Fraco como Paulo ou como Sansão?

10 Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte.
II Corintios 12:10


‘Quando sou fraco, então sou forte” – disse o Apóstolo Paulo. Nosso texto não está tão somente inscrito na Bíblia, mas nas vidas dos santos. Embora não sejamos apóstolos e jamais possamos alegar possuir a inspiração de Paulo, é verdade que neste aspecto particular estamos tão instruídos quanto ele, pois temos aprendido por experiência que "quando sou fraco, então sou forte." Esta frase se transformou num provérbio cristão; é um paradoxo que já não deixa perplexo a nenhum filho de Deus; é, ao mesmo tempo, uma advertência e um consolo que exorta aos fortes a considerar a fraqueza do poder, e apresenta ante os fracos o poder da fraqueza.

Fique entendido, desde o início, que NOSSO TEXTO NÃO É CERTO EM TODOS OS SENTIDOS EM QUE PODERIA SER LIDO. Alguns irmãos são fracos enfaticamente e sempre; mas nunca descobri que foram fortes, exceto no sentido de ser teimosos e obstinados. Se a teimosia é poder, são campeões; e se a presunção é força, são gigantes; todavia não são fortes em nenhum outro aspecto.

Muitos são fracos, mas não fortes. Ao nos referirmos a eles, temos de alterar o texto: "Quando são fracos, são a fraqueza mesma." Há um tipo de fraqueza que convém temermos, a qual pode introduzir-se insensivelmente entre nós; no entanto não vem acompanhada de poder, nem de honra, nem de virtude; é um mal, somente um mal, e o é continuamente. É seguida de incapacidade para o serviço nas coisas santas, e de falta de eficácia; e a menos que a graça divina impeça a calamidade, nascerá dela o fracasso do caráter e a derrota na vida. Que nunca cheguemos a conhecer a fraqueza de Sansão após ter revelado o seu segredo e perdido o vigor! Ele não podia dizer: "quando sou fraco, então sou forte", pois ao ouvir: "Sansão, os filisteus vêm sobre ti", já não conseguiu feri-los; não tinha mais força para proteger-se nem guardar os seus olhos e alcançar a própria liberdade. Cego, trabalha penosamente no moinho; o herói de Israel se transformara em escravo dos incircuncisos. Sem dúvida, assim foi, e algo semelhante pode ocorrer conosco. "Exulta, faia, porque o cedro caiu!" Irmãos, é preciso que lutemos contra toda a fraqueza que leve ao pecado, caso que alguma Dalila seja também nossa destruição. Os longos cabelos de Sansão denotavam sua consagração, e se alguma vez chegamos a ser fracos por falta de consagração, esta fraqueza será fatal para o verdadeiro serviço. Se o que tinha "nada em si e tudo em Deus" descer até desejar "algo do eu e algo de Deus", sua condição é deplorável. Depois de haver vivido para ganhar almas, se agora vive para juntar prata e ouro, seu dinheiro perecerá com ele; se o que foi famoso por sua devoção ao Senhor se tornar senhor de si mesmo, será infame; pois estou convicto de que, embora não façamos nada de mal aos olhos dos homens, é grande mal decair de servir a Deus de todo o coração. Isso é o que faz rir aos demônios e aos anjos admirar-se: um homem de Deus vivendo como um homem do mundo! Até mesmo o Senhor se detém a perguntar: "Que fazes aqui, Elias?" Os santos e os zelosos se afligem quando observam um ministro de Cristo ministrado a sua própria ambição. Só somos fortes à proporção que nossa consagração seja perfeita. A menos que vivamos inteiramente para Deus, nossa fortaleza sofrerá grandes perdas, e nossa fraqueza será do tipo que degrada o crente até o ponto de os ímpios perguntarem com desprezo: "Você também é fraco como nós? Ficou semelhante a nós?"

Amigos, há outro sentido em que jamais devemos nos tornar fracos: em nossa comunhão com Deus. Davi descuidou da sua comunhão com Deus, e Satanás o venceu por meio de Batseba; Pedro seguiu a Jesus de longe, e logo negou a seu Senhor. A comunhão com Deus é o braço direito da nossa força, e, se se rompe, somos como água. Sem Deus, nada podemos fazer; e nos arruinamos em proporção ao nosso intento de viver sem Ele. Coisa lastimável que o homem que contemplou o rosto do Forte e se fez poderoso, pudesse esquecer de onde vem sua grande potência e assim ficar enfermo e enfraquecido! O que interrompe suas visitas à sala do banquete da comunhão santificada estará desnutrido e terá de exclamar: "Que fraqueza!" O que não anda com o Amado logo será um Mefibosete nos pés e um Bartimeu nos olhos; tímido no coração e trêmulo nos joelhos. Se somos débeis na comunhão com Deus, nos tornamos fracos em tudo.

Há outro tipo de fraqueza que jamais devemos cultivar, a qual parece estar muito em moda atualmente: a fraqueza da fé. Isso porque quando sou fraco na fé, não sou forte no Senhor. Quando alguém duvida de seu Deus, delibita-se. Alguns julgam as pessoas cheias de incredulidade e desconfiança como possuidores de profunda experiência, porém a incredulidade nunca pode ser considerada como condição à eminência em santidade. A fé é a nossa arma de guerra; ai do guerreiro que a esquece! Portanto, procuremos discernir entre fraqueza e fraqueza; a fraqueza que é sinal de poder e a fraqueza na fé, pois esta é indicação de decadência espiritual.

Oxalá jamais sejamos fracos no amor, e sim, à semelhança de Basílio, possamos nos tornar "colunas de fogo". O amor é o maior poder que o peito humano pode abrigar. Não devo comparar o amor com outras virtudes, de modo a vir depreciar qualquer delas; mas de todas as forças ativas o amor é a mais potente, pois mesmo a fé opera pelo amor. A fé não vence os corações humanos para levá-los a Jesus até que use essa maravilhosa arma, e então amorosamente os conduz a Cristo. Quanto necessitamos de amor intenso, amor que seja pura chama ardente e consumidor! Que tão sagrado fogo arda no íntimo de nosso ser! Que amemos a Deus intensamente e à nossa congregação por amor dEle! Irmãos, sejam fortes nisso. Podem estar certos de que se deixarem de amar à congregação à qual pregam e à verdade que foram ordenados proclamar, o estado da igreja será como um porta-bandeira derrotado.

Desejamos — e com que anelo! — ser libertos de toda fraqueza da vida espiritual. Desejamos deixar para trás a fraqueza natural em nós, como recém-nascidos em Cristo, para que possamos ser jovens fortes; ainda mais, necessitamos ser homens maduros em Cristo Jesus, "fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder". Se somos fracos neste aspecto, em nada seremos fortes. Como ministros, deveríamos cobiçar toda a fortaleza espiritual que Deus está disposto a outorgar. Tomara que o Santo Espírito que habita em nós nada encontre que O impeça ou diminua Suas influências! Oxalá se manifestasse tanto a plenitude da divindade do Espírito bendito em nossos corpos mortais à semelhança de como agiu na segunda pessoa da Trindade no passado! Quisera que nossa natureza, como a sarça de Horebe, ardesse plenamente com a presença de Deus. Não importa que a sarça seja consumida; é bom ser consumido se o Espírito mora em nós e manifesta o Seu poder.

Como vêem, há sentidos em que contradizemos diretamente ao texto, e com isso destruímos seu verdadeiro significado. Se fosse certo que todos os que são fracos são fortes, poderíamos achar diretamente um ministério vigoroso invadindo os hospitais, alistando um exército em nossos manicômios e convocando a todos que têm deficiência mental. Não, não é dado aos tímidos e aos incrédulos, aos néscios e aos frívolos, pretender que sua fraqueza mental, moral e espiritual seja uma plataforma adequada para a revelação do poder divino.

Charles Spurgeon


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