Exegese do Capítulo 8 de Cantares

 

Intimidade Conjugal e Simbolismo

Cantares 8 é o capítulo final do livro de Cânticos dos Cânticos, e é muitas vezes considerado a culminação poética do amor conjugal e espiritual celebrado ao longo de todo o texto. Neste capítulo, há uma ênfase na permanência do amor, na força do desejo e na inviolabilidade da união entre o amado e a amada, temas que refletem tanto a intimidade física quanto a profundidade emocional.

A exegese deste capítulo com foco na i


ntimidade conjugal e uma comparação entre o Tanach (Bíblia Hebraica) e a versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), utilizando o Dicionário Strong, revela nuances importantes sobre o amor humano, seu vínculo com o espiritual e como esse amor é expresso na intimidade física.

Cânticos 8:1-2

Texto (ARA): "Ah, se você fosse meu irmão, amamentado aos seios de minha mãe! Se eu o encontrasse fora, eu o beijaria, e ninguém me desprezaria. Eu o levaria e o introduziria na casa de minha mãe, e você me ensinaria."

  • Comentário Exegético: Esses versículos expressam um desejo profundo de intimidade sem restrições. A amada deseja que o amado fosse como seu irmão, sugerindo que, se ele fosse membro de sua família, ela poderia expressar seu amor de forma pública sem ser criticada. O desejo de levá-lo para a casa da mãe reflete a intimidade e a profundidade do amor conjugal. A "casa da mãe" é um símbolo de segurança e nutrição, o lugar onde a intimidade pode florescer sem medo.

  • Hebraico e Strong: A palavra hebraica para beijar é "נָשַׁק" (nashaq - H5401), que, no Dicionário Strong, também pode ter a conotação de "colocar os lábios juntos em afeição". Esse beijo é símbolo tanto de afeição como de desejo de união. Já a palavra mãe em hebraico é "אֵם" (em - H517), frequentemente usada como símbolo de segurança, lar e origem da vida.

Cânticos 8:3

Texto (ARA): "A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace."

  • Comentário Exegético: Este versículo é uma expressão direta da intimidade física entre os amantes. As mãos que sustentam e abraçam são um símbolo de proteção e de carinho. O abraço no contexto conjugal sugere uma união corporal que reflete a união emocional e espiritual entre os dois. Essa imagem física de proximidade reforça a ideia de que o amor conjugal, dentro do casamento, é abençoado e celebrado.

  • Hebraico e Strong: A palavra abraçar é "חָבַק" (chabaq - H2263), que significa "abraçar, envolver". O uso dessa palavra no contexto conjugal sublinha o papel do toque físico como uma expressão de afeto e proteção. O abraço é visto não apenas como um gesto de carinho, mas como um símbolo da união física e emocional.

Cânticos 8:4

Texto (ARA): "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o amor, até que este o queira."

  • Comentário Exegético: Essa advertência aparece em vários momentos do livro, reiterando que o amor e a intimidade física devem ser expressos em seu tempo certo. Aqui, o texto sublinha a ideia de que o amor não deve ser forçado ou apressado, mas deve fluir naturalmente. O controle sobre o despertar do amor ressalta o respeito à reciprocidade e ao ritmo do relacionamento, enfatizando o consentimento e a mutualidade.

  • Hebraico e Strong: A palavra hebraica para despertar é "עוּר" (ur - H5782), que significa "acordar, levantar, estimular". Isso implica que o amor físico deve ser tratado com sensibilidade e respeito, não despertando prematuramente o desejo antes que seja apropriado.

Cânticos 8:6-7

Texto (ARA): "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; porque o amor é forte como a morte, e o ciúme é cruel como o Sheol; as suas brasas são brasas de fogo, labaredas do Senhor. As muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo."

  • Comentário Exegético: Esses versículos destacam a força e a permanência do amor conjugal. O "selo" simboliza um compromisso inquebrável, que marca a pessoa profundamente. O amor é comparado à morte, em sua inevitabilidade e força, enquanto o ciúme é visto como algo devastador. O fogo é usado como uma metáfora para o desejo, ardente e insaciável. Esta seção também introduz um elemento espiritual, associando o amor à presença divina.

  • Hebraico e Strong: A palavra hebraica para amor é "אַהֲבָה" (ahavah - H160), que no Dicionário Strong se refere a um amor profundo e forte. O uso da palavra selo (em hebraico "חוֹתָם", chotam - H2368) reflete uma marca de propriedade ou aliança, sugerindo que o amor conjugal é uma aliança permanente e inviolável.

Cânticos 8:8-9

Texto (ARA): "Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios. Que faremos a esta nossa irmã, no dia em que ela for pedida em casamento?"

  • Comentário Exegético: Aqui, o texto muda temporariamente o foco para uma irmã mais nova que ainda não amadureceu. Isso pode simbolizar a preparação para o casamento e o respeito pelo tempo de maturação. A preocupação expressa aqui é que o amor e a intimidade sejam despertados no tempo adequado.

  • Hebraico e Strong: A palavra seios é "שַׁדַּיִם" (shaddayim - H7699), e simboliza a feminilidade e a maturidade sexual. O uso dessa palavra sublinha o desenvolvimento físico necessário para que uma jovem entre em um relacionamento conjugal.

Cânticos 8:10

Texto (ARA): "Eu sou um muro, e os meus seios são como as suas torres; então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz."

  • Comentário Exegético: A amada se descreve como um muro, o que pode simbolizar tanto proteção quanto resistência. Os seios comparados a torres indicam maturidade e força. A expressão "achar paz" sugere que a união física e emocional com o amado traz uma sensação de completude e satisfação.

  • Hebraico e Strong: A palavra muro em hebraico é "חוֹמָה" (chomah - H2346), que simboliza proteção e estabilidade. O termo "paz", "שָׁלוֹם" (shalom - H7965), refere-se a paz, completude e bem-estar, indicando que o amor conjugal oferece segurança e plenitude emocional.

Cânticos 8:11-12

Texto (ARA): "Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou esta vinha a guardas; e cada um lhe trazia pelo fruto mil peças de prata."

  • Comentário Exegético: A "vinha" aqui é um símbolo da amada, e o ato de guardá-la representa a proteção e o cuidado necessários para que o amor floresça. As "mil peças de prata" podem simbolizar a riqueza espiritual ou o valor do amor puro e protegido.

  • Hebraico e Strong: A palavra vinha em hebraico é "כֶּרֶם" (kerem - H3754), frequentemente usada como metáfora para o corpo da mulher, especialmente no contexto da intimidade conjugal. O termo indica algo precioso que deve ser cuidado e protegido.

Cânticos 8:13

Texto (ARA): "Ó tu que habitas nos jardins, os teus companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-a ouvir."

  • Comentário Exegético: O encerramento do capítulo refere-se à "voz" da amada, possivelmente sugerindo a expressão de desejo e de amor. A "habitação nos jardins" simboliza a vida conjugal e a harmonia do amor. O jardim, ao longo do livro, simboliza tanto a beleza física quanto a fertilidade.

  • Hebraico e Strong: A palavra jardim é "גַּן" (gan - H1588), que simboliza fertilidade, prazer e abundância. Nos Cânticos, o jardim é uma metáfora constante para a intimidade conjugal, refletindo a plenitude do relacionamento físico.

Cantares 8:14

Cantares 8:14

Versículo (ARA):
"Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela sobre os montes de aromas."

Texto Hebraico:
"ברח דודי ודמה לך לצבי או לעפר האילים על הרי בשמים" ("Barach dodi, u'dmeh lecha le'tzvi o la'ofair ha'ayalim al harei b'samim").

Análise Palavra por Palavra (Hebraico e Dicionário Strong)

  • "Vem depressa" - A palavra hebraica usada aqui é "בָּרַח" (barach - H1272), que significa "fugir", "correr" ou "apressar-se". O verbo expressa um desejo urgente da amada pela chegada do amado, intensificando a expectativa do encontro. Há um anseio para que o amado não demore, refletindo um desejo emocional e físico de proximidade.

  • "Amado meu" - A palavra hebraica "דוֹד" (dod - H1730) é frequentemente usada em todo o livro para se referir ao amante. Este termo carrega uma conotação tanto de afeição quanto de desejo erótico. No contexto de Cânticos, "dod" não só expressa o vínculo emocional entre os amantes, mas também o aspecto conjugal e físico do relacionamento.

  • "Semelhante ao gamo" - A palavra "צְבִי" (tzvi - H6643) refere-se ao gamo, um cervo ágil e rápido. O gamo é frequentemente utilizado na poesia hebraica para simbolizar a beleza, a agilidade e o vigor. Aqui, a amada compara o amado a esse animal, sugerindo não apenas sua aparência física, mas também sua prontidão e desejo de estar com ela.

  • "Ou ao filho da gazela" - A palavra "עֹפֶר" (ofer - H6082) refere-se ao filhote de uma gazela ou cervo. As gazelas, conhecidas por sua graça e rapidez, são símbolos de beleza, sensualidade e liberdade. Ao usar essa comparação, a amada está elogiando o amado como alguém desejável e vigoroso. Também implica a expectativa de uma interação rápida e apaixonada.

  • "Sobre os montes de aromas" - "הֲרֵי בְשָׂמִים" (harei besamim - H2022 e H1314) refere-se literalmente a "montes de especiarias" ou "montes perfumados". O "monte" na poesia hebraica muitas vezes simboliza elevação e majestade. As "especiarias" ou "aromas" representam prazer e deleite sensorial. Esses montes podem simbolizar o local da união física entre os amantes, um espaço de deleite e paixão.

Comentário Exegético

Neste versículo final de Cantares 8, a amada clama pelo amado para que venha rapidamente até ela. A urgência expressa no verbo "vem depressa" reflete a paixão e o desejo intenso de união. Ao longo do livro, a relação entre os dois é descrita com uma linguagem de reciprocidade e desejo mútuo. Aqui, a amada não só deseja a presença do amado, mas também deseja que ele venha com a mesma agilidade e graça de um gamo ou de uma gazela.

A comparação com o gamo e o filhote da gazela reforça a ideia de beleza, graça e prontidão. Esses animais são conhecidos por sua agilidade, e o uso dessa imagem sugere que o amado é ágil e desejável, pronto para o encontro amoroso. O tom é de celebração da intimidade física, onde a amada espera com entusiasmo a chegada do amado, desejando que ele não tarde.

Os "montes de aromas" são um símbolo poético do local onde o encontro acontecerá. É uma referência à natureza, ao ar livre, e aos sentidos despertados pelo amor. O monte perfumado pode ser interpretado como uma metáfora para a união conjugal, um espaço de prazer e satisfação mútua.

Simbologia e Tipologia

  • O Gamo e a Gazela: Animais frequentemente associados à sensualidade e ao vigor, a comparação com esses animais realça o aspecto físico do amor descrito no livro. Na tipologia bíblica, eles são símbolos de beleza, velocidade e liberdade, mas aqui estão especificamente associados ao desejo erótico e à prontidão para a união.

  • Montes de Aromas: Os montes são frequentemente usados como símbolos de majestade e mistério na Bíblia, e neste contexto, os "montes de aromas" sugerem um lugar elevado e especial para a consumação do amor. As especiarias, associadas ao prazer e ao deleite, são símbolos do prazer conjugal abençoado por Deus.


Conclusão de Cantares 8

O capítulo 8 de Cânticos dos Cânticos traz um encerramento profundamente simbólico e emocional para o poema que celebra o amor conjugal. Ao longo dos versos, a intimidade física e espiritual entre os amantes é exaltada, mostrando o amor não apenas como um desejo passageiro, mas como algo eterno, forte e protetor. O amor é comparado à morte em sua inevitabilidade e poder, e ao fogo em sua intensidade, características que indicam a profundidade desse relacionamento.

Este capítulo começa com o desejo da amada de estar sempre próxima ao amado, sem limitações sociais ou culturais, o que reforça a ideia de que o amor verdadeiro transcende as convenções. Há uma ênfase na proximidade física e emocional dos amantes, que reflete a unidade de um relacionamento conjugal saudável, onde o desejo e o afeto se complementam.

Nos versículos intermediários, a força do amor é destacada com palavras poderosas, como o "amor forte como a morte" e "as águas não podem apagá-lo" (8:6-7). O amor é visto como algo inquebrável, indestrutível e invencível. Essa expressão reflete o caráter sagrado do amor no casamento, que é um reflexo do relacionamento espiritual entre Deus e Seu povo, ou entre Cristo e a Igreja, segundo interpretações cristãs posteriores.

Finalmente, o versículo 14, o clímax do capítulo, traz o chamado final da amada para o amado vir depressa, comparando-o a um gamo ou gazela. Isso encerra o poema com uma nota de expectativa, desejo e alegria na união física. O desejo da amada por seu amado é uma imagem forte de como o relacionamento amoroso e a intimidade física no casamento são abençoados e celebrados.

Simbologia e Tipologia no Capítulo 8

  • Fogo e Água: O amor é comparado ao fogo, que queima e não pode ser apagado. Isso simboliza a paixão e a intensidade do amor conjugal. As águas que "não podem apagá-lo" indicam que, apesar dos desafios e dificuldades, o amor verdadeiro permanece inabalável.

  • Morte e Amor: O amor é descrito como tão forte quanto a morte, sugerindo que é eterno e inevitável. Essa comparação reforça a ideia de que o amor conjugal não é apenas uma emoção passageira, mas uma aliança que atravessa até as maiores provações.

  • O Gamo e a Gazela: No versículo final, a comparação do amado com esses animais indica agilidade, vigor e desejo. Esses animais são símbolos de beleza e sensualidade, e sua presença no texto evoca a energia do amor físico entre os amantes.

Comparação entre o Tanach e a ARA (Dicionário Strong)

A versão Tanach e a Almeida Revista e Atualizada (ARA) mantêm uma tradução próxima ao original hebraico, mas algumas nuances podem ser percebidas quando estudamos o texto hebraico com o auxílio do Dicionário Strong.

  • "Amor forte como a morte" (Cantares 8:6): A palavra hebraica para "amor" é "אהבה" (ahavah - H160), que carrega tanto o sentido de afeto quanto de desejo, abrangendo a ideia de um amor completo, emocional e físico. Na ARA, "amor" mantém essa tradução, mas o hebraico transmite uma profundidade adicional que pode sugerir um vínculo irrevogável e divinamente ordenado.

  • "As águas não podem apagá-lo" (Cantares 8:7): A palavra para "apagar" é "כבה" (kavah - H3518), que significa extinguir ou sufocar. Na ARA, a tradução é precisa, mas no hebraico há uma ideia de resistência, como se o amor fosse algo que nem mesmo as forças externas mais poderosas pudessem suprimir.

Conclusão Teológica e Espiritual

Cantares 8 encapsula a celebração do amor conjugal como algo puro, poderoso e divinamente abençoado. A linguagem erótica presente no texto é uma afirmação de que a intimidade física entre marido e mulher é algo a ser comemorado e preservado. Em termos espirituais, o capítulo pode ser lido como uma metáfora para o relacionamento entre Deus e Seu povo, ou Cristo e a Igreja, mostrando que o amor deve ser tanto físico quanto espiritual, forte e protetor, e sempre presente em meio às adversidades.

A exaltação da paixão e do compromisso no casamento em Cantares é um lembrete da sacralidade da aliança conjugal. Em última análise, Cantares 8 nos mostra que o amor verdadeiro, tanto o espiritual quanto o físico, é algo que transcende o tempo, as dificuldades e as normas, sendo um reflexo do amor eterno de Deus por nós

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