Especial Natal: Quando o Natal Reacendeu a Luz do Hanukkah
No mês de dezembro, especialmente em sociedades onde cristãos e judeus convivem lado a lado, duas celebrações se destacam de maneira quase inevitável: o Natal e o Hanukkah. Embora pertençam a tradições distintas, essas datas revelam algo profundo sobre memória, identidade e sobrevivência espiritual ao longo da história.
O Natal celebra o nascimento de Jesus, o Messias judeu reconhecido pelos cristãos. Já o Hanukkah recorda a dedicação do Templo de Jerusalém após sua profanação, durante o período da revolta dos Macabeus, por volta do século II antes de Cristo. Curiosamente, nenhuma dessas celebrações surge diretamente nos textos centrais de suas tradições: o Natal não aparece nos Evangelhos, e o Hanukkah não está registrado na Bíblia Hebraica. Ainda assim, ambas se tornaram marcos vivos da fé.
Apesar de não constar no cânon hebraico, o Hanukkah é mencionado no Novo Testamento. O Evangelho relata que Jesus esteve em Jerusalém durante a Festa da Dedicação, revelando que Ele não apenas conhecia essa celebração, mas também caminhava dentro de sua atmosfera espiritual e histórica. Isso por si só já nos ensina que tradição não nasce apenas do texto escrito, mas da vida vivida do povo de Deus.
Durante muitos séculos, o Hanukkah ocupou um lugar secundário no calendário judaico. O trauma da destruição do Templo, ocorrido séculos depois, acabou ofuscando a lembrança daquele milagre antigo. Contudo, com o passar do tempo — especialmente em contextos onde o Natal se tornava cada vez mais visível, celebrado e culturalmente dominante — o Hanukkah passou a ser resgatado com novo vigor.
Esse resgate não foi apenas religioso, mas identitário. Em meio à forte presença natalina no espaço público, o Hanukkah ofereceu às famílias judaicas uma forma de preservar sua herança, evitando a assimilação cultural. Luzes foram acesas, símbolos reafirmados e memórias recuperadas. O azul e o branco passaram a dividir o cenário com o vermelho e o verde, não como oposição hostil, mas como afirmação de identidade.
O que aprendemos com isso é profundo: as histórias judaica e cristã estão entrelaçadas de maneiras que nem sempre percebemos. Mesmo quando tentam se afastar, elas continuam dialogando. O Natal, de forma indireta, acabou contribuindo para que o Hanukkah fosse lembrado, valorizado e celebrado novamente.
Essa realidade nos ensina algo essencial para a fé: tradições vivas não existem para competir, mas para lembrar. Lembrar quem somos, de onde viemos e qual luz fomos chamados a preservar. Em um mundo que constantemente tenta apagar raízes, a história mostra que Deus continua reacendendo aquilo que parecia esquecido.
Celebrar com consciência é honrar o passado, compreender o presente e transmitir identidade às próximas gerações. Luz gera luz — e aquilo que é verdadeiro sempre encontra um modo de permanecer aceso.
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