Salvos da Ira de Deus
Quando falamos de salvação, é comum ouvir expressões como: “Jesus me salvou do inferno” ou “Cristo me libertou do diabo”. Embora essas frases carreguem certa verdade, não revelam o coração da mensagem bíblica. A Escritura é clara: o maior perigo do homem não é o diabo em si, mas a ira de Deus contra o pecado.
O pecado é, antes de tudo, uma afronta contra a santidade do Criador. Ele não é apenas uma falha moral ou um deslize humano, mas uma rebelião aberta contra o Deus eterno. Por isso, Paulo afirma que “éramos, por natureza, filhos da ira” (Ef 2:3). Não nascemos neutros: nascemos debaixo de condenação.
O diabo é um acusador, mas quem decreta a sentença é o próprio Deus justo e santo. E essa sentença é clara: “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Portanto, sem Cristo, não apenas corremos o risco de cair nas armadilhas do inimigo — já estamos condenados diante do tribunal divino.
A boa notícia é que Deus, em Seu imenso amor, providenciou o escape. Cristo assumiu sobre Si a punição que estava reservada para nós. Paulo declara: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rm 5:9). Note que a ênfase não é em sermos salvos do diabo, mas da ira. A cruz é o lugar onde a justiça de Deus foi satisfeita e o amor de Deus se revelou em plenitude.
Isso muda totalmente nossa compreensão da salvação. Não fomos resgatados apenas de um inimigo externo, mas da condenação do próprio Deus. Não era apenas o inferno que nos aguardava, mas o juízo eterno. Mas em Cristo, já não há condenação (Rm 8:1). O que era motivo de terror tornou-se causa de esperança.
Aqui está o ponto que precisa ser reafirmado: a salvação não é mérito humano. “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9). Se fosse por obras, ninguém escaparia da ira. Mas sendo pela graça, todos os que creem podem viver em paz.
E mais: a salvação não apenas nos livra da ira, mas nos reconcilia com o Pai. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5:19). Isso significa que a salvação é mais do que perdão — é restauração de relacionamento.
Portanto, não é correto dizer que Jesus nos salvou apenas do diabo. Ele nos salvou de Deus — da Sua justa ira. Mas ao mesmo tempo, Ele nos salvou para Deus — para uma vida de comunhão, santidade e missão. O diabo foi derrotado como consequência, mas o foco da cruz é a reconciliação com o Pai.
Conclusão
Entender que fomos salvos da ira de Deus nos conduz a uma fé mais reverente, humilde e profunda. Já não vivemos no medo do inimigo, mas na gratidão pelo perdão. Já não lutamos para conquistar aceitação, mas respondemos em amor Àquele que nos aceitou em Cristo.
A salvação é o maior presente da graça: fomos arrancados da ira e transportados para o amor eterno.
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