Sarando as feridas causadas por mãe narcisista

INTRODUÇÃO:

Há um perigo que muitas pessoas ignoram, que destrói  lares, famílias, negócios, igrejas e até mesmo nações inteiras. O perigo é difícil de ser visto por causa da natureza que impede e ver a realidade e do desejo sincero de que as pessoas acreditem sempre no melhor dos outros, principalmente quando estes próximos são pessoas próximas, apesar dos sinais aparentemente óbvios de perigo. Esta criatura é o narcisista. Quando é um dos pais o narcisista, os traumas podem ser severos e duradouros. Filhos de pais narcisistas são sobreviventes. 

Este artigo surgiu da necessidade de expressar emoções reprimidas: raiva, tristeza., medo, dor. A decisão foi procurar na palavra de Deus o conforto e consolo. Geralmente o narcisismo não é mencionado em sermões ou estudos bíblicos porque o termo não é explicitamente encontrado na Bíblia.  Infelizmente, a relutância de olhar seriamente para os narcisistas  significa que muitas pessoas sofrem desnecessariamente nas suas mãos e não entendem por que seu mundo está cheio de raiva, medo, ódio e incerteza, nem compreendem o bênçãos e paz que Deus tem para eles fora das distorções perpetuadas pelo narcisista.

O que é narcisismo?

Narcisismo é definido como um interesse excessivo ou admiração por si mesmo e por sua aparência física. A palavra, embora pareça contemporânea, já existe há muito tempo. Na mitologia grega, Narciso era conhecido por sua beleza e amor extremo por si propria e por sua beleza. A história contada sobre ele é que, ao ver seu reflexo em uma poça d'água, se apaixonado como se fosse outra pessoa.

Havelock Ellis, um médico inglês identificou pela primeira vez a palavra narcisismo  em 1897. Paul Adolf Näcke, psiquiatra e criminologista alemão, foi a primeira pessoa a usar o termo narcisismo, em 1899. E então, em 1914, Sigmund Freud publicou um artigo inteiro sobre o tópico On Narcisism: An Introduction .Caso deseje, clique no título do artigo e você será direcionado para ele (Em inglês)

Minha mãe era narcisista e faleceu no mês de junho de 2021 em virtude da Covid. Convivi com ela ao longo destes anos e percebi muito cedo, ainda na infância,  os padrões de comportamento deturbados. A arrogância, falta de empatia, manipulação, inveja, egocentrismo, necessidade de criar conflitos, com uma vida centrada em si impedindo sempre o crescimento espiritual, pessoal e relacional, exigindo obediência completa, cega e absoluta de todos ao seu redor. 

Base Bíblica: 

Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis.
Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios,
sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem,
traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus,

O narcisistas precisam desesperadamente de Jesus pois ninguém ensinou mais a vida centrada no teu próximo do que Jesus. 

Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos". Marcos 10:45

Jesus veio para servir.  O verdadeiro amor dá, oferece, entrega e sacrifica. Ser  cristão significa sair de si mesmo e servir como Jesus fez. 

Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24

O narcisista precisa reconhecer que não pode ser centrado em si. É impossível ser cristão e narcisista. Amar ao teu proximo como a si mesmo deve ser um estilo de vida. 

Martin Luther King afirmou sabiamente: “Sem amor, até a benevolência se torna egoísmo.”

Para os sobreviventes de pais narcisistas é basal e comum passar pela vida desconfiando de tudo e de todos. Assumir relacionamentos baseados na confiança é difícil, sendo a negação de se entregar totalmente uma proteção contra a dor.  

É típico dos sobreviventes estarem bem defendidos contra a dor, pois essa defesa, no fundo, é uma autoproteção necessária. É muito natural querer evitar sofrer novamente, através de uma entrega real e completa. Esta necessidade de se proteger é um extinto de sobrevivência, mas quando você vive sua vida dessa maneira, você fica com uma vida que é mais difícil e vazia porque tem uma profunda sensação de isolamento. Precisamos então de alguém ou algo na vida em que possa acreditar, em que possa confiar e saber que é amado mesmo quando erra. Como uma sobrevivente, percebi que é necessário tomar alguns posições frente a esta situação, que não pode ser mudada por você. 

Comecei a entender que apesar da dor este foi o plano de Deus para mim:

Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.
Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Salmos 139:13,14

O entendimento que eu não era culpada e que nada do que eu tivesse feito poderia mudar o que ela fez, mas que posso mudar o que eu faço. Não preciso repetir as lições aprendidas por ela, nem preciso sentir vergonha de quem ela era. Precisei perdoar muitas pessoas que estavam ao meu lado e que poderiam ter me defendido mas escolheram adotar a passividade. 

Com a morte dela, precisei perdoar a mim mesmo por não ter conseguido apoia-la nos últimos dias e cumprir o que  Provérbios 23:22 afirma que devemos fazer: 

Ouça o seu pai, que o gerou; não despreze sua mãe quando ela envelhecer.

Ela morreu sozinha, sem apresentar nenhum fruto de arrependimento, sem procurar a paz nem mesmo no ultimo suspiro. E eu? Estou viva. Não posso me consolar que um dia irei encontra-la novamente no céu, pois nossos encontros nunca foram agradáveis.
E eu? 
Nunca ficarei bem ao ver um adulto utilizar a Bíblia como justificativa para espancar seus filhos:
A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe.


Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá.

Entendo que a vara de correção é a palavra de Deus e não o chicote, um pedaço de pau, uma panela de ferro. Deus me deu um cérebro e um coração e é conveniente usa-los. É nossa responsabilidade acabar com o abuso infantil, utilizando a palavra de Deus. Apesar de tudo, sou grata, pois graças às tribulações enfrentadas, hoje em dia sou uma pessoa paciente, resiliente e perseverante. 

Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.

Conviver com a raiva por entender  que minha própria mãe não foi uma pessoa boa e que fez muito mal a quem ela deveria amar é entender que esta é uma raiva justa, que preciso aprender a lidar com isto e exercer o autocontrole. Deus sabe que iremos nos irar, mas nem por isso, estaremos pecando. Mas a ira pode causar o pecado e isto desagrada a Deus. A raiva não deve ser seguida de trevas. 

Quando vocês ficarem irados, não pequem". Apazigüem a sua ira antes que o sol se ponha,
e não dêem lugar ao diabo. Efésios 4:26,27

Quando cedemos à raiva, geralmente nos concentramos em nosso próprio bem-estar, conforto ou felicidade, pou seja, assumimos comportamentos narcisistas. Em vez disso, devemos nos preocupar principalmente com o bem-estar das outras pessoas e em ser uma boa testemunha de Deus. Viver a raiva, mas não ceder a ela. 

Como você pode ver na passagens anterior e na próxima,  Deus não quer que simplesmente venhamos a reagir emocionalmente às ações dos outros. Em vez disso, devemos responder com sabedoria e um espírito gentil.
pois a ira do homem não produz a justiça de Deus. Tiago 1:20

CONCLUSÃO:

No ultimo mês da vida de minha mãe, foi possível ter um pouco de paz com ela e expressar que não queria que ouvir as suas severas críticas. Notei ela triste quando percebeu que não iria conseguir me manipular. Na próxima vez que ela me chamou, ela estava mais amável e não falou mal de ninguém. Apresentava sinais de depressão e cansaço. Naquele dia eu percebi que ela não conseguia ver mais sentido na sua vida, pois não conseguia mais manipular ninguém e que estava só, isolada num quarto muito confortável e triste Seu enterro também foi triste, vazio de pessoas, não apenas por causa a Covid, mas causado pela  enorme solidão que ela vivia, por ter afastado a todos de seu convívio, um enterro lotado de saudades de coisas não vividas, de um amor que não foi dado, de risadas que não ocorreram, de cumplicidade não exercida. 

Ela não me abraçou, mas Deus me abraça. Deus sempre tem a palavra final e o abraço do meu filho caçula no funeral, a presença e o consolo de minha filha  e de meus netos deixa claro que eu fui capaz de construir uma família que se apoia e está unida não apenas para festejar, mas também para prantear. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Posso fazer sexo quando estou de jejum?

Sermão para aniversário - Vida guiada por Deus

Judá e Tamar - Selo, cordão e cajado