostas quatro restrições específicas, que aparecem em Atos 15:20.

Análise das Quatro Proibições

1. Comida sacrificada a ídolos

Esta proibição se refere ao costume comum entre os pagãos de sacrificar animais aos deuses em seus templos. Após o sacrifício, a carne desses animais era frequentemente vendida nos mercados. O consumo de carne sacrificada a ídolos não apenas poderia ser visto como uma forma de endossar o culto pagão, mas também seria ofensivo para os judeus convertidos ao cristianismo. Comer carne oferecida a ídolos poderia gerar escândalo e confusão, sugerindo um comprometimento com a idolatria.

Nos escritos posteriores de Paulo, especialmente em 1 Coríntios 8, ele esclarece que comer carne sacrificada a ídolos não é, em si, um pecado, já que "um ídolo nada é no mundo" (1 Coríntios 8:4). Contudo, Paulo exorta os crentes a evitarem essa prática se isso ofender ou confundir irmãos mais fracos na fé, em respeito à consciência deles. Aqui, o objetivo é evitar que os gentios convertidos causem ofensa desnecessária aos cristãos judeus.

2. Imoralidade sexual (porneia)

O termo grego utilizado aqui é porneia, que é um termo abrangente para toda forma de comportamento sexual ilícito, incluindo fornicação, adultério, incesto e práticas sexuais associadas ao culto pagão. A imoralidade sexual era amplamente aceita nas culturas pagãs da época, muitas vezes envolvendo até mesmo rituais religiosos.

A exortação contra a imoralidade sexual é uma reafirmação dos padrões morais elevados da ética judaico-cristã, que condenava todas as formas de sexualidade fora dos parâmetros do casamento entre um homem e uma mulher. Essa proibição era essencial para que os gentios convertidos entendessem a importância da pureza sexual na nova vida em Cristo e para que pudessem viver em harmonia com os cristãos judeus, que eram extremamente zelosos nesses aspectos.

3. Carne de animais sufocados

Essa proibição está diretamente ligada às leis alimentares do Antigo Testamento, particularmente em relação à forma correta de matar os animais para consumo. Na tradição judaica, os animais deveriam ser mortos de maneira que o sangue fosse completamente drenado, pois o sangue era considerado sagrado e pertencia a Deus (Levítico 17:13-14).

Os gentios frequentemente matavam animais por sufocamento, deixando o sangue no corpo do animal. Para os judeus, essa prática era uma violação grave das leis alimentares e um desrespeito à santidade da vida. Ao proibir os gentios convertidos de comer carne de animais sufocados, os apóstolos visavam facilitar a convivência entre cristãos judeus e gentios, evitando ofensas e barreiras culturais.

4. Sangue

A proibição de consumir sangue vem diretamente da Lei de Moisés (Levítico 17:10-12). Para os judeus, o sangue representava a vida, e a vida pertencia a Deus. Comer sangue era uma violação clara das leis divinas e era visto como uma prática abominável.

No contexto da igreja primitiva, muitos gentios convertidos vinham de culturas onde o consumo de sangue era comum, tanto em práticas pagãs quanto no dia a dia. Assim, essa proibição servia para ensinar aos gentios convertidos o respeito pelas tradições e leis judaicas, promovendo a paz na convivência com os cristãos judeus.

Razão das Proibições

Essas proibições não foram impostas para garantir a salvação dos gentios, pois, conforme decidido no concílio, a salvação era pela graça por meio da fé em Jesus Cristo, e não pela observância da Lei de Moisés (Atos 15:11). No entanto, elas foram estabelecidas com o objetivo de:

  1. Manter a paz e a unidade entre os cristãos judeus e gentios.
  2. Respeitar as sensibilidades culturais dos cristãos judeus que ainda seguiam muitas das tradições alimentares e rituais do Antigo Testamento.
  3. Evitar escândalos que pudessem prejudicar a convivência na comunidade cristã.

O Contexto de Paulo

Paulo, que esteve presente no concílio, apoiou essas restrições como uma forma prática de promover a unidade. Em suas cartas posteriores, ele tratou especificamente da questão de comer carne sacrificada a ídolos e como os cristãos devem evitar causar escândalo a outros (1 Coríntios 8 e Romanos 14). Paulo ensinava que, embora os cristãos tenham liberdade em Cristo, essa liberdade deve ser exercida com responsabilidade, sempre considerando o bem-estar espiritual de outros membros da comunidade.

Conclusão da Exegese

Atos 15:20 reflete uma decisão importante tomada pela igreja primitiva para equilibrar a liberdade cristã com a sensibilidade cultural e religiosa, garantindo a paz e a convivência entre cristãos judeus e gentios. As proibições de comer carne sacrificada a ídolos, de práticas imorais, de carne de animais sufocados e de sangue tinham o objetivo de promover a unidade e evitar que os gentios ofendessem os cristãos judeus, que ainda seguiam muitas das práticas da Lei de Moisés.

Essa passagem mostra que, embora a salvação seja pela graça, a forma como vivemos nossa fé pode ter impacto na comunidade ao nosso redor, e devemos estar dispostos a fazer ajustes para promover a harmonia e o respeito mútuo dentro do corpo de Cristo.

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