Os filhos são a herança do Senhor?




Complexo e por vezes instável, relacionamento entre pais cristãos e seus filhos pode melhorar com muita dedicação e exemplo de vida.
Por Gisele Bastos

Não existe faculdade que prepara para o exercício da paternidade. E, apesar da vasta literatura disponível, é na prática quase sempre penosa do dia a dia que papais e mamães vão se deparar com o desafio da criação de um ser humano. É preciso viver para aprender; e o processo vai muito além de suprir as necessidades básicas com habitação, alimentação, recreação e assistência médica; passa pela formação moral, psicológica e espiritual. Falta de tempo, pressões sociais, demandas pessoais e as exigências cada vez maiores da vida neste século 21, tudo parece conspirar silenciosamente para prejudicar a relação entre pais e filhos. E que não se pense que as coisas nem sempre foram assim. Os problemas entre as gerações vêm de longe, muito longe. A Bíblia está repleta de casos de pais que fracassaram no exercício da paternidade. Davi, Eli, Isaque – mesmo grandes homens de Deus que operaram maravilhas em nome do Senhor experimentaram o desgosto de ver os filhos seguirem por caminhos tortuosos. E se, segundo o salmista, os filhos são “heranças do Senhor” (Salmo 127.3), um dos grandes desafios que a pós-modernidade tem trazido aos pais é sobre o que fazer para que esse precioso legado não se perca.

Amauri Oliveira reconhece que essa observação também vale em relação à família cristã. Muitos crentes, ele diz, dedicam tempo demais às atividades espirituais e eclesiásticas e deixam a família de lado. Experiente, o pastor aponta um erro muito comum: “É o de acreditar que levar os filhos para a igreja resolve todos os possíveis problemas”. Mencionando o Novo Testamento, o pastor lembra os conselhos do apóstolo Paulo sobre a necessidade de o homem de Deus cuidar bem de sua própria casa antes de se dedicar aos assuntos do Reino do Senhor. “Deus não vai fazer o que é nossa obrigação. Levar os filhos para igreja é uma obrigação do pai cristão; viver o Evangelho em casa, ensinando os filhos no caminho em que devem andar, é outra coisa.”
A experiência de engajar pais e mães na função parental para potencializar o crescimento de filhos mais saudáveis e felizes se tornou um seminário para pais chamado “Projeto Filhos Felizes”, elaborado pela mulher do pastor, Clarice, visando ao fortalecimento e à saúde integral da família. Os temas abordados incluem acolhimento, construção de identidade, ensino e orientação quanto a valores morais e éticos, além de questões como limites, disciplina e autonomia. “Não há receita fácil para o sucesso na educação e desenvolvimento dos filhos”, admite Claudio Ebert.
“RECONHECER ERROS”
Sorteada para participar do programa, a família Campos teve de passar pelo constrangimento de expor sua situação em público. “O mais doloroso foi reconhecer os próprios erros. Vimos que, apesar do amor e carinho dispensado aos nossos filhos, estávamos na direção errada”, confessa Elizangela. Como mãe, ela enfrentou o mesmo drama de tantas outras mulheres – o de deixar as crianças sem limites para compensar a culpa pela ausência e depois sofrer com as consequências dos verdadeiros reizinhos que se criam nesse tipo de ambiente. A partir das orientações de Cris Poli, ela e o marido perceberam que era possível organizar a casa de modo que todos ficassem unidos e felizes. “A grande lição foi descobrir que éramos capazes de mudar tudo”, conta, satisfeita. Com as ferramentas certas nas mãos, os pais de Matheus foram diligentes em seguir as orientações da especialista. “O mais importante é ser firme, perseverante e não desistir. A educação é o bem maior que podemos deixar aos nossos filhos.”
Ageu Lisboa lembra que sempre existirão tensões entre os dois lados, já que os filhos, no decorrer do crescimento, caminham para a liberdade e a autonomia. De acordo com o psicólogo, os que desfrutam de um ambiente emocional cooperativo e respeitoso se sentirão mais amados, desenvolverão melhor a autoestima e a alegria de viver. “Mesmo assim”, pondera, “aqueles que convivem com situações familiares adversas, como pais agressivos ou separados, não estão condenados ao fracasso existencial. Apenas terão de enfrentar mais obstáculos e encontrar outros recursos de crescimento”. Nesse aspecto, garante o terapeuta, o papel de comunidades como a igreja pode ser decisivo. “Junto a pessoas confiáveis e que proporcionam encorajamento, essas pessoas podem ter um apoio vital.”
FRUSTRAÇÃO x REALIZAÇÕES
“Há pais mais preocupados com o desempenho dos filhos do que com suas necessidades emocionais de segurança, amor e afeto”, constata Dagmar Grzybowski, profissional especializada em terapia familiar sistêmica. Ela divide com o marido, Carlos, a autoria do livro Pais santos, filhos nem tanto, lançado este ano pela Editora Ultimato. A história do rei Davi é o enfoque da obra, que mostra um homem piedoso e bem sucedido como monarca e líder militar de seu povo mas que, dentro de casa, fracassou reiteradamente. “Grande parte dos pais crentes não dedica tempo para falar aos filhos sobre sua própria fé, continua. Para Dagmar, a vivência cristã tem que ser integrada com a educação de uma forma natural. “É o exemplo dos pais que tem maior influência na adesão dos filhos aos ensinamentos apresentados”. Assim, educação cristã na igreja, como na escola dominical infantil, é apenas uma ferramenta de reforço daquilo que se aprende em casa. “Se os pais não têm temor do Senhor, se não amam a Deus acima de todas as coisas, vai ser muito difícil ensinar uma fé que não praticam”, alerta.

Orientação especializada é uma das melhores soluções para casais cristãos que buscam a excelência na paternidade. O administrador de empresas Carlos Moura Lima e sua mulher, a editora Caline, viviam sentiam inseguros quanto à educação dos filhos. Ouviam conselhos de todos os lados e acabaram deixando as coisas acontecerem por si mesmas. “Achamos que assim não teríamos trabalho criando nossos filhos”, conta Carlos. Foi só quando a filha, Caroline, então com 4 anos, mudou totalmente de comportamento com a chegada do irmãozinho Carlos Eduardo, que as coisas começaram a desandar. A menina se mostrava fria, arredia e indiferente aos sentimentos das outras pessoas. Perdido, os pais não suspeitavam que as atitudes da garota eram próprias de uma personalidade ainda em formação. Nessa época, um curso ministrado na Igreja Batista Memorial de São Paulo, onde congregam, foi de fundamental importância para eles. “Ouvindo as orientações daqueles irmãos, entendi que era nosso papel interferir na personalidade de nossa filha, conduzindo-a a agir corretamente e a respeitar os outros”, conta o pai.
“Além de nós, contamos com outros 25 casais, que partilham do mesmo desejo de fortalecer famílias. Temos visto a eficácia da Palavra de Deus na vida dos pais e mudanças positivas na vida daqueles que se submetem com simplicidade”, revela Rinaldo. “Antes tínhamos apenas duas medidas de ação: deixar as coisas acontecerem ou disciplinar. Hoje, dispomos de alternativas e opções para alcançar nossos objetivos com nossos filhos”, continua Carlos Lima. O convívio na igreja ajudou a consolidar os princípios bíblicos na mente das crianças. Hoje, ele e Caline garantem estar experimentado um período de paz e estabilidade familiar: “Temos o Senhor no controle de tudo”, garante.

“Carência grande”
Cris Poli, a super nanny da TV brasileira, conversou com CRISTIANISMO HOJE:
Por que a modernidade desgasta tanto a relação entre pais e filhos?

A vara era orientada para a época do Antigo Testamento. Quando Jesus veio, trouxe mudança de valores e comportamento. Ele não fala da vara, e sim, de disciplina e limites. O método do “cantinho da disciplina” substitui a vara. Não vejo que a palmada seja aplicada com o intuito de educar e para demonstrar autoridade. Autoridade pode ser demonstrada de outro jeito, com atitude, firmeza e convicção do que se está fazendo, sem descontrole.
A criança aceita os limites impostos pelos pais?



É comum ver famílias com quatro ou cinco filhos. A disciplina família, rígida, estende-se ao respeito à autoridade de pais e professores. A igreja estimula o modelo patriarcal. Transformações sociais nos Estados Unidos e na Europa, como o movimento hippie, começam a provocar efeitos também no Brasil.
Anos 70

O ingresso de mulher no mercado de trabalho provoca reflexos na família; a educação das crianças passa a ser terceirizada e os pais passam a oferecer aos filhos compensações pela ausência. Jovens com mais informação e poder de compra rejeitam a tutela paterna. Novas correntes psicológicas estimulam o diálogo, ao invés da repreensão.
Anos 90

Aumenta a quantidade de pessoas que vivem sozinhas e a população idosa. O avanço da mulher na sociedade aumenta a sensação de insegurança masculina e corrói a figura paterna tradicional. A relativização dos comportamentos e a resistência aos modelos eclesiásticos tradicionais levam muitos jovens a abandonar a fé.
 

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