Quem sou eu?

Eu me pergunto isso tantas vezes. Quem sou eu? Às vezes, olho no espelho e não reconheço a pessoa refletida. Outras vezes, fecho os olhos e sinto que sou apenas um eco distante de quem eu deveria ser. Vivo entre o medo e a coragem, entre a fé e a dúvida, entre o desejo de seguir e a vontade de desistir.

Sou alguém que carrega perdas como cicatrizes invisíveis. Algumas, doloridas demais para serem tocadas. Outras, tão antigas que já se misturaram à pele. Sou feita de despedidas forçadas, de saudades de momentos que nunca existiram, de histórias interrompidas antes mesmo de começarem.

E então, leio Atos 20:22-24.  “Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para Jerusalém, sem saber o que me acontecerá ali. Sei apenas que, em todas as cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimentos me esperam. Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus.”

Vejo Paulo caminhando para Jerusalém, sabendo que o que o espera não é glória, mas sofrimento. Ele sabe das correntes, das perseguições, da solidão. Mas mesmo assim, vai. Não porque não sente medo, mas porque sabe que há algo maior do que o medo.

Eu, por outro lado, quantas vezes hesitei? Porque as perdas doem, porque as ausências pesam. Há pessoas que partiram e deixaram vazios dentro de mim que ninguém pode preencher. Há sonhos que nunca aconteceram, risadas que nunca foram dadas, abraços que nunca existiram. E esses também são lutos, talvez os mais difíceis, porque são aqueles que ninguém vê.

Paulo não considerava sua própria vida preciosa demais. Ele só queria terminar a corrida, cumprir o chamado que recebeu. Mas quantas vezes eu considerei minha dor preciosa demais? Como se ela fosse minha identidade, como se sem ela eu não soubesse mais quem sou.

Já tentei fugir. Já me escondi atrás de desculpas, já me calei quando deveria falar, já hesitei quando Deus me chamava. Mas, no fundo, sei que não posso viver pela metade. Não posso ignorar o fogo que arde em mim, ainda que às vezes esse fogo pareça apenas brasas fracas.

Sei que haverá dificuldades. Sei que posso ser incompreendida, rejeitada, ferida. Sei que o caminho à frente pode trazer novas perdas e novas saudades. Mas o que realmente importa? A dor de seguir ou a dor de não ter tentado?

O chamado de Deus não é sobre o que eu perdi. É sobre o que ainda posso viver. E talvez essa seja a parte mais difícil: deixar para trás o que nunca foi, soltar os fios do passado que enroscam meus pés e me fazem parar.

Hoje, escolho seguir. Escolho enfrentar o desconhecido. Escolho confiar que, assim como Deus fortaleceu Paulo, Ele também me fortalecerá. Porque se há algo que aprendi é que Deus nunca desperdiça dor. Ele transforma. Ele ressignifica. Ele usa até mesmo as saudades que carrego do que nunca foi para me ensinar que há algo muito maior à frente.

E quem sou eu? 

Sou alguém que, apesar das perdas, apesar das lágrimas silenciosas, apesar das saudades sem nome, escolhe seguir. Porque o chamado é maior do que a dor. E sei que meu chamado é para conslar os que estão passando por tribulações. 

2 Coríntios 1:3-4 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.

E então no dia que estiver diante do Senhor, só quero dizer: Pai, estou aqui!  Finalmente posso dizer que terminei a corrida e  guardei a fé.

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