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Teshuvá: O Retorno que Transforma

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A palavra hebraica para arrependimento — תשובה ( teshuvá ) — carrega em si um poder que vai muito além do mero remorso emocional. Derivada do verbo שוב ( shuv ), que significa “voltar”, “retornar” ou “dar meia-volta”, teshuvá é uma das expressões mais profundas da espiritualidade bíblica. O arrependimento, à luz das Escrituras, não é apenas um sentimento de culpa ou pesar. Não se limita às lágrimas que escorrem nem aos suspiros angustiados por erros cometidos. Teshuvá é, antes de tudo, uma ação deliberada. É uma mudança de rota. Uma guinada em direção ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído: a presença de Deus. O termo shuv aparece mais de mil vezes no Tanach (Antigo Testamento), em contextos variados. Em Jeremias 3:12-14, por exemplo, Deus clama ao povo: “Volta, ó rebelde Israel [...] voltai, filhos rebeldes”. Aqui, a ideia de shuv é nitidamente geográfica e espiritual: o povo se afastou do Senhor, e agora é chamado a retornar — não apenas no coração, mas no caminho. O arr...

Sofonias: Quando o Juízo Começa na Casa de Deus

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  "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito; amarga é a voz do dia do Senhor..." (Sofonias 1:14) O profeta Sofonias não foi levantado para entreter. Não veio com palavras suaves ou discursos populares. Foi um porta-voz do Deus Santo que, ao contemplar a corrupção do povo e de seus líderes, anunciou: “O dia do Senhor está chegando, e não será agradável para quem vive em duplicidade.” O livro de Sofonias é curto, mas seus versículos ecoam como trovões. Ele nos força a olhar para dentro, confrontando a hipocrisia religiosa, a arrogância espiritual e o comodismo dos que se dizem povo de Deus. O pecado escondido nos bastidores do templo A crítica de Sofonias não se dirige, em primeiro plano, às nações pagãs. Seu julgamento começa em Judá, na casa de Deus. O povo havia se acostumado a frequentar o templo, mas com o coração dividido. Misturavam o culto ao Senhor com a adoração a Moloque (Sf 1:5). Tinham aparência de piedade, mas viviam como se Deus não ...

Quando a Oração se Torna uma Heresia

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  Um confronto direto com a espiritualidade de fachada – à luz de Mateus 6 “E, quando orares, não sejas como os hipócritas...” (Mateus 6:5) Há orações que não sobem. Há palavras ditas de joelhos que ofendem a santidade de Deus. Há vozes erguidas nos templos que são um escárnio no céu. E o pior: muitas dessas orações são aplaudidas pelos homens, elogiadas nas redes sociais e reverenciadas nas igrejas. Mas para Deus... são heresias. Sim, a oração pode se tornar uma heresia — quando ela deturpa o caráter de Deus, quando é usada para engrandecer o homem, quando é pronunciada para exibir santidade que não existe. Foi por isso que Jesus, em Mateus 6, não começou ensinando como orar, mas sim como não orar. 1. A Oração Como Palco: Quando Deus se Torna Plateia Jesus denuncia: “os hipócritas... gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens” (v. 5). A motivação está podre. A oração virou teatro. O homem não fala com Deus — ele performa diante de...

Paulo e Onésimo — Jesus e Nós

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  O Belo Paralelo: Paulo e Onésimo — Jesus e Nós Introdução A breve carta de Paulo a Filemom esconde uma das mais tocantes imagens do Evangelho: o apóstolo intercedendo por Onésimo, o escravo fugitivo, como um pai que oferece o próprio coração. Essa atitude não é apenas bela — ela é profética. Em cada linha dessa epístola, vemos o reflexo do que Cristo faz por nós diante do Pai. A intercessão de Paulo ecoa a oração sacerdotal de Jesus em João 17, onde o Salvador, com palavras de amor, entrega-nos ao Pai como Seus próprios. Neste artigo, traçamos esse paralelo entre Paulo e Onésimo, e Jesus e nós — uma comparação que revela a glória do amor redentor. 1. O Envio do Coração “Eu to envio de volta, ele que é o meu próprio coração.” (Filemom 1:12) Paulo não envia Onésimo como servo comum, mas como aquele que agora representa seu coração. Esse gesto é mais do que reconciliação: é adoção. Onésimo, antes inútil, agora se torna precioso. Da mesma forma, Jesus ora por nós como aquele...

Graça e Paz: O Presente Que Transforma Tudo

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  "Graça a vós outros e paz, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo." — Filemom 1:3 Desde os tempos apostólicos, a saudação "graça e paz" tem sido mais que um cumprimento cordial. É um lembrete poderoso daquilo que Deus nos oferece gratuitamente em Cristo: a graça que salva e a paz que transforma. Esses dois elementos caminham juntos, vindos do coração do Pai e do sacrifício do Filho. 🎁 A Graça: Um Presente Imerecido A graça é o favor de Deus que jamais poderíamos conquistar. Ela não se baseia em nosso desempenho ou esforço, mas no amor incondicional do Senhor. Somos salvos por meio dela, restaurados por ela e conduzidos à vida eterna por sua força. A graça revela o caráter de um Deus que estende a mão ao pecador, não com condenação, mas com redenção. Como está escrito: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." (Efésios 2:8) ☮️ As Três Dimensões da Paz Assim como a graça nos alcança, a pa...

Liderança com o Coração de Cristo

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  Num mundo onde liderança muitas vezes é confundida com domínio e imposição, a Palavra de Deus nos apresenta um padrão completamente diferente: o modelo de liderança de Jesus. Em Isaías 32:1, lemos sobre um Rei que reina com justiça — uma antecipação profética de Cristo. Ele é o Rei justo, misericordioso e cheio de amor. O apóstolo Paulo, mesmo com autoridade apostólica, preferiu apelar em amor, como vemos em Filemom. Ele não forçou, mas atraiu pelo exemplo, pela graça e pela gentileza. Esse é o tipo de liderança que transforma corações. Líderes piedosos são descritos como refúgios, abrigos e fontes de renovo para os outros. Isso nos leva a refletir: nossas atitudes, palavras e decisões são bálsamo ou fardo para quem caminha ao nosso lado? Liderar como Jesus é escolher a via da humildade, mesmo com poder em mãos. É influenciar com o coração, não com a imposição.

Coragem em meio à luta

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"Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé." — Hebreus 13:7 (NAA) Quando lemos Hebreus 11, é como se entrássemos em uma galeria da história da fé. Os rostos que vemos ali são de gente comum que decidiu crer em um Deus extraordinário. Eles não foram perfeitos, mas viveram de forma que o céu inteiro se orgulha deles. Não por suas conquistas humanas, mas pela fé inabalável que carregaram no peito — mesmo quando tudo parecia contrário. Eles confiaram em Deus quando não havia mapas, como Abraão. Renunciaram ao conforto por algo eterno, como Moisés. Enfrentaram riscos, como Raabe, por causa de uma fé que via além do momento. E o mais marcante? Muitos desses homens e mulheres sustentaram sua fé mesmo passando por uma dor intensa. Paulo escreveu boa parte do Novo Testamento de dentro de uma prisão. Estevão foi apedrejado diante de uma multidão, mas morreu olhando para o céu. João foi exilado numa...