As duas primeiras queixas relatadas no livro de Números 11


Números capítulo 11

O povo de Israel já havia deixado o Sinai, e os capítulos 11 e 12 relatam acontecimentos havidos em sua marcha até Quibrote-Taavá. Quando surgiam problemas, o povo se queixava. Nisto pecaram, e sua experiência nos traz lições importantes.
Sempre que o povo se queixava, a Glória do SENHOR aparecia. Ele se desagradava das suas reclamações. Podemos estar certos que Ele também se desagrada com muitos crentes que vivem criticando e reclamando hoje em dia. Estão sempre achando defeitos, e nada os satisfaz.
Não sabemos se o fogo do SENHOR consumiu somente algum material que se encontrava em volta do arraial, ou se também atingiu pessoas. De qualquer forma foi um aviso, e por ter se extinguido quando Moisés orou pelo povo, ficou claro que era de origem divina. Taberá significa queimada.
O populacho que estava no meio deles eram os mestiços de israelitas com egípcios. Não podiam se juntar a uma das tribos porque não sabiam a qual pertenciam, nem tinham muita certeza se estavam fazendo bem em seguir junto com o povo, sendo o produto de casamentos mistos. Tendo sangue egípcio, eles sentiam saudades daquela terra.
Nossas igrejas estão cheias deles: querem andar com os crentes, ir à igreja e ter um padrão alto de vida moral. Durante a semana, andam e vivem como o mundo. Não sabem direito onde pertencem, nem têm certeza se nasceram de novo. Na maioria das vezes, são estes que originam rebeldia e descontentamento dentro das igrejas. Gostam de ter um banquete na igreja, mas não vêm aos estudos bíblicos. Não se sentem bem nem na igreja, nem no mundo.
O descontentamento desse populacho contaminou os israelitas e sua atenção se desviou daquilo que haviam recebido (liberdade, nacionalidade, a lei, o sacerdócio, e uma terra que os estava esperando ao fim da viagem) e passaram a concentrar sua atenção em outras coisas que gostariam de ter: um cardápio variado com peixes e verduras inexistentes no deserto. Era a concupiscência da carne, espalhando como uma enfermidade, fazendo-os chorar como crianças à porta das suas tendas. Eles esqueceram o jugo que haviam carregado no Egito em troca dessa comida.
Antes de os condenarmos por isso, convém meditar sobre o que ocupa a nossa atenção na maior parte do tempo: estamos gratos por aquilo que Deus nos tem dado, e pelas maravilhosas coisas que Ele nos tem preparado no céu, ou estamos sempre pensando sobre o que estamos perdendo, e as coisas deste mundo que gostaríamos de ter?
Todas as manhãs (menos ao sábado) o povo de Israel abria suas tendas e presenciava um milagre: o pão que Deus lhes dava. O Espírito Santo descreve o maná novamente para nós, nesta passagem. Era um alimento maravilhoso, contendo tudo o que precisavam para seu sustento, e contribuindo para a sua saúde também. Por exemplo, lemos que através de toda a sua caminhada pelo deserto, os seus pés não se incharam (Deuteronômio 8:4). Mas agora, almejando a carne sobre tudo, desprezavam o mais excelente e versátil maná.
O maná é uma figura do Senhor Jesus, e da Palavra de Deus que O revela para nós. Muitos, em nossas igrejas, infelizmente também se cansam de aprender de Cristo e não têm mais muita vontade de estudar a Sua Palavra: já se enjoaram dela! Procuram se alimentar com outra coisa, desprezando o que Deus lhes deu.
A ira do SENHOR se acendeu grandemente, e Moisés se achou novamente na posição de intermediário. Sua paciência estava, parece, chegando ao fim. Ele reclamou de Deus que preferia estar morto do que continuar a suportar sozinho aquele povo descontente. É um sentimento por que passam muitos pastores nas igrejas, levando alguns até a desistir do seu ministério.
Moisés errou em reclamar assim ao SENHOR, pois a carga não era dele: o SENHOR é que estava, não só carregando o povo, mas ele também. Além do que, o SENHOR lhe havia dado o Espírito Santo para fortalecê-lo. Temos também este privilégio, e devemos lembrar que a obra do SENHOR é dEle, e não assumirmos que devemos levar a carga em nossos ombros.
O SENHOR, porém, pacientemente, selecionou setenta homens entre os anciãos, que eram superintendentes do povo, e sobre eles pôs o Espírito que estava sobre Moisés: não havia mais poder do que antes, mas mais equipamento! Moisés reclamara do peso do fardo da responsabilidade que levava mas Deus, distribuindo o fardo, mostrou que o poder de Moisés tinha sido sempre suficiente em proporção ao peso desse fardo.
Este princípio de ter setenta líderes continuou através da história até o sinédrio nos tempos de Cristo, que O condenou à morte. O Velho Testamento também foi traduzido para o grego, segundo consta, dois séculos antes de Cristo, em Alexandria, por um grupo de setenta, por isso chamando-se essa versão de Setuaginta. A palavra bispo significa superintendente, e presbítero é equivalente a ancião. As igrejas cristãs devem ser dirigidas por um grupo de superintendentes (não um indivíduo), também chamados anciãos.
O SENHOR, ainda, mandou Moisés dizer ao povo para se santificar (dedicar) para o dia seguinte, porque lhes mandaria carne suficiente para um mês inteiro, para comerem até enjoar. Isto porque haviam rejeitado ao SENHOR e lamentado ter saído do Egito. Eles "entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão. Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma" (Salmo 106:14,15).
Devemos fazer nossas preces com ações de graça (Filipenses 4:6), porque sabemos que Ele nos responderá, mas devemos nos dar por satisfeitos mesmo quando a resposta for não, o que acontece muitas vezes, pois o que pedimos pode não ser bom para nós. Se ficarmos reclamando, Ele poderá nos dar o que queremos, mas fará definhar a nossa alma, porque nos fará mal.
Tendo presenciado e mesmo participado de tantos milagres, parece surpreendente que Moisés mostrou incredulidade quando o SENHOR disse que lhes ia dar tanta carne. Nós também às vezes esquecemos que Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos(Efésios 3:20). É fácil confiar em Deus quando vemos Suas obras poderosas (os israelitas haviam visto muitas), mas depois de um tempo, com a rotina da vida, o Seu poder não parece ser tão grande. Nossa visão dEle é que muda, não Ele.
Dois dos anciãos não haviam comparecido à reunião - talvez por bons motivos - mas nem por isso o SENHOR deixou de lhes dar também do Espírito. Moisés não teve ciúmes deles, ao contrário, declarou que gostaria que todo o povo fosse profeta, que o SENHOR desse o seu Espírito a todos! Deus pode trabalhar através de quem Ele quiser: cuidemos para não pormos obstáculo à Sua obra por motivo de ciúmes!
O SENHOR lhes deu toda a carne que queriam, e ainda muito mais. Veio em forma de codornizes, voando a cerca de 90 cm de altura, facilmente apanhadas, em uma nuvem de mais de vinte e cinco quilômetros de comprimento e largura, que cobriu o acampamento por dois dias e uma noite. O que menos apanhou, conseguiu 3,5 metros cúbicos de pássaros. A caça, depois de salgada, foi estendida ao sol, para secar (não tinham congelador!) ao redor do acampamento.
Mas quando começaram a comer, sentiram-se mal e muitos morreram, pois a ira do SENHOR se acendeu contra o povo. O mal não foi tanto ter saudades de uma comida variada, mas sim de fixar seu desejo nela acima de tudo mais, ao ponto de desprezar aquilo que Deus lhes estava dando. Deus conhece nossos desejos, e somos julgados por Ele, mesmo agora. Por isso a Palavra de Deus nos diz quedevemos nos julgar a nós mesmos, para não sermos julgados - mas quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo (1 Coríntios 11:31-32).
Os que morreram foram enterrados, e o lugar passou a se chamar Quibrote-Hataavá (Sepulturas do Desejo).

R David Jones

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