O mensageiro de Davi - Aimaás

Aimaás Hebraico - Meu irmão está irado. 1 Sm 12.2.

(2 Sm 18.19-33)

Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus a Paz do Senhor.

Pareceu-me bem rememorar a uma mensagem que foi publicada pela CPAD na revista de escola bíblica dominical do 3º trimestre de 1991; nela encontramos dentre outras mensagens a do Aimaás o mensageiro sem mensagem.

Daí me surgiu a idéia de reviver esta mensagem utilizando de outras palavras. Vamos acompanhar!

Quando Absalão, o filho usurpador de Davi, morreu pelas mãos de Joabe enquanto estava preso pelos cabelos em uma árvore, Aimaás se ofereceu para levar a notícia ao Rei. Porém, não era uma notícia comum. Era, ao mesmo tempo, uma boa e uma má notícia. Boa, porque o inimigo do rei morrera. Ruim, porque o tal inimigo do rei era ninguém menos que seu próprio filho.

Como transmitir esta notícia?

Pelo que o texto indica Aimaás não estava muito preocupado com isso. Pra ele, bastava dizer: “O Senhor te livrou do poder dos teus inimigos”. Mas Joabe sabia que não era tão simples assim. Percebendo a inaptidão de Aimaás, Joabe sentenciou: “Tu não serás hoje o portador das novas. Outro dia as levarás, mas hoje não darás a nova, porque é morto o filho do rei” (2 Sm.18:20).

Somos comissionados por Deus a anunciar a Morte do Filho de Deus até que Ele venha (1 Co. 11:26). A morte de Cristo é o cerne do Evangelho. Paulo tinha consciência da seriedade disso:“Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (1 Co.2:2-3).

Anunciar a morte do Filho do Rei deve ser encarado com a devida seriedade.

Em vez de Aimaás, Joabe preferiu comissionar um etíope anônimo. Deve ter sido uma ofensa para alguém tão importante como Aimaás, filho do sacerdote, ser preterido por um etíope.

“Disse Joabe a um etíope: Vai tu, e dize ao rei o que viste. O etíope se inclinou diante de Joabe, e saiu correndo” (2 Sm.18:21).

Deus tem seus critérios de escolha. Ele não está preso às convenções sociais. De acordo com Paulo, “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. 

Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que ninguém se glorie perante ele” (1 Co 1.27-29).

Quando o etíope se viu comissionado, a primeira coisa que fez foi se inclinar, humilhando-se diante daquele que lhe confiou tão nobre missão. Em seguida, saiu em disparada.

Aimaás não aceitou ser preterido. Como um humilde e insignificante etíope poderia substituí-lo? E todos os anos gastos no tabernáculo? E a educação primorosa que recebera? A seu ver, tudo quanto vivera até aquele instante, preparou-o para ser portador daquela mensagem. Ele não podia deixar barato.

“Insistiu Aimaás, filho de Zadoque: Seja o que for, deixa-me também correr após o etíope. Mas Joabe respondeu: Por que correrias tu, meu filho? Não receberás nenhuma recompensa pelas notícias?” (v. 22).

A questão agora não era se seria ou não recompensado. O que o incomodava era ter sido substituído por alguém que ele considerava desqualificado. Portanto, era uma questão de honra. Olhando firmemente para Joabe, respondeu: “Seja o que for, disse Aimaás, correrei. Disse-lhe Joabe: Corre. Aimaás correu pelo caminho da planície, e passou adiante do etíope” (v. 23).

- Tá Aimaás. Você venceu! Se quiser ir, vá!

- Deixa comigo! Você não vai se arrepender! Ninguém melhor do que eu para cumprir esta missão. 

Por causa de sua insistência, Joabe fez uma concessão.

Enquanto o etíope tinha uma comissão, Aimaás recebera uma concessão. Ser comissionado é receber uma missão, um propósito. Já a concessão é uma permissão.

Cabe aqui uma reflexão acerca das atividades com as quais estamos envolvidos em nosso dia-a-dia. Estaríamos nelas por comissão ou por concessão? Se formos comissionados, nosso trabalho nos proporcionará prazer. Mas se entramos em algo apenas por uma concessão divina, sem termos sido vocacionados para aquilo, aos poucos o prazer se transformará em enfado. 

Nossa existência precisa servir a um propósito, que nos servirá de motivação até o cumprimento de nossa missão.

Até hoje, os etíopes são famosos por sua habilidade atlética. Muitos dos campeões olímpicos de atletismo são etíopes. Imagino que para alcançar e ultrapassar aquele atleta africano, Aimaás deve ter se esforçado ao máximo. Ele tinha que provar pra todo mundo, inclusive para si mesmo, que era capaz de dar conta daquela missão.

Pra ele, tudo não passava de uma competição. Era isso que o estimulava a correr.

Ele sequer teve tempo de pensar em como daria aquela notícia ao Rei Davi.

“Davi estava assentado entre as duas portas, e a sentinela subiu ao terraço da porta junto ao muro e, levantando os olhos, viu um homem que corria só. Gritou a sentinela, e o disse ao rei. O rei respondeu: Se vem só, deve trazer boas notícias. E o mensageiro aproximava-se cada vez mais. Então a sentinela viu outro homem que corria, e gritou ao porteiro, e disse: Olha, lá vem outro homem correndo só. Disse o rei: Também esse traz boas notícias” (vv.24-26).

Davi estava apreensivo. Que notícia o rei esperava receber?

Só havia duas hipóteses:

• Seu filho vive! Portanto, seu reino ainda está ameaçado.

• Seu reino já não sofre qualquer ameaça. Seus inimigos foram liquidados! Portanto, seu filho está morto.

“Disse a sentinela: Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas novas” (v.27).

Pelo jeito, Aimaás tinha uma maneira característica de correr que o distinguia dos demais. De longe foi reconhecido pela sentinela. O rei respirou fundo e disse: Se é Aimaás, a notícia deve ser boa. Ele não viria me trazer más notícias. Ele é um garoto educado entre os sacerdotes. Joabe não o enviaria com notícias ruins.

Ademais, quem se atreveria a correr sozinho para dar uma notícia ruim? Qualquer mensageiro sabia que seu pescoço estava em jogo. Se o rei não gostasse do que ouvisse, poderia ordenar a sua execução ali mesmo.

Convém recordar que Jesus orientou aos Seus discípulos a irem de dois em dois. Correr sozinho não é recomendável.

Quando se viu diante do rei, Aimaás o saudou gritando: “Paz. Inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o Senhor teu Deus, que entregou os homens que levantaram a mão conta o rei meu senhor” (v.28).

Repare que ele foi bem evasivo. Não quis entrar em detalhes. Talvez tenha pensado: - Deixarei o rei tirar suas próprias conclusões.

Mas o rei não se deu por satisfeito com uma notícia tão genérica.

“Perguntou o rei: Vai bem o jovem Absalão? Respondeu Aimaás: Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim, teu servo, porém não sei o que era” (v.29).

Covarde! Cadê o valente que se sentiu desonrado por ter sido preterido por um etíope? Por que não diz o que foi enviado a dizer? Por que esconde o jogo?

O que Aimaás queria era apenas fazer uma média com o rei.

Há muitos Aimaás em nossos dias. Gente preocupada em resguardar sua posição, em ser vista, elogiada, mas que não cumpre cabalmente a sua missão.

Já nos tempos de Paulo verificamos o mesmo fenômeno. O apóstolo denuncia aqueles que“pregam a Cristo por inveja e porfia”, que “anunciam a Cristo por contenda, não sinceramente”(Fp.1:15,17).

Aimaás estava tão preocupado com sua performance como atleta, em chegar primeiro que o etíope, que não se preocupou em dar a notícia com precisão.

É melhor chegar em segundo, mas cumprir a missão, do que chegar em primeiro e deixar a desejar.

O texto que Davi ordenou que Aimaás se colocasse ao seu lado, enquanto esperava a chegada do outro mensageiro. A mesma coisa se sucede à igreja, quando perde a credibilidade e sua mensagem deixa de ser pertinente. Ela é posta de lado do processo histórico. Deixa de ser protagonista, para ser expectadora.

Enquanto Aimaás se colocava ao lado de Davi achando que cumprira sua missão, “chegou o etíope, e disse: Ouve, senhor meu rei, a boa notícia. Hoje o Senhor te livrou do poder de todos os que se levantaram contra ti. Perguntou o rei ao etíope: Vai bem o jovem Absalão? Respondeu o etíope: Sejam como aquele jovem os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazerem mal. Então o rei, profundamente comovido, subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou: E andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (vv.31-33).

A coragem que faltou em Aimaás sobrou no etíope.

Ainda que perdesse a vida, pelo menos cumprira a sua missão. É com gente assim que a causa do Reino necessita. "Homens que já expuseram as suas vidas pelo de nosso Senhor Jesus Cristo"(At 15:26); que amem mais sua missão do que sua própria existência (At 20:24).

A notícia que trazia ao rei era tanto boa, quanto ruim, pois anunciava, ao mesmo tempo, a derrota dos inimigos do rei, e a morte de seu filho. O etíope foi sábio ao partilhá-la. Soube usar as palavras de maneira tal, que o rei não lhe fez mal algum.

Qual foi a reação de Davi? Ele se angustiou, e andando de um lado para o outro, sentiu-se culpado pelo triste destino que teve seu filho.

• A mensagem conveniente (2 Sm 18.22 ). Aimaás não era indicado para levar a mensagem, pois um filho de Israel não pode ser portador de notícias tristes. Muito menos o filho de um sacerdote. Que um estrangeiro entregasse tal mensagem; nunca um servo de Deus. A nossa mensagem deve ser uma mensagem conveniente; devem ser encontradas mensagens em nós.

Os dois corredores. Com a inusitada insistência de Aimaás em correr juntamente com o cuxita, ainda que este fosse o mensageiro oficial, temos dois mensageiros, “brigando” para ver quem chega primeiro. Algumas comparações úteis entre os dois:

a) Um era o mensageiro oficial, incumbido para tal ofício, e o outro ainda que rejeitado para tal fim quis tomar para si essa tarefa.


b) O cusita tomou o caminho mais curto, mas que passava pela colina e pelo vale; o caminho da planície, tomado por Aimaás, corria ao longo do leito do Rio Jordão e podia ser rapidamente vencido.

c) Ambos andavam sozinhos. Isto era indício de que uma boa notícia estava a caminho, pois se houvesse alguma derrota bandos esfarrapados estariam correndo desordenadamente. As aparências enganam.

d) Um era simples, humilde e desconhecido. O outro era mais ilustre, filho de sacerdote, onde até o seu passo era característico.

e) Um, ainda que tenha tomado a frente, entregou a mensagem pela metade, omitindo fatos importantes a Davi. O outro, embora tenha chegado posteriormente, entregou a mensagem na íntegra.

Algumas pessoas são semelhantes a Aimaás porque estão sempre prontas para contar algo a respeito de alguém. São ávidas para trazerem as "últimas notícias", e infelizmente, parece que até sentem certo tipo de prazer em contar más notícias. 

Talvez sintam algum tipo de compensação interior, uma justificação para com suas próprias mentes do tipo: “tem sempre alguém pior do que eu”, ou “eu não sou tão mau assim”. Mas quando chega na hora de falar com seriedade e responsabilidade, quando indagados acerca de algo que possa lhe comprometer, eles titubeiam e covardemente se retraem porque não tem base em seus argumentos, e mentem descaradamente. “Bem, mas, eu acho...” 

Aimaás se acovardou e foi envergonhado diante do rei porque chegou na frente do mensageiro enviado por Joabe e não deu a notícia verdadeira. “Põe-te ao lado e espera...” disse-lhe o rei (vs. 30). Geralmente os "faladores de plantão" acabam envergonhados diante de suas ações, que muitas vezes envolvem até mentiras. 

Não sejamos como Aimaás. A Bíblia nos manda ser tardios no falar (Tg 1:19) e a perfeição humana aos olhos do Senhor consiste, entre outra coisas, em saber controlar a própria língua (Tiago 3:2). Sejamos sábios no falar, para que a nossa palavra seja sempre abençoadora. 

E que jamais sejamos dominados pelo espírito da maledicência e da fofoca que tanto destrói e espalha contendas, separando os irmãos. Quem assim se comporta desagrada a Deus e se torna abominável perante Ele (Pv 6:16-19).

Que a nossa palavra seja sempre “temperada com sal”, ou seja, com sabor, agradável (Cl 4:6). Mas se for muito salgada tornar-se-á insuportável, saibamos pois, usar da medida correta para cada situação.

Não adianta corrermos adiante de Deus; se não temos uma mensagem adequada, devemos nos preparar adequadamente para tal incumbência.

Não podemos ser mensageiros sem mensagem. Devemos ter uma mensagem conveniente para aqueles que nos cercam.

Da parte de quem recebe as notícias, a alegria da notícia recebida pela vitória de Cristo sobre a morte não pode ser suplantada pela “tristeza” pela notícia da morte do “velho homem” morto neste combate. Pode nos ser como um filho mui querido, mas com o propósito maligno de nos matar e nos afastar de Jerusalém.

Que Deus nos ajude a esperar o tempo certo para por Ele sermos poderosamente usados em suas mãos. Amém!

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