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Sangue no Velho e Novo Testamentos

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O sangue ocupa lugar central nas Escrituras e, para o cristianismo, ele atinge seu clímax na cruz de Cristo. No Antigo Testamento, especialmente em Levítico, Deus ordenou sacrifícios de animais, com derramamento de sangue, como meio de expiação pelos pecados do povo (Lv 17:11). Esses rituais apontavam para algo maior: o sacrifício perfeito que viria em Jesus, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Com a destruição do Templo em Jerusalém, os sacrifícios prescritos na Lei deixaram de ser realizados, e o judaísmo desenvolveu práticas de expiação centradas no arrependimento, na oração e em atos de justiça. Já o cristianismo vê na morte e ressurreição de Cristo o cumprimento e a substituição definitiva de todo o sistema sacrificial. Para os cristãos, o sangue de Jesus inaugurou a Nova Aliança (Mt 26:28), purificando a consciência e abrindo acesso direto a Deus (Hb 9:13-14; 10:19-22). Enquanto a Lei de Moisés exigia repetidos sacrifícios para purificar cerimonialmente o povo, o evangelho proclama q...

O Desafio de Discernir o Tempo: Entre Aparecer e se Esconder

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  Ao final de um discipulado em grupo sobre os princípios bíblicos extraídos da multiplicação dos pães e peixes, fui desafiado a refletir sobre qual dos ensinamentos mais mexeu comigo. O convite era simples, mas profundo: compartilhar, em um artigo, o princípio que mais exige de mim enquanto discípulo de Cristo. Escolhi confessar que o maior dos meus desafios é o décimo princípio:  discernir a hora de aparecer e de se esconder , saber quando falar e calar, parar ou continuar. O Contexto do Discipulado Durante nossa jornada em grupo, mergulhamos em temas fundamentais: liderança servidora, fé na soberania de Deus, generosidade, organização, responsabilidade, entre outros. Cada princípio foi debatido com entusiasmo, conectado a experiências pessoais e, ao final, cada participante recebeu a tarefa de identificar o aspecto mais desafiador para si mesmo. Enquanto muitos destacaram questões ligadas à confiança ou à partilha, para mim ficou claro que meu maior campo de batalha está no...

Entendendo Deuteronômio

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Este é um tema essencial para uma compreensão sólida da Bíblia: entender Deuteronômio em seus próprios termos, sem impor leituras harmonizadoras que vêm da tradição posterior . Essa reflexão resgata uma visão tradicional, valorizando o texto em seu contexto original e seu modo clássico de transmissão. 1. O nome e o conceito tradicional: Deuteronômio como "Repetição da Lei" (Mishnê Torá) O nome “Deuteronômio” vem do grego e significa “segunda lei” ou “repetição da lei”. Em hebraico, o livro é chamado Devarim (“palavras”), o que destaca que é uma coletânea de discursos de Moisés. Tradicionalmente, entende-se que Moisés está repetindo e explicando as leis já dadas no Sinai, antes da entrada em Canaã, uma espécie de revisão para o povo. 2. O livro, porém, apresenta-se de forma diferente Deuteronômio não se apresenta como uma repetição nem como uma revisão. Pelo próprio texto, especialmente em Deut 5:1–6:1, Moisés transmite todas as leis que recebeu em Horebe (...

Quando o Oleiro nos Amassa: O Propósito da Provação

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  Uma uva amassada se transforma em vinho. A azeitona amassada produz óleo. O trigo amassado vira pão. A rosa amassada exala perfume. Mas o joio, quando amassado, libera veneno.Assim também acontece conosco diante das provações. Quando Deus, o Oleiro, nos coloca em Seu torno e nos aperta com Suas mãos firmes, Ele não está nos destruindo, mas moldando-nos para um propósito maior. O amassar revela a essência. A pressão mostra o que está escondido. E a pergunta inevitável é: o que tem saído de nós quando somos pressionados? Perfume que alegra? Alimento que sustenta? Óleo que cura? Ou veneno que mata? O Senhor deseja nos reconstruir, mas isso exige rendição. Às vezes, o coração leva tempo para aceitar o que a mente já compreendeu. Sabemos, intelectualmente, que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28), mas sentir paz no meio do processo é outra história. O amassar dói, mas é nesse momento que Ele separa impurezas, fortalece o caráter e nos prepar...

Hebraico Biblico: Ayeka, a Mais Terna Pergunta do Senhor

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Desde os primórdios da revelação divina, o livro de Gênesis nos apresenta um relato que atravessa os séculos com poder espiritual e teológico: o momento em que o ser humano desobedece ao seu Criador. O chamado “pecado original” não foi apenas um ato de rebeldia, mas o rompimento de uma aliança relacional profunda entre Deus e o homem. Quando tudo se quebrou Depois que Eva, seduzida pela astúcia da serpente, e Adão, por livre vontade, comem do fruto proibido, a narrativa nos conduz ao clímax da vergonha e do medo. As folhas costuradas, o esconderijo entre as árvores e o silêncio que se instaura no jardim revelam muito mais do que culpa — expressam a perda de comunhão, o distanciamento de quem, antes, ouvia os passos do Senhor e se alegrava. Contudo, o que Deus faz diante dessa rebelião? A pergunta que ecoa através dos tempos O versículo de Gênesis 3:9 nos diz: “E chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?” (ARC) Este versículo, no hebraico original, carrega um ...

A Modéstia Bíblica: A Graça de Viver Fora do Palco

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  Desde os primeiros capítulos das Escrituras, a espiritualidade verdadeira nunca esteve ligada à exibição ou à conquista de espaço. A narrativa bíblica revela um Deus que se aproxima de homens e mulheres comuns, não para torná-los celebridades espirituais, mas para formar neles um caráter moldado pela obediência, pelo temor e pela reverência. A modéstia, nesse contexto, não é uma qualidade periférica ou estética — é o próprio perfume de uma vida escondida em Deus. A modéstia bíblica é uma virtude silenciosa, mas profundamente ativa. Ela não se impõe, mas se oferece. Não grita, mas sustenta. Trata-se de uma disposição interior que brota de um coração alinhado ao Senhor, que reconhece que tudo vem d’Ele e para Ele deve retornar. Em um mundo que encoraja a autopromoção, a modéstia é um sinal de sabedoria: ela sabe esperar, sabe calar, sabe recuar quando necessário. Não por fraqueza, mas por força controlada. Quando lemos sobre mulheres como Sara, Rute ou Maria, a mãe de Jesus, enco...

Raízes Hebraicas da Fé Cristã

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A fé cristã não surgiu no vazio nem é fruto apenas de uma experiência pessoal isolada. Ela tem profundas raízes históricas e espirituais que remontam ao povo de Israel, aos textos sagrados do Antigo Testamento, aos idiomas originais e às festas que moldaram a vida e a esperança do povo escolhido por Deus. Entender essas raízes é fundamental para qualquer cristão que deseja viver uma fé sólida, enraizada e madura. Pensando nisso, o plano bíblico “Raízes Hebraicas da Fé Cristã” propõe uma jornada de 30 dias para mergulhar na rica herança judaico-cristã, mostrando a conexão vital entre o Antigo e o Novo Testamento e o cumprimento em Jesus, o Messias prometido. Este plano não é apenas um estudo acadêmico, mas um convite à transformação pessoal e comunitária, apoiado na fidelidade histórica e espiritual do Deus da aliança. A importância de conhecer as raízes Hoje, muitas vezes, o cristianismo é interpretado por meio de lentes culturais e teológicas modernas que tendem a apagar ou minimi...