Desabafo de Uma Pastora Não Exemplar

Há um grito dentro de mim. Um grito inconveniente, insistente, incômodo. Ele nunca sabe a hora de se calar. 

Certo dia, um daqueles dias em que o peso do ministério parecia esmagador, tudo dentro de mim gritava por socorro. Sentia-me sufocada, esmagada entre as exigências do meu chamado e as supostas “delícias” de ser Pastora.

Corri para a internet, procurando algo, alguém, um respiro. Até que encontrei um site com um título promissor:

PARA ESPOSAS DE PASTORES E PASTORAS

Meus olhos brilharam. Talvez ali eu encontrasse compreensão. Talvez ali houvesse espaço para minhas dores. Talvez ali eu não precisasse fingir que estava bem. Então cliquei.

Mas, meu Deus… que decepção!

Cada fórum, cada texto, cada comentário era uma vitrine impecável de mulheres espiritualmente inabaláveis.

Mulheres que não choram.
Mulheres que não questionam.
Mulheres que parecem ter descoberto um manual secreto sobre como ser perfeitas.

Tentei interagir. Fiz perguntas. Abri meu coração. Mas, a cada resposta, sentia-me menor, mais inadequada.

— Ah, minha querida, entregue tudo ao Senhor e sorria. Pastoras não demonstram fraqueza.
— Quem confia em Deus não se desespera.
— O segredo é se calar e orar.

O nó na garganta apertou. Eu queria perguntar, mas será que podia?

"Alguém mais sente que está falhando o tempo todo?"
"Vocês já tiveram vontade de desistir?"
"Será que sou a única que chora escondida depois de um culto?"

Mas a única resposta foi um silêncio ensurdecedor.

"Psssss... silêncio. Essas não são perguntas adequadas para uma esposa de pastor."

Passe o batom.
Coloque um sorriso no rosto.
As ovelhas precisam te ver bem.

Mas eu não estou bem.
Eu estou exausta.
Estou sufocada.
Estou desesperada para encontrar alguém que diga: "Eu te entendo."

E então, um pensamento me atravessou a alma:

Ou sou eu a incapaz, a antítese do chamado pastoral...
Ou essas mulheres estão escondendo suas dores atrás de respostas ensaiadas.

Busquei apoio e encontrei receitas de bolo.
Busquei misericórdia e encontrei padrões inalcançáveis.
Busquei alívio e me senti ainda mais miserável, porque não queria fingir que estava bem.

Minha alma gritava.

"Pelo amor de Deus, alguém me diga: vocês também se sentem sozinhas? Vocês também carregam esse peso? Vocês também já duvidaram de si mesmas?"

E a resposta invisível veio em forma de regras não ditas:

"Sorria. Fique em silêncio. Não demonstre fraqueza. As pessoas precisam acreditar que você está sempre firme."

Mas... quem disse que eu estou firme?

Quem disse que eu não estou cansada?

E, afinal... quem sou eu?

Sou a mulher que ama a Deus, mas às vezes se sente sozinha.
Sou a Pastora que ora pelas ovelhas, mas às vezes chora sem que ninguém perceba.
Sou a serva que deseja servir, mas que também precisa ser cuidada.

Quer saber? Chega!

Chega de tentar caber em um molde que nunca foi real.
Chega de fingir que liderança é sinônimo de perfeição.
Chega de carregar o peso de um título que não pode ser maior do que minha humanidade.

Eu quero apenas ser eu.
Quero poder dizer “não quero” sem me sentir um fracasso.
Quero admitir que não sei tudo sem ser vista como menos espiritual.
Quero ser alguém que precisa da graça tanto quanto qualquer outra pessoa.

Mas... isso foi naquele dia. Um dia ruim.

Hoje estou melhor. Mais consciente. Mais real. Não mais conformada, mas com novos olhos—olhos que enxergam além das aparências.

Ainda há dias difíceis. Dias em que essa cobrança por perfeição bate forte. Mas meu Médico vem, me dá Seu bálsamo e me faz tomá-lo.

E eu bebo.
E eu respiro.
E eu me rendo à graça que me permite ser imperfeita diante Dele.

Então, para vocês, mulheres do ministério—Pastoras, esposas de Pastores, líderes, professoras de Escola Bíblica—ouçam bem: não se deixem aprisionar pelo peso da aparência.

Não aceitem um fardo que Deus nunca colocou sobre seus ombros.

Mostrem que liderar não significa estar sempre forte.
Mostrem que pastores também choram.

Aceitem o diálogo.
Permitam-se errar.
Não tenham medo de mostrar que são humanas.

Eu já fui aquela mulher que queria agradar a todos.
Já fui aquela que se sentia insuficiente.
Já fui aquela que escondia o cansaço atrás de um sorriso ensaiado.

Hoje, luto para ser apenas eu.

E antes de seguir com sua rotina, antes de colocar o sorriso no rosto e fingir que está tudo bem, olhe-se no espelho e pergunte:

"Sou aquilo que faz o Senhor e a mim felizes, ou apenas o que os outros esperam de um título?"

                                     Pra Roselaine

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