Onfalologia Cristã: A Arte de Cultuar o Próprio Umbigo



Se há uma ciência que merece destaque nos círculos cristãos contemporâneos, esta é, sem dúvida, a Onfalologia Cristã, isto é, o nobre e inquestionável estudo do próprio umbigo. Afinal, quem precisa olhar para Deus ou para o próximo quando há um universo tão vasto e complexo bem no centro de nosso abdômen espiritual? A prática da onfalologia tem crescido exponencialmente entre aqueles que, de maneira piedosa, colocam sua própria importância no trono do coração, garantindo que a humildade permaneça um conceito teológico distante, quase mítico.

Os adeptos dessa magnífica disciplina possuem algumas características inconfundíveis. Primeiro, sua devoção ao espelho interior é inabalável. A cada reflexão bíblica, conseguem extrair uma aplicação centrada exclusivamente neles mesmos. O Salmo 23? Evidentemente, trata-se de uma exaltação pessoal à sua caminhada triunfal. O Sermão do Monte? Claramente, uma descrição do quão superiores são aqueles que já alcançaram a iluminação sobre os demais mortais que ainda rastejam na insignificância.

Outro princípio fundamental da Onfalologia Cristã é a arte do "humilde orgulhoso". Consiste em expressar declarações de extrema humildade, cuidadosamente projetadas para destacar a superioridade moral do praticante. "Irmão, eu sou apenas um servo, mas veja só como Deus tem me usado poderosamente!" – um clássico exemplo de modéstia calibrada para o máximo reconhecimento público.

Além disso, há a venerável prática da indignação seletiva. Onfalólogos exímios sabem identificar prontamente os pecados e falhas dos outros, demonstrando santa ira diante das imperfeições alheias, enquanto habilmente reinterpretam seus próprios deslizes como meras provações divinas ou, melhor ainda, testes para que os demais possam aprender a lidar com a inveja.

Mas, talvez, o ápice da onfalologia esteja na convicção inabalável de que a igreja, o culto e até mesmo o próprio Deus devem estar, de alguma forma, alinhados com suas preferências. Se o sermão não agrada, o pregador claramente carece de unção. Se a música não emociona, o louvor perdeu sua essência. Se a doutrina desafia, é porque a interpretação precisa ser adaptada à inquestionável experiência pessoal do verdadeiro crente onfalológico.

O problema da Onfalologia Cristã é que, embora pareça confortável e até reconfortante em sua lógica centrada no ego, ela inevitavelmente nos distancia do real chamado do Evangelho. Cristo não veio ao mundo para ampliar nosso reflexo no espelho, mas para nos levar a olhar para Ele e para aqueles ao nosso redor. A cruz não é um pedestal para nossa autopromoção, mas um lembrete de que o verdadeiro caminho é o da negação de si mesmo.

Portanto, aos estudantes devotos dessa magnífica ciência do orgulho disfarçado de piedade, um humilde lembrete: talvez, só talvez, seja hora de levantar os olhos do umbigo e contemplar a face daquele que realmente merece a nossa atenção.

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